A Ufal e a violência que aterroriza Alagoas
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Por Welton Roberto – blog Cada Minuto
Professor da Faculdade de Direito/Ufal
O debate sobre a violência no campus da Ufal deve ser encarado com mais sobriedade e mais seriedade por parcela dos membros da comunidade acadêmica e por setores da sociedade que não enxergam o óbvio: a Ufal é mais uma vítima da criminalidade que aterroriza nossa sobrevivência em Alagoas.
A realidade nua e crua é uma só: vivemos no estado mais violento do país. Neste contexto, o campus A. C. Simões não passaria incólume.
É claro que os reflexos do exterior (da realidade atrás de um murou ou de uma cerca) impactariam seu cotidiano.
Atribuir os crimes vivenciados no campus à falta de ação da reitoria é atitude, no mínimo, embasada em um vexatório e comprometedor senso comum, que amesquinha o debate e se torna inadmissível quando parte de quem vive o cotidiano do campus (mas que pode render votos de incautos e inconscientes em período de eleição para a vaga de reitor. Incautos e inconscientes que de tempos em tempos servem de massa de manobra no xadrez da política universitária alagoana... lembram do movimento contra o Reuni????).
Vamos deixar claro: A Ufal tem e deve ter compromisso com ensino, pesquisa e extensão.
No campo da extensão, a Universidade até pode e deve realizar atividades com as comunidades carentes de seu entorno.
Mas afirmo, com ênfase: a Ufal não é a secretaria de Assistência Social.
Esta atribuição é do Governo do Estado e da Prefeitura de Maceió, primeiramente.
Se nem Governo, nem Prefeitura, atuam para minimizar a total carência das comunidades paupérrimas, miseráveis e vulneráveis ao crime situadas na região, não é obrigação primeira da Ufal fazê-lo.
E olha que, mesmo assim, há projetos da Universidade em desenvolvimento nestas localidades.
Mais ainda: a Ufal já investe muito de seu orçamento em segurança, está atenta ao tema, jamais o desconsiderou ou o diminuiu. Haja vista a parafernália de câmeras de monitoramento, seguranças motorizados, cancelas e grades que povoam aqueles espaços de saber.
Por isso, digo com assertividade: a Ufal não é a secretaria de Defesa Social.
Defender o cidadão e resguardá-lo diante de assaltantes, assassinos, estupradores e criminosos de toda a ordem é dever primeiro do Governo do Estado por meio de suas polícias.
Não cabe à Ufal montar batalhão, milícia, exército, serviço secreto, tropa de elite ou similares a fim de proteger seus estudantes e seus servidores, técnicos e docentes. Cabe às polícias atuantes em Alagoas esta missão.
A Universidade já é obrigada a gastar com segurança privada, medida necessária, mas que é um desvirtuamento das funções de uma unidade de ensino superior. Isto porque os recursos da Ufal deveriam ser investidos em, repito, ensino, pesquisa e extensão.
Cada vigia e cada cadeado representa menos um equipamento em laboratório, menos um livro na biblioteca...
Não coloquemos mais este fardo nas costas do MEC.
Outra verdade que precisa ser dita: as comunidades carentes do entorno do campus, dos conjuntos Gama Lins, Denisson Menezes e similares, são igualmente vítimas da violência que amedronta nossas existências alagoanas.
Estas comunidades, formadas em sua grande maioria por pais e mães de família honestos, trabalhadores e de baixa renda, são obrigadas a circular dentro do campus.
E por que?
Porque dentro do campus da Ufal há transporte coletivo e porque lá dentro do campus há muito mais segurança do que fora dele.
Há anos a Prefeitura de Maceió prometeu oficialmente fazer o corredor de ônibus para servir quem mora atrás do campus universitário. Porém até hoje, como as 12 promessas mirabolantes da campanha de 2004 (lembram, o “Muda Maceióóóóóóóó!!! do eixo viário, do pólo de turismo integrado, do Salgadinho tal qual o Rio Sena parisiense...), este corredor jamais saiu do papel.
Os estudantes têm razão em reivindicar. A Universidade precisa ofertar respostas.
Mas o mais sensato, inteligente, honesto e justo seria não parar a passeata no gabinete da reitora.
Mais sensato, inteligente, honesto e justo seria convidá-la e de mãos dadas com ela continuar a manifestação até a porta da Prefeitura, em Jaraguá, e até a porta do Palácio República dos Palmares, no Centro.
Como professor da Ufal e como cidadão, eu “pintaria a cara” e entraria neste protesto.
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