Dirceu Lindoso é o mais novo Doutor Honoris Causa da Ufal

Homenagens acadêmica e política marcaram a solenidade que outorgou o título de Doutor Honoris Causa ao jornalista, tradutor, poeta, romancista, antropólogo, etnólogo e historiador alagoano Dirceu Acioli Lindoso. O título foi solicitado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) e aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário. A sessão solene na sexta-feira, 25 de março, no Espaço Cultural, foi presidida pela reitora Ana Dayse Dorea. O momento artístico-cultural ficou a cargo do Corufal e do jovem pianista Eric John, do curso de Música e integrante da Orquestra de Câmara da Universidade Federal de Alagoas.


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Dirceu Lindoso é conduzido pelos membros do Consuni
Dirceu Lindoso é conduzido pelos membros do Consuni

Diana Monteiro – jornalista

“Homem de palavras e de ação. Qualidade de ser humilde em sentido pleno e qualidade de ser generoso em amplitude e doação. Profundo conhecedor, desbravador e disseminador da cultura e do pensar sobre Alagoas, sobre nossa gente, sobre nossa aura. Este é o Doutor Dirceu Lindoso que temos a honra de homenagear. Ao completar 50 anos, a Ufal reverencia seu passado com olhos voltados para o futuro”, destacou a reitora Ana Dayse ao homenagear o alagoano de Maragogi,  Dirceu Lindoso.

Retratando rapidamente a trajetória de Dirceu, a reitora Ana Dayse citou uma famosa frase do homenageado, “Alagoas é aquilo que se ama, e aquilo que se dói”, e frisou o brilhantismo dele ao narrar, através de algumas obras, parcela da história do nosso Estado em lembranças dos engenhos do litoral norte alagoano, ou sobre a Guerra dos Cabanos , Quilombo dos Palmares, ou sobre Zumbi e Ganga Zumba.

“Nesta data, por meio desta titulação, não só a Universidade Federal de Alagoas, como toda a sociedade alagoana fazem justiça. Justiça porque há muito que o nome de Dirceu Lindoso está inscrito no panteão de nossos homens e mulheres de saber. A oferta deste título também é um gesto de reparação que o Estado Brasileiro realiza”, frisou Ana Dayse.

Ainda destacando a realidade dura e desumana do cárcere e da prisão de Dirceu nos tempos da ditadura militar, Ana Dayse fez um pedido de desculpas ao homenageado: “Eu, como reitora de uma Universidade Federal, em nome do Estado Brasileiro peço desculpas pelas atrocidades que nossa ditadura militar cometeu contra sua integridade física. Atrocidades e privações que em nada comprometeram sua integridade moral. Por isso o senhor é ainda maior”, destacou a reitora.

Homenagem política

O jornalista Anivaldo de Miranda, representando o Diretório Nacional do Partido Popular Socialista (PPS), do qual Dirceu Lindoso é presidente de honra no Estado, enfatizou a trajetória política do homenageado como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), desde sua prisão em Alagoas, em 1964, ao seu exílio no Rio de Janeiro. “Sem dúvida estamos todos vivenciando hoje um dia muito especial. O dia em que o povo de Alagoas começa a saldar uma grande dívida de gratidão. E o que é mais importante: é que começa a saldar essa dívida pela maneira mais apropriada e através do conduto mais legítimo para fazê-lo”, destacando a iniciativa da Ufal em outorgar o título a Dirceu.

Anivaldo complementou dizendo que mesmo Dirceu Lindoso mantendo-se clandestino como membro do Comitê Central do PCB até os anos da anistia política, ele combinou a condição de resistente político, cheia de riscos e enormes tensões pessoais, com suas atividades profissionais de professor da Universidade Gama Filho e colaborador do Museu Nacional e do Museu Imperial de Petrópolis. “O melhor de tudo é que essa circunstância dolorosa do exílio, do isolamento forçado, da desestabilização da vida pessoal, das perseguições políticas não contaminaram a obra nem a pessoa de Dirceu com amarguras e rancores”, enfatizou o jornalista.

Homenagem acadêmica

O professor Bruno Cesar Cavalcanti representou o Instituto de Ciências Sociais na homenagem a Dirceu Lindoso destacando o merecimento do título doutoral ao ilustre alagoano. “Sua obra e vida são dignas de ser recontadas inúmeras vezes, e de ser descobertas pelos que ainda a desconhecem. Uma história comprometida sob diferentes escalas com Alagoas, com a vida intelectual e social. Hoje, estamos reunidos não apenas para afirmar, mas para formalizar o reconhecimento institucional sobre uma trajetória individual relevante para a universidade brasileira e para o Estado de Alagoas”, enfatizou.

Enfocando a trajetória de vida de Dirceu Lindoso, principalmente no mundo acadêmico, Bruno Cesar disse que se na prática da política partidária o homenageado esteve inequivocadamente alinhado, na prática do conhecimento, da pesquisa e da reflexão, jamais se posicionou de modo conservador ou desdenhoso com os diferentes sistemas de ideias. “Essa é, aliás, uma característica do legítimo espírito científico que o caracteriza, e que precisa ser levado em conta para evitar-se a compreensão reducionista de suas contribuições”, frisou o professor.

Emocionado, Dirceu Lindoso fez um agradecimento especial ao Instituto de Ciências Sociais pela homenagem recebida, falando rapidamente sobre o tempo de estudante na Faculdade de Direito de Alagoas, onde concluiu em 1958, o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais. Uma das seis faculdades que originaram a Universidade Federal de Alagoas, em 25 de janeiro de 1965. “Eu hoje estou de pé aqui diante de vocês todos, meus amigos, eu que vi, quando estudava na velha Faculdade de Direito, esta Universidade surgir, pequenina, mas resoluta, e com um desejo enorme de crescer. Conheço seus primeiros passos e dificuldades. Vi seus alicerces serem construídos a partir de um chão de matas”, frisou Dirceu.

Ele ressaltou especificamente a importância de um Instituto de Ciências Sociais de uma Universidade, por ser plural, pela pluralidade da história brasileira como povo e da Cultura como nação. “Nossa Alagoas também é plural. Racialmente plural, etnicamente plural, socialmente plural. Intelectualmente plural. Nós alagoanos amamos também as diferenças, as nossas e as dos outros. De hoje em diante serei parte espiritual dessa  Universidade. Muito obrigado por me ter acolhido. Muito obrigado por me ter aqui. Eu sou apenas aquele que chegou depois. Eu sou apenas aquele que veio para ficar, com minhas semelhanças humanas e com minhas diferenças culturais. Eu sou apenas aquele que veio das fronteiras pernambucanas carregando nas costas uma pesada herança de diferenças culturais. Eu sou aquele que veio, e está entre vocês. Muito obrigado a todos vocês”, disse Dirceu Lindoso.

Além de representantes da comunidade acadêmica, do poder público e familiares do homenageado, a solenidade contou com a participação dos professores Otávio Velho, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Moacir Palmeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles foram conferencistas do seminário promovido pelo ICS, no dia 25 de março, tendo como foco a obra de Dirceu Lindoso, onde também houve o lançamento do livro “A Razão Quilombola”, uma coletânea organizada pelo professor Bruno Cavalcanti, editado pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal).