Enfermagem ensina familiares a cuidar de pacientes terminais

O diagnóstico de um tumor maligno gerado pela multiplicação de células de um órgão, ou de um tecido, torna oficial a luta contra um câncer. Constatada a doença, tem que se levar em conta seu estágio para decidir de qual maneira ela será tratada. A professora Maria Cristina Soares que ministra na Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar), da Universidade Federal de Alagoas a disciplina “Saúde da Mulher”, explica que quando um enfermo não se encaixa mais em possibilidade terapêutica com objetivo de cura, entra em ação um tipo de tratamento denominado de Cuidados Paliativos.


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Roberta Batista – estudante de Jornalismo

Maria Cristina Soares é também enfermeira obstétrica e coordena desde 2008 o Projeto de Extensão denominado de Cuidação, que tem como objetivo orientar quais os cuidados que a família deve ter em casa com um paciente em fase terminal de câncer. Em quase três anos de atuação, cerca de 50 pacientes em sua maioria, oriundos do Sistema Único de Saúde (Sus), foram atendidos pelo projeto. Participam da ação de extensão professores e seis alunos do Curso de Enfermagem, além de profissionais do Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), do Hospital Universitário.

A coordenadora disse que a ideia inicial era criar um grupo de troca entre cuidadores, que viriam à Ufal para trocar experiências e para receber parte das orientações. As demais recomendações seriam ministradas na casa do doente. Os integrantes do projeto explicam, que, muitas vezes, os cuidadores não têm com quem deixar o doente. “Daí se explica o porquê de só ter vigorado a parte em que eles recebem as orientações em casa e  que na maioria dos casos só há um cuidador. O resto da família só ajuda. Os auxiliadores geralmente são mulheres, filhas, mas toda a família recebe ajuda do Cuidação”, frisa Maria Cristina.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Cuidados Paliativos consistem em assistência promovida por uma equipe multiprofissional, que tem como finalidade proporcionar melhorias na qualidade de vida de pacientes terminais e seus familiares. A assistência é composta por prevenção, alívio do sofrimento e tratamento de dor e outros sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.

Reforçando as ações do projeto, a professora Maria Cristina diz o quanto é importante para o paciente ser cuidado pela família em seu próprio ambiente domiciliar, até porque os hospitais públicos de saúde no caso de Alagoas enfrentam várias dificuldades, como a falta de vagas, que significa falta de leitos. Essa realidade também atinge a rede particular de saúde.

 “Mesmo reconhecendo que a casa é o melhor lugar para um paciente terminal de câncer ficar, porque lá ele tem a família e seus objetos, e no hospital ele se sente afastado de seu ambiente, seus familiares necessitam de suporte para os cuidados necessários. A família não se importa de cuidar do paciente, mas precisa de apoio”, afirma Maria Cristina.

Projeto Cuidação

Explicando o projeto Cuidação, a coordenadora Maria Cristina Soares informa que o Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), do Hospital Universitário, através do Ambulatório de Cuidados Paliativos, atua fazendo o encaminhamento dos pacientes para o projeto. “São encaminhados os pacientes que receberam diagnósticos quando a doença já não pode ser curada, ou os pacientes que passaram por tratamentos, como quimioterapia, radioterapia ou cirurgia, e não obtiveram êxito. A capacitação aos cuidadores tem início com a entrada da família no Cuidação e termina quando o paciente morre”, diz a professora.

É disponibilizado para a família o Manual da Família Cuidadora, além de folders com todas as instruções. Desde os cuidados com o enfermo acamado, o ambiente acamado até a forma e horários para utilizar a medicação determinada. O material de orientação foi confeccionado pela equipe do projeto que elaborou recentemente o Manual do Estudante Cuidador.  “Nós somos uma sementinha para a implantação de um serviço de suporte oncológico para pacientes no domicílio e nenhum Cacon em Alagoas tem um serviço assim. Esse serviço é composto por visitas semanais pela equipe multidisciplinar”, declara a enfermeira.

SOS Cuidação

Uma das ações do projeto é denominada de SOS Cuidação. Trata-se de dois números de telefone através do qual qualquer pessoa pode entrar em contato com os membros do Cuidação para tirar dúvidas e receber orientações. Os telefones são 8874-2757 e 9985-3589. Um dos integrantes do projeto, Vinícius dos Santos Rodrigues, do 7º período do Curso de Enfermagem, que também atende as ligações telefônicas e visita pacientes em domicílios, considera o projeto bastante interessante. Não só pelo aprendizado que vem recebendo, mas também para aprender como se deve encarar um processo de uma enfermidade que leva à morte, já que abraçou uma profissão da área de saúde.

“Identifico-me muito com o projeto e amo o que faço. Concluindo o curso, pretendo fazer residência no Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, para assim aprofundar o meu conhecimento nessa área”, declara Vinícius. A professora Maria Cristina Soares revela que o maior sonho da equipe é criar uma espécie de chalé ao lado do Cacon, que seria conhecido como Hospice. O local abrigaria doentes que não podem ficar em casa, seja por dificuldade financeira ou pelo estado da doença.