Pesquisa: a estrutura social do crime em Alagoas

Saber quais são os crimes que se repetem em Alagoas e aqueles que já fazem parte da realidade local, em que condições e qual o perfil dos criminosos. Essas são algumas das questões que buscam ser respondidas em uma pesquisa coordenada pela professora Célia Nonata, doutora em História. A mineira, que passou no concurso para docente da Ufal em 2010, trouxe na bagagem o interesse pela história social do crime e a necessidade de analisar melhor os dados, para compreender a escalada de violência que atinge as cidades brasileiras.


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O objetivo da pesquisa é analisar os dados sobre a violência em Alagoas e capacitar melhor os agentes de segurança. Fonte: ihelpweb.com.br
O objetivo da pesquisa é analisar os dados sobre a violência em Alagoas e capacitar melhor os agentes de segurança. Fonte: ihelpweb.com.br

Lenilda Luna - jornalista

“O Grupo de Pesquisa História Social do Crime possui pesquisadores como Francisco Linhares, no Rio Grande do Norte, José Ernesto Pimentel Filho, da Universidade Federal da Paraíba, Marcos Bretas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre outros acadêmicos. Também tem sido importante o apoio da PM pela ação do Coronel Eduardo Lucena integrante do grupo e outros da PM de Alagoas, que estão colaborando com a formação dessa proposta”, ressalta Célia Nonata.

O grupo conta já com 18 pesquisadores e as linhas de pesquisa atuam em áreas direcionadas aos crimes passionais, homicídios, história do sistema penitenciário, crime e literatura, crime e gênero. “O meu primeiro contato foi com a diretora do presídio feminino, depois propusemos à secretaria de Defesa Social um convênio”, explica a professora.

O Convênio entre a Ufal e a Secretaria de Defesa Social visa à implementação de uma Pós-graduação em Análise Criminal e a criação de um Instituto de Pesquisa em Criminalidade e Segurança Pública, para proporcionar a análise de dados sobre a violência nesta região e capacitar melhor os agentes de segurança para combater o crime com o aporte de dados científicos, que facilitem um planejamento mais eficiente das ações. “Não queremos formar mais um contador de dados estatísticos, e sim um analista, que possa aprofundar teoricamente a situação e apontar caminhos para a solução dos problemas”, diz a pesquisadora.

Desde janeiro deste ano, o grupo trabalha sob a orientação de Célia Nonata no mapeamento dos dados do 4º Batalhão da Polícia Militar, analisando os boletins de ocorrência de 2005 a 2010. “Seguimos a metodologia da Escola de Chicago, que surgiu nos Estados Unidos, nos anos 20, e trouxe uma grande contribuição à Sociologia, Psicologia Social e Ciências da Comunicação”, destaca a pesquisadora.

Segundo Célia Nonata, a Escola de Chicago foi inovadora porque levantou a questão do desvio social motivado pelo meio, pela impunidade (a Teoria das Janelas Quebradas) e outras possibilidades para o crime que são analisadas pelo grupo. “Em Chicago, naquele período, culpavam os imigrantes e os crescimento populacional pelo aumento da criminalidade, mas analisando os dados, muitos dos crimes eram resultado da falta de perspectiva de vida para muitos dos que estavam chegando, da pobreza, de zonas sem vigilância policial, da falta de condições sociais como educação e lazer”, explica a professora.

Com a análise dos dados, a Escola de Chicago possibilitou o planejamento não só de ações de policia, mas principalmente de políticas sociais para melhorar a condição de vida dos imigrantes, oferecendo cultura, educação e possibilidades de trabalho. “É dessa forma que se combate a criminalidade a longo prazo. Não adianta ficar construindo mais e mais cadeias, para criminosos cada vez mais jovens”, analisa Célia.

Historiografia Criminal

Célia Nonato destaca que esse não é um trabalho de resultados imediatos, mas de construção de propostas para intervir na realidade social. "Existem hábitos criminais que precisam ser compreendidos em cada comunidade, para entendermos qual é o padrão e como pode ser alterado", explica a pesquisadora.

É comum, na mídia, que os crimes, principalmente envolvendo jovens na região metropolitana de Maceió, sejam relacionados ao consumo e tráfico de drogas. "Não partimos desse pressuposto, mas analisando os boletins de ocorrência, percebemos que existe um padrão de execução sumária que precisa ser investigado, são crimes com características de morte por encomenda", denuncia Célia.

A pesquisadora destaca ainda que existe uma grande quantidade de relatos de crimes privados associados ao consumo de álcool. "Ficamos impressionados como existem casos de espancamentos de mulheres praticados pelos companheiros delas, quando estão alcoolizados. E esses casos são mal relatados nos boletins de ocorrência, como se fossem situações rotineiras, de menor importância, mas é quase uma epidemia", relata a professora.

Engajamento de professores e alunos

Apesar de complexo, o tema proposto pela professora Célia Nonata está atraindo professores e alunos interessados em entender melhor a questão da criminalidade. Um deles é o professor Ricardo Silva, que foi policial civil e passou recentemente no concurso da Ufal para professor do eixo de Educação do Campus do Sertão. "Como tive essa experiência de agente de segurança, para mim será importante aprofundar essa reflexão teórica a partir da realidade com a qual me confrontava diariamente", analisa Ricardo.

Outro entusiasmado com a pesquisa é o aluno Maia Junior, de bacharelado em História. Ele também tem experiência na área de segurança pública porque trabalhou como agente penitenciário. "O que me levou a participar desse grupo foi o interesse em pesquisar sobre a violência no meu Estado, buscar respostas científicas, e com isso poder ajudar a diminuir a criminalidade que está enorme em Alagoas e no Brasil", ressalta ele. O bacharelando também destaca a importância de participar de uma pesquisa empírica, utilizando pela primeira vez no Estado a metodologia da Escola de Chicago. "O bacharel em História vive de pesquisa. Nesse projeto, tenho a oportunidade de exercitar isso", concluiu Maia.

No mês de setembro será realizado em Maceió um Simpósio Internacional em História Social do Crime, com os pesquisadores na área.