O cotidiano dos sertanejos
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Além de abordar as questões mais gerais, que são o eixo da pesquisa, o livro “A economia simbólica da cultura popular sertanejo-nordestina” permite uma aproximação com o ambiente cultural do sertão nordestino. Mesmo com um olhar acadêmico e utilizando as categorias das ciências sociais, o autor descreve de maneira sensível a ansiedade do sertanejo que aguarda no dia 19 de março, dia de São José, a confirmação de que o ano será de fartura. Se não chover até esse dia, “certamente o ano será de grande dificuldade e privação”.
Essa é uma questão tão importante para os sertanejos, que aguardam o retorno do cultivo de milho e feijão, que existem os adivinhadores de chuva. “Senhores e senhoras que, de acordo com a incorporação dos saberes legados pelos pais e parentes, assumiram uma espécie de autoridade meteorológica”. O pesquisador descreve que o Governo do Ceará realizou encontros para proporcionar um diálogo entre estes meteorologistas populares e os cientistas da área.
O professor também mostra como a equiparação salarial da área rural e urbana, nos anos 90, proporcionou às pequenas cidades do sertão, por meio das aposentadorias, contarem com uma economia regular, menos dependente do tempo e da agricultura. A municipalização de recursos federais investidos na educação e saúde também permitiram uma mudança na migração. Ou seja, o sertanejo que fugia da seca rumo aos grandes centros urbanos, começou a encontrar condições para ficar nas cidades de porte médio da região onde vive. A figura do “retirante da seca” também começa a mudar.
A pesquisa
O autor iniciou a pesquisa, que resultou no livro “A economia simbólica da cultura popular sertanejo-nordestina” ainda na graduação em Ciências Sociais, na Universidade Federal da Bahia, entre 1999 a 2002. Logo depois, as reflexões e levantamentos foram aprofundadas durante o mestrado, realizado na Universidade de Brasília, em 2003 e 2004.
A pesquisa ganhou novas proporções durante o doutoramento, também realizado na Universidade de Brasília, de 2005 a 2009. Foram várias etapas, a primeira, realizada durante o ano de 2005, mas já colhendo subsídios da dissertação de mestrado “A configuração moderna do sertão”, foi feita na biblioteca da UnB e em bibliotecas de Brasília,consistiu em um levantamento bibliográfico; a segunda foi realizada, também em Brasília, junto ao Ministério da Cultura, com entrevistas e obtenção de dados secundários; a terceira etapa foi realizada no Rio de Janeiro (2007), junto a instituições que mantém projetos e programas e fomento a produção cultural, como BNDES e Petrobrás, além de Banco do Brasil.
Também no Rio foi realizada pesquisa documental e bibliografia junto ao Museu da Imagem e do Som, na Biblioteca Nacional e na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, além do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, localizado em São Cristóvão. A última etapa foi realizada junto aos Estados nordestinos da Bahia, Ceará e Pernambuco, precisamente através de entrevistas juntos as secretarias de Cultura desses estados, além do Banco do Nordeste e as secretarias e fundações de cultura das cidades de Senhor do Bonfim, na Bahia, Caruaru, em Pernanbuco, e Campina Grande, na Paraíba. “Cada uma dessas etapas da pesquisa cumpre uma função especifica e aparece no desenho final do trabalho e na organização do texto”, concluiu Elder Alves.
O livro “A Economia Simbólica da Cultura Popular Sertanejo-Nordestina” foi lançado pela Edufal, durante as festividades juninas, no Museu Théo Brandão, e pode ser encontrado na livraria da editora, na reitoria da Ufal.