Pesquisa analisa a ação da atmosfera sobre a sociedade

Lenilda Luna – jornalista

Um dos entusiastas desta área é o professor de Biometeorologia da Ufal, José Clênio Ferreira de Oliveira. O pesquisador, que é mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba, organizou pela primeira vez, em 2008, em Alagoas, o seminário Atmosfera e Sociedade, que se transformou em um projeto de Extensão do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal.

O objetivo do seminário foi sistematizar um debate interdisciplinar e multidisciplinar sobre como as variáveis meteorológicas se relacionam com vários outros campos de estudo. “Por exemplo, em Psicologia existe uma disciplina recente, a Psicologia Ambiental, dedicada a observar como o clima influencia no comportamento humano”, explica o professor Clênio. “Algumas pesquisas registraram que na Sibéria, dependendo da mudança dos ventos, aumentava o número de suicídios, inclusive em pessoas que não apresentavam tendência à depressão”, relaciona o professor Clênio.

Influências na saúde e no comportamento

Segundo o pesquisador, essa não é uma questão nova, mas ainda é muito contestada e vista com certo preconceito na acadêmia. Mas existem referências importantes em Biometeorologia, S. W. Tromp, por exemplo, já em 1980, observou que o corpo humano registra estímulos meteorológicos que podem iniciar enfermidades, agravar doenças pré-existentes e até levar à morte.

Atento a esta relação entre clima e doenças, Clênio foi o primeiro meteorologista do Brasil a ter sua dissertação de Mestrado co-orientada por um médico. “O médico Jairo Calado estudou a relação da temperatura, umidade e precipitação pluviométrica com o agravamento de determinadas enfermidades aqui no nordeste”, destacou o pesquisador.

A influência das variáveis atmosféricas podem se dar, na questão da saúde, de forma indireta, estimulando a produção dos vetores, como o mosquito da dengue, que precisa de umidade e calor para se reproduzir, ou quando as cheias aumentam os riscos de contaminação por leptospirose e leishmaniose. Mas algumas doenças são influenciadas diretamente pelo clima, como as crises respiratórias provocadas pela baixa umidade ou baixas temperaturas.

O livro

O primeiro debate organizado sobre Atmosfera e Sociedade na Ufal rendeu um livro, publicado em 2010, com a organização de José Clênio Ferreira de Oliveira, e a colaboração de sete especialistas de várias áreas, entre eles, Edson Leite, arquiteto com doutorado em Climatologia Urbana, Márcia dos Santos Correia, bióloga e pesquisadora em saúde, e Fabiana Carnaúba, agrônoma com mestrado em Meteorologia.

No prefácio assinado pelo historiador Luis Sávio de Almeida, o destaque para a tenacidade do meteorologista. “Na verdade, (Clênio) cumpre o papel do grande entusiasta dos estudos que ligam a meteorologia ao modo de ser e viver a cultura e a sociedade”. Sávio destacou ainda a importância histórica do debate. “O seminário inaugurou uma nova temática no campus, e nenhuma das falas que foi produzida deixou de ponderar essa articulação, sinal de que todas as áreas científicas necessariamente se acercam de uma mesma relação de base: homem e natureza”, registrou o professor Sávio no texto de abertura do livro.

Segundo livro

O II Seminário Atmosfera e Sociedade foi realizado em novembro de 2010, registrando uma participação bem maior de pesquisadores e alunos de diversos cursos. Cumprindo o papel de divulgar os trabalhos de pesquisa e extensão que são realizados em diversas áreas do conhecimento científico relacionados ao clima, os temas em debate foram sistematizados em mais um livro, que será lançado na próxima Bienal.

“Desta vez temos 17 capítulos, abordando várias questões, como por exemplo, a influência do clima no desempenho dos atletas, que é o tema abordado por Arnaldo Tenório da Cunha Júnior, professor de Educação Física do campus Arapiraca.

Outro tema abordado nesta segunda publicação é "A influência de variáveis meteorológicas no comportamento humano", com Jorge Artur Peçanha de Miranda Coelho, professor do curso de Psicologia do campus Maceió, que estuda a ação das variações atmosféricas sobre os fatores comportamentais humanos.

O professor Clênio está organizando mais um seminário Atmosfera e Sociedade, que deve acontecer em agosto deste ano. Desta vez, os debates vão estar relacionados aos impactos socioeconômicos do clima. “Vamos refletir sobre as catástrofes provocadas por tantos acidentes ambientais, como o último tremor de terra, seguido de tsunami, no Japão, e também sobre as enchentes que afetaram o Estado de Alagoas, provocando danos econômicos, sociais e psicológicos”, avisa o pesquisador.

Para saber mais, consulte o site. Veja também a pesquisa sobre as condições térmicas das barracas nos acampamentos de desabrigados.