Pesquisa: Economia e Cultura no Sertão Nordestino
Entender as transformações do sertão nordestino, com suas tradições culturais, que sofreram o impacto da modernização, da industrialização e da globalização das informações, mas mantiveram uma identidade em torno da agricultura e das lutas populares. Definir o que é autêntico na cultura sertaneja diante dessas mudanças e influências político-culturais. Esses são os desafios do cientista social Elder Patrick Maia Alves, no livro “A Economia Simbólica da Cultura Popular Sertanejo-Nordestina”, um resumo da tese de doutorado defendida por ele, em 2009, na Universidade de Brasília (UnB).
- Atualizado em
Lenilda Luna - jornalista
O professor ingressou no Instituto de Ciências Sociais da Ufal em 2008. Ele é de Filadélfia, Bahia, cidade situada na microrregião de Senhor do Bonfim, com pouco mais de 18 mil habitantes e uma economia baseada na produção de feijão. Conhecedor do cotidiano das comunidades que se debruçam sobre a tarefa de cultivar a terra e vender os produtos nas feiras livres da cidade, mas também com acesso ao conhecimento formal construído nas comunidades científicas, o pesquisador se propõe justamente à superar esta dicotomia entre “modernidade” e “tradição”, ou entre “popular” e “erudito”.
Elder Maia integra a linha de pesquisa Cultura, Patrimônio e Memória, do Programa de Pós-graduação em Sociologia, e pertence ao grupo de pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento, que reúne sociólogos de seis instituições universitárias de pesquisa, entre elas a Ufal. Além das atividades na graduação em Ciências Sociais e no mestrado em Sociologia, o professor é um dos editores da revista Latitude, do programa de pós-graduação, e cooredenador do Laboratório de Investigações Sociológicas. O pesquisador também orienta estudantes de graduação e pós, em pesquisas acerca da produção e consumo de bens simbólicos em Alagoas e no Nordeste, sobre as relações entre economia e cultura, políticas culturais e as práticas de entretenimento, lazer, diversão e turismo no Estado de Alagoas e no Nordeste.
Economia e Cultura no Sertão Nordestino
Segundo os pesquisador, em linhas gerais, o trabalho busca investigar sob que condições sociais específicas o valor atribuído às categorias de tradição e “autenticidade” tem se atualizado e se potencializado. “Para responder a tal indagação, o trabalho busca, num primeiro momento, analisar o intenso processo de modernização cultural no Brasil, destacando as relações entre arte, técnica e memória; a partir da qual busca descrever e analisar a formação do estatuto social da pureza em torno da cultura popular sertanejo-nordestina, lançando mão de exemplos como o forró-baião, a literatura de cordel e a literatura dos anos 30, além do Cinema Novo”, explica o professor.
Essas reflexões aparecem no primeiro capítulo e servem de plataforma teórico-empírica para os três capítulos seguintes. “O segundo capítulo do livro busca mostrar como, a partir dos anos sessenta, o tema da produção e do consumo cultural passa a virar um tema central na vida das sociedades ocidentais contemporâneas, invadindo a agenda de governos, organismos, empresas e entidades não-governamentais” relata o professor. Essa parte do trabalho busca mostrar a formação de um repertório discursivo da Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, criada em 1945, com a missão de incentivar a paz e segurança no mundo, com a educação, a ciência, a cultura e as comunicações.
O professor analisa como esse discurso da Unesco, que se fortaleceu na década de 70, tem atualizado e potencializado o valor político e estético atribuído a categorias como tradição e autenticidade, por meio de convenções, tratados e regulamentações jurídicas com vistas a defender e promover a diversidade cultural, a identidade, as manifestações e expressões das chamadas culturas populares tradicionais.
A terceira parte, terceiro capítulo do trabalho, busca compreender as relações que o repertório discursivo Unesco guardam com as políticas culturais públicas e privadas implementadas no Brasil nas últimas duas décadas, principalmente aquelas dirigidas para a cultura popular sertanejo nordestina. “Para tanto, o terceiro capítulo retoma reflexões e constatações feitas no primeiro capítulo, agora à luz das políticas culturais desenvolvidas a partir das novas relações entre cultura e desenvolvimento, entre indústrias da criatividade e turismo, entre consumo cultural e indústria cultural, entre outras”, relata Elder Maia.
A pesquisa lança mão de um conjunto de dados secundários acerca de programas culturais como o Cultura Viva, o PNPI, entre outros. “É mediante os desdobramentos desses programas, das ações governamentais e dos interesses empresarias que o valor de tradição e autenticidade se atualizam e se potencializam, mediante, por certo, as muitas interfaces políticas, econômica e simbólicas envolvendo governos estaduais, municipais e federal, empresas, organizações não-governamentais, agências transnacionais e consumidores” destaca o sociólogo.
Na última parte, quarto capítulo, o trabalho busca objetivar e compreender o consumo dos bens e serviços culturais sertanejo-nordestinos reputados e classificados como “autênticos” e tradicionais, apontados e analisados ao longo do texto, como a literatura de cordel, o forró-baião, os objetos da arte figurativa, presentes em linguagens artísticas como o cinema, a televisão, o teatro, a literatura, entre outros. “Essas são, pois, as condições sociais específicas mediantes as quais se produz, se atualiza e se potencializa o valor estético-político atribuído a categorias como tradição e autenticidade. Esse valor é o principal elemento de estruturação de uma economia de bens e serviços simbólico-culturais bastante especifica, a que demos o nome aqui de economia simbólica da cultura popular sertanejo-nordestina”, ressalta Elder.
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