Programa assistencial do HU é referência para portadores de ostoma em Alagoas


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Reunião do grupo do Ostomizados no Cacon-HU
Reunião do grupo do Ostomizados no Cacon-HU
Contando atualmente com 35 beneficiários ativos, o Programa dos Pacientes Ostomizados do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do HU é a iniciativa que, desde 2003, tem tornado mais amena a vida dos portadores de ostoma em Alagoas. Coordenado pelo coloproctologista Dr. Emanual Álvaro, o programa assistencial é composto por uma equipe multiprofissional formada por psicóloga, assistentes sociais, nutricionista, farmacêutico e enfermeira, e tornou-se referência no Estado devido ao acompanhamento completo e diferenciado que é fornecido aos pacientes. Tanto na rede pública quanto privada, o HUPAA é o único a dar este suporte integralmente, desde o atendimento médico ao compromisso social, do início ao fim do tratamento.
 
Seja por conta de enfermidades, como o câncer, ou problemas de malformação congênita, o ser humano pode ter complicações no sistema digestivo e/ou urinário e necessite de uma cirurgia para criar uma nova saída para as fezes ou urina. Nestes casos, é criado um ostoma intestinal; procedimento realizado na parede abdominal que expõe um pedaço do intestino para o meio externo, de onde as fezes, em consistência e quantidade diferenciadas do normal, e a urina serão expelidas. Após a cirurgia, é feita a adaptação de uma bolsa coletora no local do estoma para depositar os sedimentos.
 
Feito de acordo com o diagnóstico do paciente, o ostoma intestinal é criado em três tipos. A colostomia, procedimento que externa um pedaço do cólon (ascendente, transverso, descendente e sigmóide); a ileostomia, procedimento que externa um pedaço do intestino delgado; e a ustostomia; que desvia o circuito normal da urina.
 
Considerada como a ‘cirurgia da vida’, a ostomia, para muitas pessoas que necessitam deste tratamento, surti efeito contrário quanto ao fator psicológico. Além da falta de informação, a depressão, a insatisfação da autoimagem e as influências na sexualidade são alguns dos fatores que levam pacientes portadores do ostoma a terem a convicção, na fase inicial, de que a ‘vida acabou’ a partir daquele momento. A falta de prática na hora de trocar a bolsa coletora e até mesmo a adaptação do material à pele do paciente também dificultam a adequação com a nova forma de viver.
 
Junto com a ostomia, uma série de modificação nos hábitos é incorporada ao dia a dia do ostomizado; desde a alimentação, até a forma de se vestir. Alguns se adaptam facilmente. Outros não. No HU, pacientes que passam por este tipo de procedimento dispõem de ampla estrutura favorável à reabilitação. Mensalmente, participantes do Programa dos Ostomizados vêm ao hospital para a reunião do grupo. Além da troca de experiência com os demais portadores, nos encontros também acontecem palestras sobre alimentação, momentos de escuta, momentos de instruções sobre a troca das bolsas coletoras e confraternizações. Segundo os participantes do grupo, são momentos que se tornaram fundamentais para a adaptação à nova rotina.
 
Utilizada provisória ou permanentemente, a bolsa coletora é essencial para o ostomizado. Nas reuniões, cada paciente cadastrado recebe 10 bolsas e, em alguns casos, até 20, cada uma tendo durabilidade de sete dias. Atualmente o HU trabalha com duas das melhores marcas de fornecedores; a Coloplast e Hollister, e com a distribuidora Tecnovida-PE, que contribui ativamente nas atividades do programa. De acordo com a enfermeira Lucy Kelly, que também atua na coordenação do programa, o produto de alta qualidade é necessário devido às reações alérgicas dos pacientes. Segundo ela, dependendo do material que é produzida, o corpo pode rejeita-la e causar vazamentos das fezes e urina, pelo fato da bolsa não ter aderido à pele, causando ainda graves queimaduras por conta da acidez dos sedimentos.
 
O programa distribui nove tipos de bolsas, que variam de acordo com a necessidade do paciente, e o único de Alagoas a fornecer bolsas neonatais, as infantis. Além disto, conta também com um estoque suficiente para atender a demanda até o próximo ano.
 
Proveniente do município de São José da Tapera, a dona de casa Maria do Socorro Inácio, de 26 anos, foi uma das pessoas que chegou a ter a convicção que ‘sua vida tinha acabado’. Ela é mãe do pequeno Luan, de seis meses, que nasceu sem a perfuração do ânus e teve que passar por cirurgia para criação do ostoma logo nos primeiros dias de vida. Além da depressão, Maria do Socorro diz que sofreu muito pela falta de informação. Como nunca tinha visto caso como este na cidade em que mora, chegou a achar que as pessoas pensariam que seu filho ‘era portador de uma doença mortal’. Segundo ela, os profissionais da área de saúde em São José da Tapera também nunca tinham visto caso parecido.
 
Ao chegar ao HU, ela se deparou com mais de 40 pessoas ostomizadas, entre adultos e crianças. Foi quando começou a ver que seu caso não era o único e passou a obter ajuda também dos participantes. Maria do Socorro chega a se emocionar ao descrever a importância do programa do HU na vida de seu filho.
 
“Se eu não tivesse aqui, meu filho não estaria mais vivo. Não teria nem condições financeiras pra cuidar dele. Esse apoio que eles dão é fundamental. Dão orientações e conselhos sobre os cuidados com a saúde, com a alimentação, se preocupam com a gente, em saber se estamos bem psicologicamente. Em lugar nenhum você encontra um tratamento humano como este. Hoje o meu filho vive normalmente, é uma criança saudável e muito feliz”, diz ela.
 
Ostomizada há 3 anos e 7 meses, a dona de casa Selma Cavalcante, 52 anos, teve uma adaptação mais rápida. No início, comum para quem entra nesta nova fase, Selma diz ter ficado muito triste. Cristã, ela afirma que “hoje tem primeiramente forças pela mão de Deus” e, também muito importante, pelo apoio que encontrou desde que iniciou sua participação no grupo.
 
"Além do apoio médico, que nos ajuda muito por conta da troca das bolsas (coletoras), esse acompanhamento social colabora muito para a recuperação do ostomizado. A gente chega aqui achando que é o único no mundo a ter esse problema, mas nós encontramos muitos na mesma situação. Entre uma conversa e outra, vamos nos confortando. Quem vai chegando depois, damos muito apoio. Isso é bastante importante. Hoje vivo normalmente. Faço tudo normalmente. Vou para a praia, viajo, saio com minha família. Apesar de viver dependente de uma bolsa coletora, nós, ostomizados, não somos dependente de outras pessoas”, diz Selma, que completa dizendo que “sua presença é sinônimo de alegria onde quer que chegue”.
 
Vivendo realidades semelhantes, as donas de casa Maria do Socorro e Selma Carvalho são apenas duas das muitas pessoas que necessitam do programa. Para Lucy Kelly, é gratificante ver a evolução de cada paciente, como o caso do pequeno Luan, e por isso trabalha com prazer pra dar aqui no HU um atendimento humanizado à população. Desde 2008 estando também à frente do programa, Lucy diz que, devido ao acumulo de funções, poderá estar se afastando. A carência profissional poderá afetar na assistência social, mas não interromperá a assistência médica.
 
Crucial no tratamento dos ostomizados, o programa do HU é visto pelos pacientes como uma dádiva. Além do assistencialismo, a dedicação dos profissionais a cada beneficiário é um fator de destaque e reconhecido com muitos elogios pelos que passam por aquele setor.