Projeto da Unidade de Palmeira acompanha gestantes em estado de risco
É comum ouvir reclamações a respeito da qualidade de serviços prestados de forma gratuita, notadamente em relação ao serviço público. No entanto, ainda são poucas as propostas que visam contribuir para o aperfeiçoamento desses atendimentos, a exemplo da iniciativa de um grupo de alunas e de uma professora do curso de Psicologia da Unidade de Ensino Palmeira dos Índios, que desenvolve um projeto voltado ao acompanhamento de gestações em estado de risco.
- Atualizado em
William Correia – estudante de Jornalismo
Resultado do interesse da professora Flávia Ribeiro pela área de saúde reprodutiva, com a ajuda de seis alunas do curso, o projeto tem a intenção de promover a educação a gestantes atendidas pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) em relação a riscos, problemas, necessidades que surgem durante o período de gravidez. “Palmeira dos Índios não tem um serviço hospitalar especializado para as gestantes de risco, então a eficácia dos serviços de atenção básica pode minimizar o problema da superlotação das maternidades da capital”, esclarece a professora ao justificar as motivações de sua iniciativa.
As mães atendidas pelo projeto “Avaliação dos fatores de risco e intervenções no acompanhamento às gestantes no serviço de atenção básica à saúde” foram selecionadas por meio dos cadastros de pré-natal disponibilizados por enfermeiras e receberam dedicação também através de oficinas, denominadas intervenções.
“O risco gravídico vem sendo objeto de discussão no âmbito das políticas públicas em saúde e no campo das recomendações de procedimentos técnicos”, diz. “Há uma série de patologias e condições emocionais que podem se desenvolver junto com a gestação, mas o nosso interesse está focalizado nas condições de assistência à saúde da gestante”, explica a professora, apontando o alerta da Organização Mundial de Saúde a respeito de riscos ocasionados também pela dificuldade de acesso das gestantes ao serviço de promoção a saúde ou pelas más condições que ele pode oferecer.
Fatores de risco e intervenções
Por meio de entrevistas, as estudantes e a professora acompanharam o trabalho dos profissionais de saúde e o dia-a-dia das gestantes do município. O acompanhamento dos profissionais foi feito, explica Flávia, para conhecer o modo como eles nomeiam, identificam e avaliam os fatores de risco. Já com as gestantes, para saber como elas os vivenciam. “Avaliar não é medir risco, mas sim considerar fatores diversos, muitas vezes de caráter subjetivo, que interagem na determinação do quadro de gestação de risco”, detalha.
Os fatores foram divididos em três grupos gerais: sociais, físicos e imprecisos. Eles foram associados pelos profissionais à vulnerabilidades social, econômica e cultural, mudanças físicas e patologias manifestadas durante a gravidez, bem como à dificuldade em avaliar a condição de risco da gestante. Quando detalhados pelas gestantes, principais personagens do processo, esses grupos foram especificados: situações diversas que resultam em nervosismo e geram aumento da pressão arterial, desgaste físico, resultante de atividades cotidianas, como “ter que puxar água da cacimba”, e, considerado pelas componentes como pior, riscos associados ao serviço de saúde.
“O serviço de saúde que deveria acolher e dar segurança para a gestante é vivenciado como um fator de risco. Elas descreveram a ausência de profissionais qualificados, o cancelamento de consultas pré-natal, a estrutura das UBS e o favorecimento pessoal de determinadas usuárias em detrimento de outras”, diz Flávia.
Por atuarem em área sem ligação direta com o tratamento dessas mulheres, as componentes do projeto não se envolvem efetivamente com os riscos detectados. Flávia Ribeiro explica que a avaliação é feita pela enfermeira responsável pelo pré-natal, que encaminha a gestante para as Unidades. Quando esse caso é considerado complexo, o médico da unidade de saúde encaminha para os serviços de atenção especializada.
Alterações no cotidiano
Flávia diz ter percebido mudanças no dia-a-dia das mulheres após o acompanhamento que receberam. “Muitas delas estavam desacreditadas da eficiência dos serviços ou não tinham assumido a prática de irem ao posto de saúde procurar assistência”, explica. Na opinião da professora, elas passaram a cuidar melhor de si mesmas e de seus bebês, adquirindo o hábito de frequentar o serviço de saúde local.
De maneira inusitada, as alterações também envolveram os companheiros das gestantes. Eles sentiram necessidade de acompanhar o que efetivamente estava acontecendo nas atividades. “Alguns maridos foram às UBS para averiguar o que seria tratado, estavam desconfiados que falaríamos sobre 'safadeza' para as suas esposas”, relembra a professora Flávia, que acrescenta a consequente aproximação entre a comunidade em geral e as Unidades por causa do contato com as vizinhas grávidas. “Os moradores ficaram curiosos e se interessaram pela atividade proposta, o que acabou aproximando mais a comunidade da UBS”, finaliza.