Projeto Vizinhança: compromisso com a transformação social


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Natação para 150 crianças e adolescentes na piscina do Campus Maceió
Natação para 150 crianças e adolescentes na piscina do Campus Maceió

Diana Monteiro - jornalista

Maria José Alves da Silva tem 42 anos, é mãe de cinco filhos e líder comunitária no Conjunto Denisson Menezes, localizado no entorno do Campus Maceió da Universidade Federal de Alagoas, onde vivem atualmente mais de 600 famílias. O laço estreito de Maria José com a Ufal existe há mais de uma década. Ela morou na então “Cidade de Lona”, que ocupou por quatro anos os galpões da Petrobras, vizinho ao Hospital Universitário, e participou ativamente, em 1999, da luta da instituição para a mudança da situação de miséria daquela comunidade.

 

Maria José relembra o período em que viveu junto com 365 famílias no local e diz ter sofrido na pele a discriminação social. “Viver na Cidade de Lona significava risco para seus moradores e para a sociedade. Era ser discriminado no mercado de trabalho por não ter referência nenhuma, desde a

mais simples, como o endereço postal”, diz. A maioria das pessoas não tinha registro de nascimento e nenhum documento de identificação.

 

A dura realidade começou a mudar a partir do “Projeto Vizinhança”, coordenado pelo Núcleo Temático de Assistência Social (Nutas), em parceria com as secretarias municipais de Habitação e da Assistência Social. O Nutas foi implantado em 1995 e está instalado na Faculdade de Serviço Social

da Ufal, sob a coordenação da professora Terezinha Falcão.

 

“A articulação da Ufal foi fundamental para a mudança da situação de vulnerabilidade da comunidade da Cidade de Lona. Inicialmente o Banco Interamericano de Desenvolvimento destinou seis milhões de reais para a construção do Conjunto Denisson Menezes para atender 565 famílias. Há três anos foram construídas mais cem casas no local para as famílias oriundas da região lagunar da capital”, diz a assistente social Lúcia Moreira, coordenadora do

Projeto Vizinhança.

 

O Conjunto Denisson Menezes é dotado de escola, posto de saúde, creche, praça, campo de futebol, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS),e dispõe ainda de espaços físicos para atividades que beneficiem à comunidade. É também campo de estágio curricular para o Curso de

Serviço Social.

 

Além do Conjunto Denisson Menezes, o Projeto Vizinhança tem ações sociais extensivas às demais comunidades do entorno do Campus Maceió: Gama Lins, Lucila Toledo, Santa Helena, Village Campestre II e Cascadura. As ações na Ufal são coordenadas pelas pró-reitorias de Extensão e Estudantil, Faculdade Educação Física e Faculdade de Economia Administração e Contabilidade.

 

Acesso à escola aos 11 anos

 

Florisnaldo Pereira da Silva, 25 anos de idade, estudante do sexto período do curso de Serviço Social e residente do conjunto Village II, umas das comunidades da área de abrangência do Projeto Vizinhança. Primeiro filho de uma família de sete irmãos, a vida de Florisnaldo nunca foi fácil, a começar pelo acesso ao ensino básico. Conheceu as primeiras letras só aos 11 anos de idade.

 

O rapaz é um dos estagiários do Centro de Referência de Assistência Social no Conjunto Denisson Menezes e disse que toda dificuldade para estudar era pela vida nômade que a família levava. Ao se estabelecer no Conjunto Village II, a vida dele começou a mudar. “Fiz o ensino fundamental no Caic Jorge de Lima, que fica na entrada do Campus Maceió. Concluí o ensino médio na Escola Estadual Geraldo Melo Santos, localizada no Conjunto Graciliano Ramos. Nunca fui reprovado e passei no primeiro vestibular”, diz orgulhoso.

 

O ambiente universitário já era frequentado por ele para fazer trabalhos escolares na Biblioteca Central. “O meu estímulo também foi por viver numa comunidade extremamente carente e não se conformar com a ausência total do poder público. Ao me ver sempre com essa inquietação, meu pai sugeriu até que eu escrevesse uma carta ao presidente da república, mas vi que esse não era o caminho”, relembra Florisnaldo.

 

Em vez de lutar somente pela própria causa, ele viu que poderia também contribuir com a mudança de vida de outras pessoas. “Percebi também que o atendimento às necessidades de uma sociedade deve resultar de projetos, e resolvi me engajar nas ações promovidas pelo Projeto Vizinhança”, diz ele.

 

Hoje, ele se orgulha de trabalhar com a mobilização comunitária para a formação de grupos, objetivando fortalecer o conhecimento crítico para modificar a realidade vivenciada pela comunidade. E, por outro lado, dando prosseguimento a sua carreira profissional, pretende fazer pós-graduação e disputar o mercado de trabalho.

 

“Mesmo vivendo com dificuldades, dois irmãos meus concluíram o ensino médio. Minha irmã pretende fazer vestibular para Medicina. Um outro irmão está concluindo o ensino médio e os mais novos estão ainda no ensino fundamental”, diz Florisnaldo, tendo a convicção de que a família o tem como um exemplo a ser seguido.

 

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