Pesquisa reaproveita resíduo da produção de farinha para gerar energia
O projeto de pesquisa para a produção biológica de hidrogênio a partir de resíduo de manipueira foi aprovado em 2010, pelo CNPq. O professor Eduardo Lucena coordena o trabalho, que tem a participação de alunos do curso de Engenharia Ambiental e é desenvolvido em um laboratório do Centro de Tecnologia (Ctec). A manipueira é um resíduo tóxico da mandioca que, durante a prensagem para a produção de farinha, acaba sendo descartado na natureza sem nenhum tratamento.
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Lenilda Luna - jornalista
Esse descarte causa sérios prejuízos ao meio ambiente, inclusive contaminando as águas do subsolo. “Com esta técnica, podemos atingir dois objetivos: evitar a contaminação do solo e produzir energia barata, que pode ser inclusive utilizada nos fornos das casas de farinha, para substituir a lenha”, explica o professor Eduardo.
A produção de energia a partir de resíduos não é uma proposta nova, e a utilização de reatores anaeróbicos também já foi testada. “Mas esta combinação de reatores anaeróbicos de leito fixo e de leito fluidificado, com este tipo de substância, é uma técnica inédita no mundo”, informa o professor. “O custo para a produção de energia a partir da manipueira ainda é alto, mas podemos baixar esse investimento para que se torne viável para utilização em escala industrial”, informa o pesquisador.
O pesquisador considera as vantagens ambientais para justificar o investimento na pesquisa. “Podemos utilizar a mesma técnica com outros resíduos das indústrias, que poluem o meio ambiente, como por exemplo, a vinhaça que sobra na fabricação do álcool, ou os restos da produção de leite de coco. São resíduos tóxicos e poluentes, que podem ser transformados em energia”, destaca Eduardo Lucena.
O processo
Para realizar a pesquisa, o coordenador e o estudante visitaram várias casas de farinha no Estado e perceberam que não existe nenhum tratamento para o resíduo. Eles conversaram então com alguns destes pequenos produtores para a armazenarem a manipueira. O líquido tóxico é levado para o laboratório da Ufal, onde é colocado no primeiro reator. Em contato com micro-organismos e utilizando argila e casca de sururu, o hidrogênio é liberado e também é produzido gás metano.
“A energia produzida neste processo pode ser utilizada para iluminar uma vila de trabalhadores de uma usina de açúcar ou até para ligar alguns equipamentos da indústria, possibilitando mais economia e menos poluição”, ressalta o coordenador da pesquisa.
Participação em Congressos
As primeiras conclusões da pesquisa já vão começar a ser apresentadas. Em outubro, o professor Eduardo Lucena vai apresentar um artigo científico no Seminário Latino Americano de Digestão Anaeróbia, que será realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, com a promoção das universidades federais de Minas Gerais, Ouro Preto, Pernambuco e a USP.
Entre os temas desse congresso, estão: Digestão de resíduos sólidos e recuperação de energia, Ecologia microbiana e biologia molecular, Novos desenvolvimentos em digestão anaeróbia, Tratamento de efluentes industriais e Tratamento de esgoto sanitário. “É um encontro técnico importante, que reúne pesquisadores interessados em desenvolvimento sustentável, por isso, nossa participação é bastante produtiva para o grupo de pesquisa”, destaca o professor.
O professor também viaja para o Congresso Internacional sobre Hidrogênio, que será realizado de 12 a 14 de setembro, em São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos. O Brasil terá três trabalhos orais apresentados nessa conferência: da Unicamp e da Companhia de Saneamento de São Paulo. “Ainda são poucas as pesquisas realizadas no país sobre reaproveitamento de resíduos para a produção de energia renovável. Mas a tendência é que aumentem os investimentos neste setor”, destaca Eduardo.