Rosa Furtado fala sobre a atuação do Centro Internacional Celso Furtado
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Myllena Diniz e Renata Menezes – estudantes de Jornalismo
Celso Furtado, nascido no sertão paraibano, foi um importante economista brasileiro. Entre os mais importantes cargos ocupados por ele estão o de Superintendente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e o de Ministro da Cultura, no governo de José Sarney. Deixou uma vasta obra em que discute economia global e local, voltando-se principalmente para o desenvolvimento do Brasil sob um ponto de vista crítico em relação ao neoliberalismo.
Foi sabendo da importância de Celso que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou seu nome para batizar um centro que deveria ser criado para discutir políticas de desenvolvimento, na sessão de abertura da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad XI), realizada em São Paulo, no dia 14 de junho de 2004.
O Centro Internacional Celso Furtado (Cicef) foi criado no ano de 2005 e hoje tem na composição de sua diretoria Rosa D’Aguiar Freire Furtado, jornalista formada pela PUC do Rio de Janeiro, tradutora de mais de 60 obras e também viúva de Celso Furtado.
Rosa esteve presente no Seminário “Cidades de porte médio no Brasil: espaços em transição”, realizado pela Rede Brasileira de Estudos sobre Cidades Médias (RedBCM) em parceria com a Feac/Ufal, entre os dias 5 e 8 de outubro, onde participou da cerimônia de abertura representando o CICEF e nos concedeu uma entrevista falando sobre a atuação do CICEF e da relação do mesmo com a RedBCM, que pode ser conferida abaixo:
Qual a razão de o Centro Internacional Celso Furtado apoiar a Rede Brasileira de Estudos sobre cidades Médias (RedBCM) e o Seminário “Cidades de porte médio no Brasil: espaços em transição”?
Várias. O Marcos Costa Lima [fundador da RedBCM] é um dos sócios do conselho deliberativo do Centro Celso Furtado e admiro o trabalho que ele desempenha. A ideia do Centro é discutir todas as facetas do desenvolvimento. Então, focar nas cidades médias tem muito a ver. Também é objetivo do Centro ter sempre atividades no Nordeste. Então, é duplamente importante, porque une estudos voltados para o Nordeste e para o desenvolvimento.
Por que as cidades médias são motivo de preocupação nesse momento?
Francamente, acho que o Brasil deve ficar muito atento. Quando criamos o Centro [Centro Internacional Celso Furtado], uma das nossas preocupações era com a questão do desenvolvimento urbano, com o caos nas cidades. Então, é preciso fazer com que as cidades médias, ao crescerem, não se transformem no que são as grandes cidades. Eu acho que é uma possibilidade que a gente tem de ver tudo isso, para que sejam pensadas essas cidades médias, para que elas se transformem – a tendência vai ser elas crescerem –, para que elas cresçam sabendo quais são os problemas das cidades grandes, tentando resolver, antecipadamente, esses problemas. Vai ser fácil? Provavelmente, não. Provavelmente, a inspiração de todas elas é virar cidade grande. Só que, se elas pegam os problemas das cidades médias, que às vezes não têm uma série de serviços, uma série atendimentos à população e ainda jogam, em cima disso, os problemas das cidades grandes, aí é um caos absoluto. A ideia, eu acho, desse Seminário, dessa Rede [Rede Brasileira de Estudos sobre Cidades Médias], é tentar evitar isso o máximo possível. Pelo menos, alertar os universitários, os acadêmicos de certas cidades médias, para que eles pensem essas cidades.
De que forma o Centro Internacional Celso Furtado tem influenciado nas políticas públicas e na agenda de desenvolvimento do Brasil?
Nas políticas públicas, diretamente, não. No momento não é o que nós podemos dizer que o Centro esteja oferecendo. A influência do Centro se dá, a meu ver, como qualquer instituto de estudos. Eu considero o Centro, hoje, como um centro de auto-estudo. Então, quer dizer, como é que você influencia? São pequenas pedrinhas, vai construindo, construindo... É um grãozinho aqui, outro grãozinho ali. Nós temos, agora, bolsistas, temos seminários, reflexões, fazemos cursos. Então, é um edifício imenso. Você vai construindo, vai construindo. Você dá um curso sobre planejamento no interior da Bahia, aí provavelmente, os técnicos que fizeram aquele curso juntam outros conhecimentos que eles vão ter depois, daqui a pouco eles fazem um projeto, um plano, a partir dos ensinamentos que eles receberam. É um trabalho contínuo. Agora, especificamente, nós não somos, digamos, para influir, diretamente, nas políticas públicas. Isso não e acho que nem é a nossa missão. Nós não somos um IPEA, não somos um BNDES. Eu acho que é cada macaco no seu galho. Acho que a gente vem influenciando como se fosse um instituto de auto-estudo, realmente, e chamando a atenção para certas temáticas. É por aí.