Pesquisadores buscam fármacos mais eficazes
Grupo trabalha com adição de metais na composição de medicamentos para chegar a bactericidas, antifúngicos e antimaláricos mais potentes
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Myllena Diniz – estudante de Jornalismo
A criação de fármacos mais eficazes contra malária e leishmanioses é o desafio da Universidade Federal de Alagoas. Esse é o objetivo do grupo de pesquisa “Catálise e Reatividade Química”, que desenvolve trabalho na área de síntese de complexos metálicos para a produção de medicamentos, os chamados metalofármacos, que se diferenciam dos demais devido à associação a estruturas metálicas.
Há seis anos em atividade, o grupo é coordenado pelo professor Mário Meneghetti e desenvolve projetos direcionados às reações catalíticas. Segundo o pesquisador, o objetivo geral da pesquisa é a criação de fármacos mais potentes. “O metalofármaco é um fármaco qualquer. Porém, apresenta metais em sua composição”, destacou Meneghetti.
Atualmente, estão sendo desenvolvidos leishmanicidas, bactericidas, antifúngicos e antimaláricos. A produção desses complexos já permitiu a realização de publicações de artigos científicos e registro de patentes. O grupo trabalha em parceria com outras áreas da universidade, como a Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar) e o Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), responsáveis pela avaliação biológica do material sintetizado em laboratório.
O trabalho consiste na interação entre um fármaco que já existe e um metal, com a finalidade de potencializar a ação desse medicamento. De acordo com o coordenador, há a possibilidade de junção de dois fármacos conhecidos e o uso de metais como pontos de ligação entre eles. “De acordo com o grau de complexidade, os pesquisadores ainda podem modificar os compostos estudados. Em alguns casos, realizamos alterações nos fármacos para que eles possam reagir com os metais, ou seja, são feitas modificações químicas em um fármaco sem que ele perca sua atividade básica como medicamento”, relatou.
Entre os metais utilizados nas pesquisas estão a platina, o ferro, o estanho, o paládio e o antimônio, esse último, conhecido por combater a leishmaniose. “Os compostos antimoniais, no entanto, possuem um alto teor de toxicidade e, por isso, provocam muitos efeitos colaterais, que podem levar, inclusive, à morte. Para resolver esses problemas, estamos estudando a utilização de recursos que potencializem os metalofármacos e, paralelamente, minimizem os efeitos colaterais dos complexos sintetizados”, justificou.
Etapas do processo
O processo consiste na preparação do material no Laboratório de Síntese que, em seguida, vão para a análise biológica. “Após a etapa no laboratório de síntese, nossos alunos fazem a análise biológica, que não é a especialidade da Química. A especialidade do trabalho que nós desenvolvemos é a síntese de compostos. À área de Farmácia cabe verificar se esses compostos vão ter atividades farmacológicas”, explicou Meneghetti.
Os complexos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa ainda estão em fase de testes em laboratório (in vitro), processo em que os parasitas responsáveis por determinadas doenças ficam isolados e recebem doses do metalofármaco. Os testes biológicos estão senso realizados em camundongos. “O contato entre metalofármacos desenvolvidos pelo grupo e o agente responsável pela malária, por exemplo, já apresentou resultados promissores. Mesmo assim, ainda não foram realizadas experiências em seres humanos, visto que os compostos sintetizados sofrem o mesmo protocolo dos outros fármacos”, justificou o coordenador do grupo.
De acordo com Meneghetti, a cada 100 mil, um gera medicamento. “Isso acontece devido a diversas variáveis, como a toxicidade e efeitos colaterais, o que impossibilita determinar o momento em que um medicamento será testado em seres humanos ou estará nas prateleiras das farmácias”, explicou.
Origem do grupo
Segundo Meneghetti, o grupo surgiu da necessidade que os recém-graduados do curso de Farmácia da Ufal tinham em trabalhar com a síntese de materiais metálicos que pudessem ter atividade farmacológica. Além dos cinco professores envolvidos, cinco alunos também fazem parte da equipe, dos quais quatro têm formação farmacêutica.
A origem do grupo está relacionada às demandas da Ufal e às pesquisas realizadas em outras instituições. “A descoberta da cisplatina [metalofármaco à base de platina, um metal nobre, utilizado contra o câncer há 34 anos] tornou-se para os pesquisadores do mundo inteiro a principal referência de que a associação de metais a fármacos podem melhorar a atividade de diversos medicamentos”, revelou o pesquisador.
Único em Alagoas a desenvolver pesquisas com metalofármacos, o grupo, segundo Meneghetti, traz grande contribuição para essa área. “Os estudos, mesmo recentes, mostram bons resultados. O medicamento pode até não ir para a farmácia, mas toda essa pesquisa contribui para que outros pesquisadores possam desenvolver, cada vez mais, compostos que podem gerar fármacos” avaliou.
Instituições parceiras
Para desenvolver o projeto, a Ufal conta com instituições parceiras, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de Minas Gerais, e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). Com os pesquisadores sergipanos, o grupo alagoano desenvolve pesquisas com o diazepam, fármaco redutor de ansiedade, e o metal paládio. “O resultado são testes preliminares que revelam um metalofármaco com grau de atividade superior a do próprio diazepam”, explicou Meneghetti.
Para o coordenador, essas pesquisas são resultado de um trabalho interdisciplinar. “Sem a parceria com os estudos biológicos, os compostos sintetizados no laboratório não teriam seu potencial avaliado para, possivelmente, tornarem-se medicamentos. Essa interdisciplinaridade é fundamental”, completou.
Pesquisa para o doutorado
A farmacêutica Raquel Menezes, aluna do grupo de pesquisa, está construindo sua tese de doutorado com base na síntese de moléculas que combatem a malária. Envolvida nas pesquisas, desde 2007, ela pretende encontrar alguns conceitos que possam ser criados na área. “Pensamos em trabalhar com a síntese de compostos orgânicos e de metalofármacos aliados a doenças, para que, com o resultado dessas moléculas, possamos buscar efeitos biológicos”, relatou.
Ana Soraya Lima Barbosa, outra farmacêutica engajada na pesquisa, direciona seu doutorado para a síntese do estanho, metal que apresenta atividades antibacterianas e antifúngicas, e destaca a ação de estruturas metálicas em relação a casos que envolvem o aumento ou a diminuição da resistência das bactérias. “Quando alguns fármacos são muito utilizados por determinado organismo, por exemplo, as bactérias ficam mais resistentes. Assim, os fármacos que têm afinidade com o metal vão fazer com que essa atividade possa aumentar ou até modificar o espectro de ação desses medicamentos”, explicou a pesquisadora que concluirá seu doutorado na Universidade de Estrasburgo, na França, onde desenvolverá sínteses com o metal cobalto.