Pesquisa comprova que casos de hanseníase têm diagnóstico tardio

“Temos uma endemia oculta em Alagoas”, alerta pesquisadora


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Clodis Tavares se dedica há vinte anos ao controle da Hanseníase
Clodis Tavares se dedica há vinte anos ao controle da Hanseníase

Lenilda Luna - jornalista

A primeira informação que deve ser ressaltada sobre a hanseníase é que a doença tem cura. Isso é importante, porque, segundo a coordenadora do Programa de Controle da Hanseníase, Clodis Tavares, a desinformação, até mesmo de alguns médicos, já levou pacientes ao desespero. “A hanseníase é uma doença cercada de muitos preconceitos e medos, por isso precisamos trabalhar de forma integrada, capacitando profissionais e apoiando os pacientes e suas famílias”, pondera Clodis.

O que assusta tanto nessa doença? Talvez o fato de ser um dos problemas de saúde com os mais antigos registros na história da humanidade. Há pelo menos quatro mil anos existem relatos de “lepra” em países da Ásia e Africa. Na Bíblia, os casos citados destacam a segregação social. O “leproso” era expulso das cidades e vivia completamente isolado. É também um mal silencioso: depois do contágio, a doença leva de dois a cinco anos para se manifestar. E, ainda, se não for tratada corretamente, a hanseníase provoca deformidades físicas e neurológicas.

Todas essas características realmente causam temores. Mas, nos últimos anos, as pesquisas sobre o bacilo Mycobacterium leprae, que atinge preferencialmente nervos e pele, estão avançando e existem tratamentos eficientes. “Os casos de cura e as campanhas de informação sobre a doença estão ajudando a diminuir o preconceito. É preciso ter cuidado sim, e seguir o tratamento, mas o paciente acometido de hanseníase deve ser acolhido e orientado, e não segregado como se fazia antigamente”, ressalta a coordenadora.

Dedicação à pesquisa e capacitação

Clodis Maria Tavares entrou para o quadro docente da Escola de Enfermagem da Ufal, em 1984, e já começou a desenvolver pesquisas sobre a hanseníase em parceria com o curso de Medicina. “A primeira equipe que integrei contava com a médica Rachel Patriota, da Famed [Faculdade de Medicina], numa época em que o Estado de Alagoas tinha um dos menores coeficientes da doença do País”, relembra.

Desde então, a pesquisadora acumulou muita experiência de trabalho na área. Coordenou o programa de Controle de Hanseníase do Estado, de 1983 a 1991; foi consultora do Ministério da Saúde, no projeto Integração Ensino-Serviço, realizado em parceria com o Ministério da Educação; e fez o mestrado em Saúde Pública, em 1994, na linha de Epidemiologia, sobre Hanseníase, na Universidade Federal do Ceará. “Foi um dos primeiros trabalhos apresentados naquele Estado sobre o tema, com um estudo completo do comportamento da doença, englobando um período de 27 anos”, explica a pesquisadora.

A professora enfatiza a necessidade de ampliar os programas de capacitação e sensibilização de profissionais de Enfermagem e Medicina. “Esta não é uma especialidade muito buscada pelos alunos. Precisamos mostrar a necessidade de dedicação a esta causa e de ficarmos mais atentos para detectar os sintomas, possibilitando o tratamento dos pacientes ainda nas primeiras fases da doença”, destaca.

Endemia oculta

O projeto Hanseníase na Comunidade foi retomado, em 2008, com as participações da Esenfar, Famed e Núcleo de Saúde Pública. Estudantes de  Enfermagem de outras universidades também se mobilizaram. “Já tivemos a parceria do Cesmac, da Fits e, mais recentemente, da Faculdade Raimundo Marinho”, informa a coordenadora. As campanhas acontecem principalmente em 29 de janeiro, data estabelecida pela ONU como Dia Mundial de Combate à Hanseníase.

Nos últimos quatro anos, os profissionais estão percebendo que a detecção de novos casos acontece tardiamente, quando a doença já se manifesta em estágio avançado. “Em cada campanha, avaliamos cerca de 400 pacientes. Entre eles, em média 70 casos são suspeitos. A suspeita é confirmada em pelo menos 15 destes pacientes, a maioria detectada tardiamente”, alerta a coordenadora do programa. Os pacientes são encaminhados para os serviços de referência para fazer o tratamento, que é gratuito e dura de seis a 12 meses.

Clodis Tavares acredita que essas detecções tardias acontecem, porque os sintomas ainda estão passando despercebidos pelos profissionais que atuam no atendimento básico de saúde. “Por isso estamos formando profissionais para serem multiplicadores em Unidades de Saúde, que atuam nos doze municípios e nos quatro distritos de saúde de Maceió com maior número de casos registrados”, informa a professora.

Esta capacitação, por enquanto, mobiliza principalmente médicos e enfermeiros, que repassam as informações para agentes de saúde, técnicos e auxiliares de Enfermagem. “Mas queremos ampliar as capacitações, com profissionais de Fisioterapia, Psicologia e Serviço Social. O tratamento da hanseníase exige uma equipe multiprofissional”, ressalta Clodis.

Conheça Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase

“O Morhan é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 6 de Junho de 1981. Suas atividades são voltadas para a eliminação da hanseníase, a partir de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população”