Atuação do geógrafo no planejamento do espaço minimiza impactos ambientais

Em 29 de maio, são homenageados profissionais comprometidos com o planejamento ambiental e com a interação entre a natureza e a sociedade: os geógrafos


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Myllena Diniz – estudante de Jornalismo

O profissional que estuda a interação entre a sociedade e o meio ambiente, o geógrafo, é homenageado no dia 29 de maio, data em que também é comemorada a fundação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora a Geografia tenha origem na Grécia Antiga e seja considerada uma das disciplinas acadêmicas mais antigas da história, o geógrafo só teve sua profissão regulamentada recentemente. No Brasil, a atuação profissional do bacharel em Geografia foi legalizada com a criação da lei nº 6.664, em junho de 1979.

Responsável por estudos, pesquisas, levantamentos físico-geográficos e planejamento ambiental, o geógrafo configura atividades de grande importância para uma sociedade globalizada e com sérios problemas ambientais. O bacharel em Geografia é responsável por pesquisas relacionadas à atuação da sociedade humana na organização do espaço, aos impactos e ao planejamento ambiental, mas a maioria das pessoas associa a figura do geógrafo a atividades que não são de sua competência.

A atividade do geógrafo passou a ser garantida e a ser fiscalizada a partir da implantação da lei nº 6.664, em 1979. Para Sinval Autran, coordenador do Bacharelado em Geografia da Ufal, a proteção legal da profissão foi a principal conquista da classe nos últimos anos. Com base na legislação, o professor também destaca que o bacharel em Geografia está habilitado a possuir registro no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) e necessita desse credenciamento para o exercício da profissão. No entanto, ele revela que, em Alagoas, ainda há resistência e falta de informação sobre a importância dos trabalhos desenvolvidos por esses profissionais.

“Em Alagoas, ainda existe dificuldade em estabelecer uma relação maior entre diversos profissionais e o geógrafo. A construção de uma hidrelétrica, como a de Xingó, ou a construção de uma indústria são exemplos de que a falta de diálogo com o geógrafo pode trazer alguns impactos ambientais. O geógrafo pode elencar uma série de problemas que determinadas obras podem oferecer à natureza e tomar medidas essenciais para evitar ou minimizar tais situações. Afinal, o geógrafo trabalha justamente com a relação homem, sociedade e natureza”, revela Autran.

Campo de atuação

De acordo com Sinval Autran, a grande dificuldade que o geógrafo enfrenta é a inserção no mercado de trabalho. “As empresas não compreendem a atuação do geógrafo na definição de mapas e de ferramentas importantes para o planejamento do espaço. É preciso entender que ele é o profissional que analisa como a sociedade atua e que pode contribuir de forma decisiva na organização do espaço”, avalia.

Além de estudos sobre o solo, as águas, os fenômenos climáticos, os relevos e as vegetações, o geógrafo analisa a organização espacial das sociedades, a interação do homem com o ambiente e as relações econômicas envolvidas nas dinâmicas rural e urbana. De acordo com Sinval Autran, o geógrafo também desempenha significativo papel na elaboração de planos diretores municipais e estaduais, de planos de manejo para o estudo de área de proteção e de conservação ambiental, e de mapas com as características espaciais precisas de diferentes localidades.

No caso do trabalho cartográfico, constantemente associado ao geógrafo, os dados levantados podem revelar o diagnóstico de vários fenômenos. A criação de mapas, ao contrário do que difunde o imaginário popular, não corresponde apenas à criação de rotas para viajantes ou à estrutura espacial de um território. Ele pode apresentar importantes informações sobre regiões com desmatamento e com erosão do solo, por exemplo.

Novas perspectivas

A cartografia digital, o ecoturismo, a geografia humana e a dos transportes, a geopolítica e os planejamentos agrícola e urbano são algumas das áreas de atuação do geógrafo na contemporaneidade. Mas, segundo Autran, é a geotecnologia o foco de muitos pesquisadores da atualidade. “O geógrafo tem procurado, dentro de seu campo de atuação, fazer uso da geotecnologia. Nesse aspecto, encontramos o geoprocessamento, que consiste no uso da informática e de softwares específicos aplicados à geografia, e o sensoriamento remoto, no qual satélites e imagens são utilizados para que o profissional compreenda melhor o espaço. Outra área importante é a de análise ambiental, na qual o geógrafo vê várias possibilidades de se planejar o meio”, explica.

A geotecnologia aparece com o uso frequente da informática, do sensoriamento remoto e do próprio Global Positioning System (GPS). Nessa área, Alagoas já conta com o Núcleo de Geoprocessamento da Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico (Seplande), cujo objetivo é a produção e a gestão de informações sintetizadas em mapas. Por meio de iniciativas do núcleo, é possível a análise de dados geográficos com o uso da internet.

Outro órgão interessado em geotecnologia é o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA). O IMA possui a Gerência de Geoprocessamento (Geop), integrada à Diretoria de Unidade de Conservação, voltada para a construção de bases de dados utilizadas como ferramentas para pareceres técnicos, certidões e licenciamentos ambientais referentes a atividades do instituto.

Segundo Autran, o curso de Geografia da Ufal teve participação decisiva nos dois projetos. “Os profissionais da universidade construíram toda a minuta do setor instalado na Seplande. No caso da Geop, destacamos que o seu diretor, Robson Brandão, passou pelo Laboratório de Geoprocessamento Aplicado (LGA) da Ufal, que nesse mês completa vinte anos”.

Formação acadêmica

Em Alagoas, o ensino superior de Geografia tem origem antes mesmo de sua implantação na Universidade Federal de Alagoas, fundada em 1961. O curso já era ministrado no Estado desde 1951, ano em que foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL). Durante todos esses anos, a graduação já sofreu grandes transformações. Atualmente, o curso pertence ao Instituto de Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento (IGDEMA), oferece a pós-graduação com ênfase em análise ambiental, planeja a ampliação de sua parte física e prevê a instalação do Mestrado em 2013.

Aproximadamente 25 docentes comandam o total de 300 alunos matriculados no Bacharelado em Geografia da Ufal, divididos entre os turnos vespertino e noturno. Juntos, professores e alunos atualizam o curso e se distanciam da estagnação acadêmica. “O geoprocessamento e o sensoriamento remoto são disciplinas com as quais trabalhamos e com as quais tentamos capacitar o nosso bacharelando para o mercado de trabalho altamente competitivo. Enquanto isso, em algumas universidades, por exemplo, o geoprocessamento – também conhecido como Sistema Geográfico de Informação –, é uma disciplina eletiva”, salienta Sinval Autran.

O coordenador também ressalta a exigência de uma formação multidisciplinar para o geógrafo, que precisa entender desde a geografia física à geografia política. “Não dá pra analisar o meio ambiente separado do comportamento humano, porque é nessa relação que surgem várias implicações, como impactos ambientais e outras formas de ocupação do espaço. Por isso, o mercado de trabalho exige que o geógrafo tenha conhecimento multidisciplinar. Tanto é que no curso de Geografia, além de geógrafos, temos sociólogos, oceanógrafos, engenheiros civis e geólogos como docentes”, acrescenta Autran.

Além do bacharelado, o curso de Geografia da Ufal também oferta graduação em licenciatura. A formação do licenciado lhe permite dar aulas nos ensinos fundamental, médio e superior. Ambas habilitações possuem duração de quatro anos.