Laboratório cria novo sistema para monitorar a seca no Nordeste

Mapas gerados mostram 80% de áreas de vegetação degradadas no semiárido da região


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Em vermelho as áreas que perderam mais “verde” durante a seca de 2012 (Fonte: Lapis)
Em vermelho as áreas que perderam mais “verde” durante a seca de 2012 (Fonte: Lapis)

Manuella Soares - jornalista

O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas divulgou novas imagens do satélite Meteosat-9 que mostra como o semiárido nordestino está sendo afetado pela seca em 2012. Diante da situação da estiagem prolongada desse ano, a equipe difundiu dois mapas que comparam visualmente o vigor da vegetação referente aos meses de maio de 2011 a maio de 2012.

As diferenças evidentes entre os mapas podem ser comprovadas pelas áreas em vermelho, onde a vegetação é afetada pela falta de água. O potencial das imagens do satélite Meteosat-9 no monitoramento e mapeamento de secas, embora ainda no estado inicial, contribui para reforçar o conhecimento básico sobre a extensão geográfica e a magnitude das secas no semiárido da Região Nordeste.

O trabalho desenvolvido no Lapis serve de alerta e aponta uma situação agravada nos últimos 30 anos. No entanto, 2012 registra uma das piores secas já registradas, com 80% do semiárido atingido. As consequências da falta de chuva, esse ano, são mortes de animais, além da grande perda de produções agrícolas. Segundo o professor Humberto Barbosa, que integra o Lapis, há a necessidade de desenvolver metodologias para possibilitar uma melhor avaliação da extensão das secas, usando dados de satélites.

As pesquisas no Lapis são desenvolvidas desde 2006, com a ajuda do satélite Meteosat-9 e isso tem possibilitado um panorama completo e detalhado das áreas de seca e desertificação. Para visualizar melhor esses locais degradados, o professor explica que os pontos amarelos, constantes no mapa, representam uma transição da vegetação para o estado de seca. “Os pontos vermelhos ilustram a área já afetada pela estiagem; e os pequenos pontos em cinza são os locais onde a desertificação já está detectada”, ilustrou.

Segundo Humberto Barbosa, o problema da falta de água no nordeste brasileiro tem sido motivo de preocupação para as autoridades que já se mobilizam para diminuir os impactos e as consequências. “Com a dificuldade relacionada ao abastecimento de água para as comunidades distantes de grandes mananciais, os animais morrem, a produção agrícola não é suficiente e o sertanejo enfrenta o êxodo rural na tentativa de melhores condições de vida nas capitais. Esses são alguns dos transtornos sociais e econômicos causados pela seca, que por enquanto, não tende a mudar, mas há sempre esperanças de dias melhores com chuva para que o Lapis consiga gerar imagens mais verdes”, declarou.

Imagens do Meteosat-9 mostram efeito da seca no bioma Caatinga

De acordo com o mapa gerado em maio deste ano pelo Lapis, todo o semiárido de Alagoas é afetado pela seca, assim como acontece em todos os estados do Nordeste. Com a escassez de chuvas no sertão, em 2012, cerca de 80% da safra já está comprometida, sem previsão animadora para os agricultores pelos próximos oito meses.

As áreas mais graves estão nos pontos que aparecem em cinza, ou seja, as áreas que estão desertificadas. Particularmente os municípios de Parelhas (RN), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE), Belém de São Francisco (PE) e Floresta (PB) contribuem para aumentar a vulnerabilidade do semiárido nordestino à seca.

Sobre o Lapis

O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) é uma unidade de investigação e desenvolvimento integrada no Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat) da Ufal.  Nele, são realizadas atividades de pesquisa, assistência tecnológica e treinamento de recursos humanos para a recepção, processamento, interpretação e integração de imagens dos satélites da série Meteosat (MSG).

O laboratório da Ufal cria produtos de apoio meteorológico, com acompanhamento de áreas afetadas pelas chuvas, e ambiental, com monitoramento da vegetação (seca e desertificação) e da temperatura da superfície continental. A equipe é formada pelo coordenador Humberto Barbosa; dois bolsistas, Leandro Macedo e Anselmo dos Santos; além de um colaborador, o doutorando Ivon Wilson da Silva Junior.

A Ufal, por meio do Lapis, coordena mais de 40 estações no Brasil da Eumetcast da Eumetsat (agência europeia para exploração de satélites meteorológicos), presente em 20 estados do País. “As atividades do Lapis têm como missão realizar pesquisas cientificas na área de meteorologia por satélite, cobrindo práticas operacionais de recepção, processamento, disseminação e arquivamento de imagens do Meteosat-9 que permitem gerar informações de utilidade pública com caráter operacional, para serem utilizadas especialmente no monitoramento meteorológico e ambiental”, comentou o coordenador.

Na tentativa de levar o conhecimento adiante, os pesquisadores do Lapis organizam frequentemente eventos acadêmicos. Os próximos previstos são no Ceará, em agosto e, no Rio Grande do Sul, em setembro. Estes eventos podem ser consultados no portal do Lapis .