Médico do HU representa Alagoas em missão no Amapá

O cirurgião plástico Fernando Gomes integrou a equipe de médicos que realizou procedimentos em vítimas de escalpelamento


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O médico Fernando Gomes e equipe
O médico Fernando Gomes e equipe

Manuella Soares - jornalista

Devolver a autoestima de mulheres e crianças do estado do Amapá representou acima de tudo uma lição de vida. É o que conta o cirurgião plástico Fernando Gomes, do Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes – HUPAA e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, recém-chegado de uma missão de três dias no Norte do país, para operar mulheres vítimas de acidentes que causaram escalpelamento (a retirada brusca do couro cabeludo).

Para realizar esse trabalho, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica(SBCP) e o Governo do Amapá convocaram cerca de 41 pessoas, entre médicos e residentes de cirurgia plástica. O cirurgião do HUPAA foi o único representante de Alagoas a integrar a equipe de profissionais especializados no assunto de várias regiões do Brasil, a maioria deles, dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás, Amapá e Ceará.

“É sempre um aprendizado, todos que foram aprenderam uns com os outros, e o mais marcante é que não houve nenhum estrelismo, estavam todos querendo ajudar, então gerou uma produtividade alta, não existiram complicações e, todos os procedimentos saíram a contento”, ressalta o cirurgião.

O grupo realizou 52 cirurgias reconstrutoras numa intensiva maratona de trabalho que durou três dias e uniu esforços para contemplar os casos mais graves de escalpelamentos ocorridos em motores de barcos pelo rio Amazonas.

A missão

O setor de relações sociais da SBCP cuida das campanhas e mutirões realizados pelo Brasil, com o intuito de levar à população mais carente, o acesso a procedimentos esperados, muitas vezes, por longos anos. O trabalho filantrópico, coordenado pelo ex-presidente da SBCP,  Pedro Martins e, pelo cirurgião plástico Luciano Chaves, de Brasília, garante a utilização de toda a tecnologia nas operações.

O Governo do Amapá e o Ministério da Saúde custearam passagens e hospedagem de todos os médicos voluntários da missão. A primeira vez que o grupo viajou para o Amapá foi em março, quando fez uma triagem para avaliações dos casos e a elaboração de um plano cirúrgico, após muitas fotografias. A equipe discutiu amplamente as especificidades das crianças, jovens e senhoras amapaenses, com a opinião de cada profissional.

No início do mês de maio, os médicos retornaram à região para concretizar os procedimentos autoenxerto de pele (quando é retirada uma parte da pele do próprio paciente para transplantar em outro local do corpo, nesses casos, orelhas, rosto, etc); e reconstrução do couro cabeludo com microimplante capilar.

Mas o trabalho ainda não terminou. As mãos que recuperaram a alegria de muitas mulheres voltam a atuar em agosto para finalizar as cirurgias em que foi necessária a colocação de um expansor de pele nas pacientes que não tiveram o cabelo totalmente arrancado (o expansor é uma espécie de canal onde é injetada uma solução para aumentar gradativamente o volume da pele da cabeça e, em seguida, utilizar partes do couro cabeludo para cobrir as outras áreas).

“É importante nós estarmos inseridos num ambiente como esse até porque Alagoas quase sempre fica de fora dos procedimentos importantes no Brasil, então eu me sinto realizando a minha atitude cidadã, eu faço isso com um prazer imenso”, destaca o médico.

Entenda os acidentes

O escalpelamento acontece quando as vítimas, ao se aproximarem do motor, tem seus cabelos repentinamente puxados pelo eixo. A forte rotação ininterrupta do equipamento, ao enrolar os cabelos em torno do eixo, arranca bruscamente todo ou parte do escalpo, inclusive orelhas, sobrancelhas e por vezes uma enorme parte da pele do rosto e pescoço, levando a deformações graves e até a morte.

Esse tipo de acidente é bastante comum nos estados do Amapá, Acre e Amazonas devido à rotina dos moradores ribeirinhos, que dependem de pequenas e precárias embarcações como meio de transporte e sobrevivência.

Os acidentes ocorrem com mulheres, principalmente, porque é delas a tarefa de retirar a água que entra no barco, já que em muitos casos o motor fica no centro, e não atrás. Mas navegar sem uma proteção representa perigo também para as crianças, que podem cair em cima ou próximas ao motor e ter o cabelo arrancado por causa da rotação de 1.500 a 3.000 vezes por minuto.

A luta contra o escalpelamento

A lei federal nº 1.970, de 2009, torna obrigatória a instalação de proteções em torno de áreas móveis e do eixo do motor de embarcações. Quem descumprir a orientação pode ter o barco apreendido.

De acordo com dados da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, cerca de 2 mil embarcações já têm a cobertura do eixo do motor, mas a luta para acabar com os escalpelamentos é reforçada num trabalho de prevenção. A Capitania instala gratuitamente a cobertura sempre que um barco é encontrado em situação irregular.

Sobre o representante da Ufal

O cirurgião Fernando Gomes é professor da Faculdade de Medicina ( Famed), com doutorado pela Universidade Federal de São Paulo e, coordenador do Serviço de Cirurgia Plástica no Hospital Universitário (HUPAA). Além das atividades de docência e prática médica, Dr. Fernando foi presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica no biênio 2010/2011 e é assistente estrangeiro pela Universidade de Paris VII – Hospital Saint Louis.

Atualmente, é revisor da Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica; membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e membro correspondente do Instituto Histórico e Arqueológico de Pernambuco.