Projeto de Extensão tem trabalho voltado a pessoas com autismo

Há três anos o Premaut possibilita a ação motora autônoma de crianças


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Cerca de 300 pessoas participaram do seminário | nothing
Cerca de 300 pessoas participaram do seminário

Bruno Cavalcante – estudante de Jornalismo

A Universidade Federal de Alagoas, por meio do Projeto de Extensão Atividade Motora dirigida a Pessoas com Autismo (Premaut), realizou o 2º Seminário de Conscientização sobre Autismo. O evento, ocorreu na última sexta-feira (27), reuniu cerca de 300 participantes e contou com palestras voltadas à comunidade acadêmica e aos familiares de crianças e adolescentes portadores da disfunção.

Na oportunidade, foram discutidas as formas de diagnóstico e atenção precoce, nutrição e atendimentos individuais e grupais aos usuários do serviço ofertado pelo grupo. O seminário foi promovido pela coordenação geral do Premaut, junto com estagiários voluntários do curso de Educação Física. O objetivo da equipe é realizar anualmente atividades alusivas ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado em 2 de maio, voltadas a acadêmicos, profissionais e familiares que tenham relação com portadores da doença.

O autismo é um transtorno global do desenvolvimento, que pode ser identificado, desde os primeiros meses de vida, a partir da comunicação afetiva entre bebê e mãe. “Por se tratar de um transtorno global do desenvolvimento, é preciso compreender que há um conjunto de sintomas que necessita ser atendido por diferentes profissionais. No que se refere ao comportamento motor, o Premaut tem demonstrado que as estereotipias e as desabilidades motoras apresentadas em seu grupo de intervenção têm sido objeto de pesquisas com resultados positivos”, explicou Chrystiane Vasconcelos Andrade Toscano, professora do curso de Educação Física e coordenadora do programa.

Dois temas estavam na pauta do seminário: a nutrição e o diagnóstico precoce de crianças com autismo. Conforme a palestrante Eva Eugênia Costa, nutricionista da Maternidade Escola Santa Mônica, junto à terapia de estimulação do movimento e à inclusão pedagógica, o cuidado com a dieta contribui de forma eficiente no tratamento de pessoas que apresentam a disfunção. “Alimentos ricos em trigo e leite de vaca e os industrializados devem ser evitados, pois eles provocam reações alérgicas e neurotóxicas. Em alguns casos, a ingestão de nutrimentos à base trigo podem causar agitação e lentidão de pensamento”, aconselhou.

A neurologista infantil do Hospital Universitário (HU), Terezinha Rocha, alertou quanto aos sinais de risco e à identificação do transtorno e disse que faixa etária ideal para fazer um diagnóstico é em crianças com até dois anos de idade. Segundo a especialista, as crianças com autismo apresentam dificuldade de interpretar a realidade. “Elas não dão sentido à funcionalidade de brinquedos, por exemplo. Os objetos não ganham diferenciação. Elas não elaboram a imaginação, não brincam de ‘fazer de conta’”, disse.

Como formas de reconhecer o autismo, a neurologista chamou a atenção para a importância na observação de como crianças respondem aos estímulos ambientais e como elas se socializam com outras pessoas. “Os pais devem verificar, por exemplo, se o sorriso da criança é uma resposta à interação ou apenas uma manifestação mecânica; ou ainda, se ela procura ser tocada e se reage ao afago. Crianças com espectro de autismo não reagem ao carinho dado”, explicou.

Funcionamento do Premaut

Desde 2009, o Premaut faz atendimento às terças e às sextas, no Ginásio Poliesportivo do Campus Maceió. Segunda a coordenação do programa, o engajamento e o acompanhamento de familiares são fundamentais para que o trabalho do grupo aconteça de maneira eficaz. “A família nos oferece todas as informações necessárias ao diagnóstico do funcionamento motor de seu filho. Em seguida, recebe as orientações voltadas ao plano de intervenção individualizado no processo de treinamento motor”, explicou Chrystiane Toscano, acrescentando que, durante as seções, familiares colaboram com as atividades de controle motor e construção de habilidades motoras funcionais.

Além de Chrystiane, o Premaut é formado por 22 estagiários do curso de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado). O grupo recebe crianças, adolescentes e adultos vindos de Centros de Saúde e Educação de Maceió que tenham um relatório clínico de autismo (pré-requisito para inclusão no projeto).

Para a professora, o trabalho à frente do Projeto tem permitido articular ensino, pesquisa e extensão, além de transmitir aos futuros profissionais a responsabilidade social com as demandas sociais em Alagoas, sobretudo na capital do Estado. “O Premaut é um projeto de vida profissional, considerando que ele nasceu de uma grande vontade de oportunizar um serviço de qualidade a pessoas com tantas carências de atendimento as suas reais necessidades”, declarou.

Com planos de se tornar grupo de pesquisa, o Premaut já colhe diversos resultados na área acadêmica: publicações de artigos em revistas de circulação internacional e apresentação de resumos ampliados em congressos brasileiros.