Campus A.C. Simões ganha primeiro Bosque em Defesa da Vida
Mudas de árvores nativas da mata atlântica foram plantadas e identificadas com o nome das vítimas
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Diana Monteiro – jornalista
Mobilização, caminhada e discursos emocionados em nome da paz, defendidos por familiares de vítimas fatais da violência em Alagoas, marcaram o 11º Ato do Programa Ufal em Defesa da Vida. O evento, que aconteceu na manhã desta quarta-feira, 13, culminou com a instalação de um bosque no Campus A. C. Simões, dando início ao processo de resgate de histórias de cada uma das vítimas.
Mesmo sob forte chuva, a ação do programa, denominada “A dor que os números não revelam”, contou com a participação de autoridades, representantes da sociedade civil e dos três segmentos universitários (docentes, técnicos e estudantes). O hall da Reitoria concentrou os participantes do ato, onde familiares escolheram as espécies de árvores que simbolizassem o seu ente querido.
Foram disponibilizadas 12 espécies de plantas nativas da mata atlântica alagoana: canafístula, ipê-roxo, angico, braúna, ouricuri, cajá, paineira, pau-formiga, aroeira da praia, pau-ferro, craibeira (árvore símbolo de Alagoas) e a planta africana baobá. As mudas foram plantadas no bosque. “Agora nós temos onde visitar nosso querido pai”, declarou Olga Miranda, ao plantar um ipê-roxo junto com seu irmão, Yuri Miranda, e familiares do homenageado alagoano, Jaime Miranda, vítima da ditadura militar e desaparecido político desde 1979.
Assim como Olga Miranda, outros participantes em situação semelhante passaram a ter no Bosque em Defesa da Vida do Campus A. C. Simões o sentimento de referência de homenagem a familiares desaparecidos. Cada árvore plantada está identificada com o nome da vítima e conta um pouco de sua história. Muitos revelaram que o local serviria como símbolo de seu ente perdido e utilizarão o local como um túmulo para futuras visitas.
Participando de todas as atividades do 11º Ato, o reitor Eurico Lôbo considerou a ação um momento de conscientização para a importância do direito à vida e à cidadania. “A Ufal está engajada na discussão desse grave problema, que é a violência em nosso Estado, participando ativamente nos diferentes fóruns, independente de correntes políticas. Precisamos de um clima de paz, do direito de ir e vir, de uma sociedade mais justa, socialmente”, afirmou.
O Bosque em Defesa da Vida localiza-se próximo ao Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) e a entrada foi adornada com mudas da planta nativa ouricuri, considerada sagrada pelos indígenas. Para o centro do bosque, os organizadores do programa escolheram o baobá, espécie considerada sagrada pelos africanos.
O projeto paisagístico do bosque é da professora Regina Coeli, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Outros dois serão instalados nos campi Arapiraca e do Sertão, com a mesma finalidade. “Os bosques estarão disponíveis como locais sagrados para a reflexão sobre mortes violentas em Alagoas. Esse não é um momento de comemoração e estamos enlutados como vocês, cumprindo uma função importante na sociedade”, disse a professora Ruth Vasconcelos, coordenadora do Programa Ufal em Defesa da Vida.