Estudos contribuem com a melhoria do ensino de matemática

Professores da rede pública de ensino aprofundam conhecimentos durante curso de mestrado


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Lenilda Luna - jornalista

O ensino de Matemática é um desafio nas escolas, principalmente as da rede pública, que se ressentem com a carência de recursos didáticos e de profissionais no quadro em número suficiente. A disciplina, geralmente, é considerada como a mais difícil pelos alunos. Por um lado, esse grau de dificuldade acaba exigindo mais atenção; são as aulas com menos registros de faltas. Por outro, criam uma relação de antipatia com a Matemática, vista, muitas vezes, como o maior obstáculo para a aprovação no ano letivo.

Segundo Ediel Guerra, doutor em Matemática e professor da pós-graduação do Instituto de Matemática da Universidade Federal de Alagoas, existem vários fatores que fazem com que a disciplina seja considerada difícil pelos alunos. “Destaco, entre esses fatores, o caráter sequenciado do saber matemático. Ou seja, para você aprender um determinado conteúdo matemático é necessário que você domine alguns conhecimentos prévios. Por exemplo, a aprendizagem das operações com números decimais requer que o estudante domine as técnicas das quatro operações com números inteiros”, explicou.

Essa sequência na aprendizagem da disciplina de matemática pode ser prejudicada tanto pelas dificuldades dos alunos, que perdem aulas e não aprendem o conteúdo, ou, muitas vezes, porque a escola não tem professores suficientes para todas as turmas. “Quando o estudante não tem previamente esses conhecimentos para a aprendizagem de um conteúdo, as coisas ficam muito mais complicadas para o professor, que se vê no dilema seguinte: ensinar a ementa do curso para atender as expectativas da direção da escola, que exige o cumprimento do programa, ou adiar o ensino dos conteúdos da ementa do curso para ensinar conteúdos que os estudantes já deveriam ter previamente”, ressaltou Guerra.

Capacitação dos professores

A falta de disposição dos alunos para fazer e refazer exercícios de apropriação dos conteúdos dificulta a aprendizagem da matemática. Mas, muitas vezes, é o professor que não está preparado para apresentar a disciplina como um conteúdo atraente e relacionado ao dia a dia de todas as pessoas. “Muitas vezes o professor não conhece meios alternativos que permitam ao estudante se envolver adequadamente na construção do conhecimento matemático a partir dos conhecimentos que dispõe”, refletiu o professor.

Em relação à capacitação, os cursos de mestrado e doutorado oferecidos pela Ufal tem contribuído para a qualificação dos docentes das escolas públicas. Nos últimos meses, algumas dissertações defendidas por professores do ensino fundamental visam à reflexão sobre as dificuldades no ensino-aprendizagem da Matemática, apresentando alternativas de abordagem dos conteúdos.

No final do ano passado e início deste ano, o professor Ediel Guerra orientou duas dissertações nessa linha: “O ensino do conceito de área no sexto ano do ensino fundamental: uma proposta didática fundamentada na teoria de van Hiele”, do estudante Wellington Araújo, professor na rede de ensino municipal de Maceió; e “A conceituação dos números racionais no sexto ano do ensino fundamental”, de Vanessa da Silva Alves, professora na rede de educação básica do Estado de Alagoas.

Atualmente, o professor Guerra orienta mais três dissertações no campo do ensino de matemática, sendo duas delas no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PGECIM) e uma no mestrado profissional em Matemática em Rede Nacional ( Profmat). Os temas em análise são: “Os pontos notáveis de um triângulo: uma abordagem por meio do GeoGebra”, de José Ivan, professor na escola técnica de Palmeira dos Índios; “As transformações do plano como instrumentos facilitadores no esboço de gráficos de funções”, da mestranda Anayara Gomes, professora na Ufal, e “Uma abordagem da geometria de posição no ensino médio por meio de material manipulável”.

Os dois programas de mestrado visam a qualificação dos professores que atuam nas escolas, formando os conceitos matemáticos com crianças e adolescentes. O PPGECIM é um mestrado profissional que reúne seis unidades acadêmicas da Ufal: Cedu, ICBS, IF, IM, IQB e Campus Arapiraca, além de contar com a colaboração do Instituto Federal de Alagoas. Já o PROFMAT é um mestrado profissional,semipresencial, realizado por uma rede de instituições de ensino superior, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB), com a coordenação da Sociedade Brasileira de Matemática.

Mudanças no ensino-aprendizagem

O professor Ediel Guerra destaca que aumentaram os investimentos para capacitar o professor da educação básica. Estes profissionais, por sua vez, estão aproveitando  oportunidades e buscando qualificação na área em que atuam. “Ainda assim, as resistências são grandes, porque grande parte dos pesquisadores ainda prioriza a formação de matemáticos ou de professores que atuarão na educação superior”, ressaltou o pesquisador.

Uma das ações voltadas para a qualificação da educação básica é o Programa Institucional de Bolsistas de Iniciação à Docência (Pibid). “Esse programa busca aproximar os cursos de licenciatura das escolas, além de criar um diálogo entre o ensino superior e os professores que atuam na educação básica, possibilitando ao estudante a aprendizagem a partir da reflexão sobre a prática”, destacou Ediel.

A aproximação do conteúdo ao cotidiano dos alunos também tem sido uma busca dos professores e pesquisadores. “Tem sido uma preocupação da licenciatura em Matemática em promover um curso cada vez mais preocupado em possibilitar a aprendizagem da matemática a partir de metodologias mais próximas da realidade existencial dos estudantes, que possibilite a aprendizagem da docência a partir da reflexão da prática docente. Acho que temos muito que aprender em relação a esse aspecto, mas estamos avançando nesse sentido”, destacou Ediel Guerra.

A carreira de professor ainda é pouco atrativa

Sobre a realidade alagoana, a carência de professores de matemática ainda é um grave problema na rede pública de ensino. Ediel Guerra acredita que a causa principal é a baixa atratividade da carreira de professor da educação básica. “A carreira docente não possui o reconhecimento social que deveria. A verdade é que, quando o assunto é educação, nota-se uma grande hipocrisia social nos discursos. Todos afirmam categoricamente que a educação deve ser prioridade nacional, mas, quando chega o momento de se votar os orçamentos, a educação perde o status de prioridade e passa à categoria de despesas a serem minimizadas”, denunciou o professor.

A distância entre o discurso e a prática, quando o assunto é educação, não é difícil de detectar. “Basta olhar o estado de conservação de nossas escolas e bibliotecas públicas. Isso é um dado profundamente emblemático do lugar ocupado pela educação na sociedade brasileira. O estado de conservação dos prédios e acervos das escolas no Brasil, e particularmente em Alagoas, é vergonhoso. É profundamente contraditório afirmar que educação é prioridade nacional e manter as escolas, as bibliotecas e a carreira docente no patamar que hoje se encontram”, concluiu Ediel Guerra.