Profissionais de várias áreas fazem capacitação sobre o crack e outras drogas
Especialistas de São Paulo e Pernambuco capacitam profissionais de municípios alagoanos
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Lenilda Luna - jornalista
Na última sexta-feira, 31 de agosto, cerca de 60 profissionais da área de saúde, educação e assistência social de oito municípios alagoanos estiveram reunidos na Escola de Enfermagem e Farmácia da Universidade Federal de Alagoas, para mais uma etapa do curso de capacitação promovido pelo O Centro Regional de Referência em Crack e outras Drogas (CRR) da Ufal. Os cursos são oferecidos para capacitar os profissionais que atuam diretamente com pessoas que estão sendo afastadas do convívio social por causa do avanço das drogas.
Segundo Aline Fidelis, uma das coordenadoras do CRR, a gravidade da situação em municípios do interior de Alagoas está motivando os profissionais a buscarem mais informações sobre como lidar com o problema. “Esta não é uma questão que possa ser enfrentada só pela família, ou encarada apenas como caso de polícia. Toda a sociedade precisa agir de forma intega, com um plano de ação concreto, aplicado a cada realidade", ressalta Aline.
Para esta etapa, foram convidados dois especialistas: Pollyanna Pimentel, assistente social e gerente do Programa Mais Vida, do Recife, e o professor Erikson Felipe Furtado, professor da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, integrante do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento.
O contexto social da dependência
Pollyanna Pimentel falou sobre a experiência do programa de Redução de Danos, em Recife, que desenvolve estratégias para o gerenciamento de casos e reinserção social dos dependentes químicos, com atenção especial para o usuários de crack, por conta dos efeitos rápidos e devastadores desta droga. "O desafio é grande porque temos uma demanda maior do que a capacidade instalada para o atendimento, por isso a necessidade de capacitar os profissionais", destaca a assistente social.
Segundo a especialista, vários casos de violência estão relacionados ao aumento no consumo das drogas, especificamente o crack. "A droga potencializa a agressividade que acaba se refletindo no trânsito, na família e de forma cada vez mais precoce na escola. Nas universidades, não fomos preparados para lidar com esta situação", pondera Pollyanna.
Outra questão enfatizada pela especialista foi a necessidade a abordar a questão das drogas dentro do contexto social. "Esse é um problema que mexe com valores, preconceitos e perspectiva de vida. Não podemos esquecer que estas pessoas se tornam dependentes ou traficantes mutias vezes porque não encontram oportunidades de acesso aos bens e serviços a que têm direito", ressalta a assistente social.
Motivação para o tratamento
O médico psiquiatra Erickson Furtado estuda os impactos das drogas sobre o organismo humano desde 1996. Ele fez pós-doutoramento na área de Álcool e Drogas, no Central Institute of Mental Health - Mannheim, Alemanha, de 2000 a 2001. Atualmente é pesquisador principal e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Psiquiatria Clínica e Psicopatologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP e também coordena o Programa de Ações Integradas para Prevenção e Atenção ao Uso de Álcool e Drogas na Comunidade.
O pesquisador compartilhou suas experiências com os médicos do Programa Saúde da Família, agentes de saúde, assistentes sociais, profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (Suas) de Alagoas. Os profissionais receberam orientações sobre como motivar o paciente a buscar o tratamento. "Muitas vezes fazemos o discurso das complicações psiquiátricas, mas o paciente acaba se convencendo de que precisa se tratar quando falamos sobre o efeitos no organismo, como hipertensão, tumores e outras complicações médicas", explicou o especialista.
Erikson apresentou técnicas acessíveis a qualquer profissional de saúde e que podem ser utilizadas no dia-a-dia das clínicas e hospitais. "O paciente procura tratamento para a dependência química por medo de adoecer. Os profissionais que lidam com ele, como o enfermeiro, o médico ou assistente social, devem estar preparados para buscar a adesão dele ao tratamento enquanto ainda não está num quadro mais grave", relata Erikson Furtado.
Do litoral ao sertão, o problema se agrava
Não é só na capital alagoana que a questão do uso de drogas assusta. Profissionais das áreas de assistência social, educação e saúde precisam lidar com o agravamento deste quadro também nas cidades do interior. Lenilda da Paz, por exemplo, é assistente social em Santana do Ipanema, no sertão alagoano. Ela diz que o município é pequeno, com 48 mil habitantes, mas já registra muitos jovens dependentes químicos. "É preciso enfrentar esta realidade em parceria com as famílias, por isso, esse curso foi uma grande oportunidade para entender a problemática das drogas com uma perspectiva mais ampla", ressalta a assistente.
João Paulo Mendes é da mesma cidade e atua como pedagogo. Ele se surpreende como o crack se disseminou de forma avassaladora também nas cidades de menor porte. " hoje, como educadores, não podemos ficar alheios a esta situação. É preciso saber como lidar com o dependente com um atendimento humanizado", destaca o educador.
Em Rio Largo, segundo a enfermeira Mônica Batista, que também estava no curso, o hospital municipal IB Gatto tem alas específicas para o internamento e tratamento de usuários do crack. "Estamos integrando a estratégia do governo federal para o enfrentamento desta droga e precisamos estar preparados para este desafio", destaca a profissional.
O fisioterapeuta Murilo Nunes, de Arapiraca, também está fazendo o curso para se capacitar melhor com relação ao crack. "Queremos atuar na prevenção. Precisamos evitar que as crianças cheguem a experimentar essa droga. Por isso, é preciso dialogar com as famílias e desenvolver projetos de conscientização e informação nas escolas", concluiu o profissional.