Congresso explora turismo ambiental em Alagoas

Congresso Brasileiro de Ornitologia abre espaço para leigos e cientistas conhecerem a riqueza das matas que abrigam aves em extinção


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XIX Congresso de Ornitologia reúne leigos, cientistas e estudantes
XIX Congresso de Ornitologia reúne leigos, cientistas e estudantes

Manuella Soares – jornalista

As belas praias do litoral alagoano já são bem conhecidas e lembradas pelos turistas que visitam o Estado. Mas a riqueza natural de Alagoas se estende à imensa fauna que conta com uma diversidade de aves de 417 espécies, também encontradas em parte do bioma da Mata Atlântica do Brasil. Observar algumas delas, fotografá-las e conhecer um pouco do habitat são objetivos idealizados pelo professor Márcio Efe, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, que promove até a próxima sexta-feira (23) o XIX Congresso Brasileiro de Ornitologia, ciência que se dedica ao estudo das aves.

Além das discussões teóricas e da troca de conhecimentos entre os estudantes e pesquisadores, os participantes do CBO e o público interessado têm a oportunidade de estar mais parto da natureza. Parceiros como a  Secretaria de Turismo de Alagoas, o Maceió Convention & Visitors Bureau, e o Sebrae abraçaram o projeto e disponibilizam excursões programadas para destinos como Mata do Cedro, APA do Catolé e Mata de Murici, onde registra a maior quantidade de espécies de aves em extinção das Américas.

“Nós somos o país das aves, mas ainda não somos o país dos observadores, porque não temos essa cultura. Essa atividade vai fomentar o turismo de fauna em Alagoas. O Estado tem grande potencial para atender ao público cientista e amador”, comentou o professor Márcio Efe. A programação faz parte da 1ª Feira Nacional de Observadores de Aves (Fenoa), com saídas diárias a partir do Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso. Na próxima quarta-feira, 21, será a vez dos congressistas de todo o país conhecerem onde vivem as aves em extinção em Alagoas.

Preservação é esforço coletivo

O pensamento ambientalista e os esforços voltados para os estudos de preservação das aves estão concentrados no Centro de Convenções, em Maceió. A 19ª edição do Congresso Brasileiro de Ornitologia desperta o interesse de alunos e pesquisadores da área preocupados com as questões de bio conservação das espécies. São mais de 500 inscritos e 400 trabalhos apresentados até o dia 23.

Uma das palestrantes convidadas, a professora Cristina Miyaki, da Universidade de São Paulo (Usp), falou sobre a contribuição da genética para identificar as espécies, a população de origem, o sexo das aves, os híbridos e a variabilidade genética que podem colaborar com a programação de reprodução em cativeiro. As pesquisas que buscam conhecimento e melhoramento das espécies também são fundamentais para a preservação das aves.

O professor Renato Gaban, do ICBS/Ufal, orienta o trabalho de Iniciação Científica da aluna Eloísa Lopes Lira, que trabalha no refinamento do método utilizado no estudo histológico para aplicar nas pesquisas de morfologia das Siringes, o órgão responsável pelo canto das aves. “Isso é muito importante para desenvolver futuros sistemas filogenéticos para estudos evolutivos e funcionais sobre esse órgão. Em outra pesquisa que eu coorientei, do aluno Felipe de Carvalho, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisamos um grupo dos Arapaçus, através do esqueleto, para saber quais as relações de parentesco entre eles”, destacou Gaban.

A abrangência da temática no Congresso de Ornitologia trouxe o doutorando Túlio Dornas, da Rede Bionorte de Biodiversidade da Amazônia Legal, para contar a experiência dele num trabalho que revelou um fenômeno que está acontecendo no estado de Tocantins. Dornas registrou o encontro de duas espécies da ave Polícia-Inglesa, que tem originalmente a distribuição geográfica diferente: uma do Norte e a outra do Sul.

“Por causa do desmatamento, onde retiram floresta e vira campo de pastagem, as aves avançam do território natural e procuram esse habitat artificial, se encontrando numa área conhecida como arco do desmatamento. Esse encontro pode propiciar o cruzamento delas e a formação de híbridos, ou seja, aves que não são reprodutivamente férteis”, explica, com a preocupação de cientista, mas com a consciência que deveria ser comum entre todos os brasileiros.