Estudo aponta que atletas olímpicos têm dificuldade para encerrar carreira
Pesquisa com ex-atletas brasileiros e portugueses foi tema do doutorado da professora Socorro Dantas, em Portugal
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Diana Monteiro – jornalista
Para qualquer atleta, saber a hora de parar de competir ainda é um momento de pouca aceitação, de insegurança, de angústia e, por que não dizer, de difícil decisão. Imagine quando esse momento chega para o atleta de alta competição, o olímpico, cuja diminuição de rendimento físico, na maioria das vezes, chega mais cedo do que o resto das pessoas.
Para confirmar esses fatos, a professora Socorro Dantas, do curso de Educação Física da Universidade Federal de Alagoas, realizou pesquisa com ex-atletas olímpicos brasileiros e portugueses, consagrados no mundo das competições esportivas. Ela constatou que falta aos atletas uma preparação psicológica para o encerramento de suas carreiras, mesmo eles sabendo que o tempo se encarrega de fazer as mudanças corporais inerentes ao envelhecimento.
Socorro Dantas estudou grupo composto por oito ex-atletas olímpicos e mundiais, na faixa de 47 a 74 anos. Do Brasil, José Montanaro Júnior, do vôlei; Maria Paula Gonçalves da Silva, a magic Paula, do basquete, como ficou conhecida; e José Luís Barbosa, o Zequinha Barbosa do Atletismo. De Portugal foram ouvidos Armando Marques, da modalidade Tiro; Manuel Quina, da Vela; Esbela da Fonseca Regalo, da modalidade ginástica olímpica; e Carlos Lopes, da modalidade Atletismo, que recebeu em Portugal, o prêmio de "Atleta do Século".
A pesquisa denominada de “Envelhecimento de Atletas Olímpicos de Portugal e Brasil” foi tema da tese do doutorado em Ciências do Desporto de Socorro Dantas. Foram quatro anos de estudo na Universidade do Porto e a defesa foi no primeiro semestre de 2012.
O estudo teve como objetivo compreender os sentidos do processo de envelhecimento nas suas diferentes dimensões, para ex-atletas olímpicos. Segundo Socorro, tanto ex-atletas brasileiros como portugueses consideram o tempo disponível proporcionado pelo afastamento do esporte como algo positivo, o que proporciona a construção de um tempo mais pessoal para si e para as relações sociais. Mas constatou-se também o quanto foi difícil enfrentar e assimilar o momento de encerramento da carreira.
“Por meio de suas narrativas de vida eles demonstram dificuldades em aceitar os efeitos do tempo sobre o corpo, principalmente em relação à diminuição da autonomia física. Percebem o tempo cronológico e seus efeitos deletérios para o desempenho de atleta como um processo natural e linear, no entanto deixam transparecer uma certa angústia em aceitar o fim da carreira”, destacou Socorro Dantas.
De maneiras diversas todos os ex-atletas se prepararam para assumir novos papéis na vida após o afastamento das competições. Mas a pesquisa também constatou que as experiências no esporte foram vivenciadas intensamente por eles ao longo da carreira, e as reflexões dessas experiências acompanham suas vidas e permitem que eles valorizem o passado no modo como tornam suas decisões no presente.
Apoio psicológico
O apoio da família em todas as fases do atleta é considerado essencial por Socorro Dantas, principalmente quando chega a hora do afastamento das competições, quer seja por impossibilidade física, causada por lesões, ou no processo natural de vida, que requer também preparação psicológica para a fase de transição. “Ainda não se despertou no mundo do Esporte, de uma maneira geral, a importância desse apoio a ex- atletas e essa é uma área que carece de estudos para que sejam implantadas ações voltadas a essa realidade”, afirmou.
Como estão nossos atletas
A Paula do Basquete ou Magic Paula, como ficou conhecida, foi a jogadora que mais participou de campeonatos mundiais e projetou-se nacional e mundialmente nessa modalidade, nas décadas de 80 e 90. Ela teve carreira encerrada em 2000. Em 2006 passou a integrar o Naismith Memorial Basketball hal of Fama ( O Hall da Fama do Basquete nos Estados Unidos). É fundadora do Instituto Passe de Mágica, em Diadema-SP, que atende cerca de 700 crianças de 7 a 15 anos. Atualmente Paula realiza palestras motivacionais dirigidas à empresas pelo país.
Montanaro do Vôlei é um dos líderes da famosa geração de prata que, em 1984, conquistou a primeira medalha olímpica para o Brasil, nas Olimpíadas de Los Angeles (EUA). A partir de 1993 passou a atuar fora das quadras colaborando de outras maneiras para o desenvolvimento maior do Vôlei brasileiro.
De origem humilde, Zequinha Barbosa do Atletismo faz parte do período de ouro nessa modalidade de esporte no Brasil e no mundo e foi um dos únicos atletas a participar de quatro olimpíadas, nove campeonatos mundiais e três jogos pan-americanos. Suas melhores marcas foram nas competições mundiais.
Em 2001, com o apoio de toda a comunidade esportiva, Zequinha fundou o IZB - Instituto Zequinha Barbosa, com a finalidade de promover ações socioeducativas. Ele criou o projeto Correndo pela Vida, que recebeu patrocínio da Caixa Econômica Federal. Atualmente mora no Arizona-Estados Unidos e trabalha como preparador físico do ala-armador Leandrinho (basquete), da equipe do Phoenix Suns.