Estudo pioneiro busca identificar os principais patógenos de micoses na população alagoana
O projeto tem a coordenação da professora Fernanda Maranhão, conta com vários parceiros locais e começa em dezembro pela cidade de Maceió
- Atualizado em
Diana Monteiro - jornalista
Unhas e cabelos quebradiços, manchas brancas na pele, conhecidas como “pano branco”, e lesões nas mucosas oral e genital são problemas gerados por micoses, infecções causadas por fungos e, dependendo do patógeno e da imunidade do afetado, podem gerar infecções crônicas e recorrentes ou levar à morte. O risco é maior para pacientes em quimioterapia e portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV).
A grande incidência de pessoas em Alagoas com algum tipo de micose e a falta de dados epidemiológicos chamaram a atenção da equipe de pesquisadores do Laboratório de Microbiologia Geral e Clínica (LMGC), do Instituto de Ciências Biológicas da Saúde, da Universidade Federal de Alagoas. “Alguns fungos causadores de micoses superficiais estão na nossa microbiota normal, mas em baixa imunidade e com uso prolongado de antibióticos ou corticoide, por exemplo, podem surgir as micoses”, destacou a coordenadora do laboratório Fernanda Maranhão
Fernanda, bióloga genteicista, diz que entre as micoses de maior incidência está a candidíase, causada por Candida spp., que acomete frequentemente a cavidade oral e mucosa genital e é perigosa para pacientes soropositivos (AIDS) ou internados por longos períodos, pois a disseminação hematogênica (pelo sangue) para vários órgãos pode levar ao óbito. As dermatofitoses são as principais micoses superficiais, causadas por dermatófitos como Trichophyton spp., conhecidos por degradarem queratina no cabelo, pele e unha.
Outra micose de grande incidência na população é a pitiríase versicolor e a maioria das lesões vem da autoinfecção. É causada por Malassezia spp. e deixam a pele normalmente com manchas brancas típicas. ”Esse tipo de fungo geralmente causa lesões na pele oleosa e não deve ser denominada micose de praia”, disse a professora.
Parcerias científicas
O projeto “Monitoramento e identificação molecular de agentes causadores de micoses superficiais” receberá recursos recém-aprovados da Fundação de Amparo à Pesquisa em Alagoas (Fapeal/CNPq) para dois anos, com início previsto em dezembro deste ano. “Começaremos a pesquisa pela cidade de Maceió e o estudo objetiva identificar os principais fungos causadores de micoses, visando estabelecer dados epidemiológicos em Alagoas acerca dos afetados e os perfis gerais e moleculares dos fungos em ampla pesquisa sobre micoses”, informou a pesquisadora.
Segundo Fernanda, conhecer dados locais trará benefícios diversos. Entre eles, melhorias na prevenção de doenças e aprofundamento nas pesquisas acerca da Micologia Médica e Biologia Molecular no Estado. Está em andamento no LMGC pesquisa que pretende gerar uma Micoteca Clínica para estoque dos fungos reidentificados. A pesquisa aprovada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da Ufal dará suporte ao novo projeto e tem a participação das alunas Evyslayny Magalhães e Jacqueline Melo, do curso de Ciências Biológicas bacharelado.
“Por conta dessa primeira pesquisa já dispomos no laboratório de mais de quarenta fungos filamentosos ou leveduras coletados, e estocados conforme recomendam a literatura científica e Micotecas com certificação nacional e internacional”, enfatizou Fernanda. A coleta dos fungos é feita pelos parceiros da pesquisa e repassados ao laboratório para etapas laboratoriais e estoque, seguindo os procedimentos para a identificação, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
São parceiros da pesquisa o Hospital Universitário (HU), Hospital Geral do Estado, Laboratório Dilab e o Centro de Patologia e Medicina Laboratorial que recebem amostras clínicas do Hospital Dr. Hélvio Alto e da Maternidade Santa Mônica. Os colaboradores do projeto são os professores e pesquisadores Denise Maria Wanderlei Silva e Eurípedes Alves da Silva Filho, do ICBS, e a microbiologista Maria Anilda dos Santos Araújo, do HU.
Recomendações
Fernanda Maranhão reforça que todas as micoses abordadas na pesquisa têm tratamento. O mais prolongado é para as dermatofitoses, pois quando a unha é acometida pode levar no mínimo quatro meses de terapia até a cura. Para o “pano branco”, a cura pode ser espontânea. Já as micoses provocadas por Candida spp. têm período de tratamento e cura variáveis, dependendo da área afetada e da imunidade.
“Ao aparecimento das primeiras lesões recomendamos procurar um dermatologista, pois quanto mais tardia a procura, mais prolongado será o tratamento. Em pessoas com HIV+ e doença ativa, deve haver um acompanhamento constante para que o médico responsável inicie o tratamento adequado quando surgir o primeiro sintoma ou lesão suspeita de micose”, orientou a pesquisadora.