Núcleo de pesquisa da Ufal realiza estudo em sítios arqueológicos de Limoeiro de Anadia

Trabalho deve revelar informações importantes para a compreensão do modo de vida dos povos indígenas em Alagoas


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Flávio Moraes coordena a pesquisa nos sítios arqueológicos em Limoeiro de Anadia | nothing
Flávio Moraes coordena a pesquisa nos sítios arqueológicos em Limoeiro de Anadia
Deriky Pereira – Estudante de Jornalismo

Localizado na região central de Alagoas, o município de Limoeiro de Anadia vinha guardando, durante todo esse tempo, informações que poderiam acrescentar riqueza cultural à história de nosso Estado. Mas, a partir de agora, por meio de uma ação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um estudo em sítios arqueológicos da cidade será realizado pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa Arqueológico (Nepa) da Universidade Federal de Alagoas, em parceria com a Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes), a fim de revelar essas informações.

“Os trabalhos serão financiados pelo Iphan e irão contribuir para uma melhor compreensão quanto ao modo de vida dos povos indígenas que ocuparam o que hoje chamamos de Alagoas”, explica o professor Flávio Moraes, coordenador da pesquisa. Segundo Flávio, quando falamos de conhecimento sobre a pré-história de Alagoas, para a região Nordeste, o Estado possui uma lacuna muito grande.

“Esse estudo irá nos proporcionar subsídios para que possamos preencher essas lacunas e enriquecer a história de Alagoas, pois quando nos referimos ao conhecimento sobre a pré-história no Estado frente à região Nordeste, é como se fosse um vazio. Então, a pesquisa deve trazer para as pessoas uma história da qual elas não conhecem. Ou, se conhecem, é muito pouco”, complementou o professor.

Além da participação de Flávio Moraes, os trabalhos contam ainda com a participação de Scott Joseph Allen, coordenador do Nepa e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), quatro bolsistas do curso de História da Ufal, das arqueólogas Ruth Barbosa e Danúbia Rodrigues, que atuam como coordenadoras de campo e dos professores do Campus do Sertão, Romildo Scarpini, responsável pelo levantamento topográfico e Cézar Neri, do curso de Letras, que ficará a cargo da revisão final dos relatórios.

O avanço dos trabalhos

Dois sítios arqueológicos, pré-coloniais e com urnas funerárias da Tradição Aratu foram encontrados em Limoeiro de Anadia: Baixa das Flores e Chã de Cajazeiras. Os trabalhos desenvolvidos pelo Nepa iniciaram-se há cerca de 40 dias, no sítio Baixa das Flores, e revelar toda a história por trás dos mesmos é o principal fundamento da realização dessa pesquisa.

“Faz-se necessária e imperativa a realização de estudos no sítio arqueológico Baixa das Flores devido à ameaça concreta de sua total destruição em virtude do uso e da ocupação contínua do solo pelos moradores locais, como roças de subsistência e áreas residenciais. Como a dona do sítio é uma historiadora, após encontrar os vestígios arqueológicos, ela teve a sensibilidade de contactar o Iphan e, devido à preocupação do instituto, iremos fazer o salvamento do sítio para evitar essa destruição”, complementou Flávio.

De acordo com o professor, salvar o material arqueológico em seu contexto é fundamental. “Se ela tivesse encontrado a urna funerária e tivesse nos trazido, isso nos daria informações interessantes, porém de forma limitada, pois se pudermos ir ao local, realizar a escavação e coletar as informações durante esse processo, isso nos dará uma riqueza maior em informações, visto que para a arqueologia o que importa, além do artefato, é o contexto ao qual ele foi encontrado e que irá nos dar tantas informações quanto o artefato em si”, explicou Moraes.

Com três visitas ao sítio Baixa das Flores, os trabalhos avançam e materiais líticos e cerâmicos já foram encontrados. “Materiais líticos são aqueles confeccionados a partir de blocos de pedra, principalmente minerais, que os índios utilizavam para atividades de cortar e raspar, principalmente. Já o cerâmico, surge a partir da argila, que se compõe de potes, vasilhames e das próprias urnas funerárias, construídas pelos artesãos das comunidades indígenas e utilizadas de diversas formas, tais como cozinhar, para armazenamento de água, ou ainda, acomodar o corpo do indivíduo para o enterro”, disse Flávio.

Os resultados da pesquisa devem ser divulgados em um relatório final, previsto para o mês de Março de 2013, mas daqui pra lá, segundo o professor, os trabalhos irão continuar a todo vapor com a intenção de expandir as áreas encontradas a cada visita, visto que as informações coletadas a partir dos artefatos e associadas à própria espacialidade do local, irão mostrar pontos em que os índios exerciam suas atividades.

“Se em determinado local existe maior concentração de material lítico, a tendência é que eles confeccionavam materiais naquele local. Se encontramos concentração de urnas funerárias, significa que eram realizados enterros ou rituais. Achar manchas com sedimento mais escuro indica que ali existia estrutura de habitação, ou seja, essas informações coletadas a partir dos artefatos e associadas a sua espacialidade, irão possibilitar a realização de inferências acerca das atividades cotidianas dos índios”, disse.

Próxima parada: Chã de Cajazeiras

Além do sítio Baixa das Flores, a pesquisa conseguiu recursos para realizar estudo no sítio Chã de Cajazeiras, também situado em Limoeiro de Anadia. “Os comentários sobre esse sítio existem desde o final do século XIX e início do século XX em documentos do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), mas somente após uma visita técnica realizada pelo Iphan, foi que a equipe conseguiu descobrir a localização do mesmo”, contou Flávio.

Os trabalhos no sítio Chã de Cajazeiras devem começar apenas no mês de Janeiro, mas de acordo com o professor, o local é dotado de materiais cerâmicos em superfície. “Esse sítio apresenta também, de acordo com documentações do IHGAL, urnas funerárias aos montes. Ou seja, temos os dois tipos de materiais lítico e cerâmico, além das urnas funerárias, tanto em um como no outro sítio, para realização dessa pesquisa”, concluiu o professor Flávio Moraes.