Projeto pioneiro protege crianças em audiências de mediação

Escritório Modelo inaugura sala destinada ao acolhimento de crianças


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Crianças participam de atividades lúdicas enquanto os pais participam de audiência de mediação | nothing
Crianças participam de atividades lúdicas enquanto os pais participam de audiência de mediação

Myllena Diniz – estudante de Jornalismo

A separação dos pais nem sempre acontece amigavelmente. Em muitos casos, o divórcio é encarado com desgaste emocional e exige acordos de pensão alimentícia ou testes de paternidade. Durante a batalha judicial dos adultos, as crianças são as que mais sofrem ao acompanhar de perto os desabafos e as agressões verbais e físicas de seus responsáveis. Para proteger os filhos dos envolvidos em audiências de mediação realizadas no Escritório Modelo de Assistência Jurídica (Emaj) da Universidade Federal de Alagoas, teve início nesta segunda-feira (26) projeto de extensão pioneiro voltado ao acolhimento infantil.

Sob a coordenação da professora Lavínia Cavalcanti Cunha e da aluna de graduação Camila Cota, ambas da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas, o projeto surgiu da necessidade de desenvolver atividades lúdicas e educativas para as crianças, enquanto seus pais estiverem em audiência de conciliação e mediação no Emaj. “Nós observamos que as crianças participavam de situações de conflito e estavam sujeitas ao desenvolvimento de traumas. Então, esse projeto surgiu para proteger e para dar dignidade às crianças, porque elas estavam sendo desrespeitadas num ambiente do Direito, que deve dar suporte e proteção a elas”, destacou Lavínia.

Para Camila Cota, a iniciativa representa importante contribuição social e estimula a humanização. “A importância do projeto para a cidade de Maceió e para o Estado como um todo é o pioneirismo. O Direito não pode pensar só na celeridade dos processos e esquecer que neles existem crianças sendo vítimas. Nosso intuito é promover a humanização do Direito, porque não adianta resolver o problema da grande quantidade de processos e deixar uma criança desprotegida. Se já é difícil para um garoto lidar com a separação dos pais, a situação fica pior quando ele está no meio do conflito”, refletiu.

A vice-reitora da universidade, Rachel Rocha, participou da inauguração da sala destinada ao projeto e demonstrou satisfação ao compartilhar o momento de criação de mais uma atividade de auxílio à sociedade alagoana. “É uma alegria muito grande assistir a essa realização. A FDA tem revelado muita sensibilidade para esse tipo de ação, o que mostra o comprometimento social da faculdade. Isso só reforça a busca por mais interação com outras áreas da universidade e a vontade de trazer melhorias para diversas famílias. A FDA mostra que está no processo de humanização”, revelou.

Pioneirismo

Fóruns de todo o Brasil desenvolvem atividades de conciliação e mediação, mas o que falta são espaços destinados aos filhos das partes envolvidas nos processos. Em muitas situações, os casais são obrigados a levar os pequenos para as audiências, por não ter com quem deixá-los. Nesses casos, a experiência pode acarretar impactos negativos na formação humana de meninos e meninas que vivenciam as brigas judiciais de seus responsáveis.

Segundo Lavínia Cavalcanti, o principal objetivo do projeto é proteger os garotos e conscientizar a população sobre a preservação do bem-estar emocional dessas crianças. “Não temos informações de fóruns que tenham atividades e espaços voltados para as crianças que estão em ambiente de conflito. Essa é uma atividade pioneira no País e de importante significado, pois nosso intuito é evitar que os meninos desenvolvam traumas. Dessa forma, enquanto os pais estiverem em processo de separação, nós iremos desenvolver atividades educativas para os filhos. Cada integrante do projeto fará sua contribuição às crianças que passarão por aqui”, ressaltou.

Integração e interdisciplinaridade

O projeto envolve cerca de vinte alunos das mais variadas áreas da Ufal. Além de estudantes de Direito, a iniciativa reúne acadêmicos de Psicologia, Medicina, Enfermagem, Odontologia, Educação Física e Arquitetura. Os voluntários estarão envolvidos nas atividades de acordo com suas especificidades, por meio de ações recreativas e de orientações sobre higiene pessoal, cuidados bucais, direitos e deveres.

Para Carlos Inácio Sobrinho, aluno de Psicologia, o projeto não auxilia apenas a garotada, mas todo o ambiente familiar. “Nosso objetivo é contribuir com o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais das crianças em situação de conflito parental, sabendo que a potencialização das famílias é de extrema importância para a formação da criança enquanto ser social”, avaliou.

Já Ingrid Paz, estudante de Direito, destacou o impacto social imediato da extensão. “O projeto desenvolve atividades de humanização e acontece em curto prazo. Além disso, o interessante é que ele trabalha com a parte mais frágil da sociedade e do Direito: as crianças”, salientou.

Atendimento

O projeto é realizado de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, no Emaj, situado no Fórum Professor José Cavalcanti Manso, no Campus A. C. Simões, em Maceió. A proposta inicial prevê que para cada criança atendida haverá dois alunos envolvidos nas atividades.