Espécies endêmicas na fauna marinha de Alagoas serão objetos de estudos nos Estados Unidos
A identificação de novas espécies é resultado das ações do Grupo de Comunidades Bentônicas, coordenado pela professora Mônica Dorigo
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Diana Monteiro – jornalista
Alagoas é conhecida no Brasil pelas belezas naturais, mas poucos sabem que depois do Sul da Bahia, é o estado que concentra a maior quantidade de recifes por área em seus 230 quilômetros de litoral. Para a ciência, sob o aspecto da biodiversidade, Alagoas é um oásis em ecossistemas recifais.
Pesquisas em desenvolvimento pelo Grupo de Comunidades Bentônicas da Universidade Federal de Alagoas, sob a coordenação da professora Monica Dorigo, identificaram organismos da fauna de invertebrados consideradasatualmente endêmicas das áreas recifais brasileiras, tendo sido publicadas algumas novas espécies com a localidade-tipo no litoral de Alagoas. Entre elas, a esponja Mycale alagoana e os briozoários Vasigynella ovicellata, Beania correiae, Bugula alba, Bugula bowiei e Bugula gnoma. Briozoários são pequenos animais invertebrados que formam colônias em pedras e sedimentos no mar. Essas pesquisas são realizadas em cooperação com os pesquisadores do Museu Nacional da UFRJ e o CEBIMAR da Universidade de São Paulo.
A identificação dos organismos da fauna de invertebrados considerados endêmicos do Brasil é um dos resultados da pesquisa A Importância da Taxonomia em Estudos de Biodiversidade e vai ser comparado com o material do Caribe e Sul da Flórida através das análises morfológicas e moleculares, duranteum ano do pós-doutorado de Monica Dorigo Correia, a partir de janeiro de 2013, nos Estados Unidos. "Este ano de estudos comprovará se as espécies identificadas são endêmicas ou não", enfatiza a coordenadora da pesquisa.
Ela destaca que mesmo depois de duas décadas de estudos apenas 50% fauna dos invertebrados nos ecossistemas recifais estão identificados pelos pesquisadores, o que comprova o quanto é vasta a biodiversidade marinha em Alagoas. "Entre os principais grupos de invertebrados nos recifes estão as esponjas, corais, moluscos, poliquetas, crustáceos, briozoários, equinodermas e ascidias”, frisa Monica Dorigo que integra o corpo docente do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS).
Degradação ambiental
Mônica acrescenta que o estudo científico realizado pelo Grupo de Comunidades Bentônicas tendo como foco a fauna marinha alagoana faz a identificação e classificação dos organismos da fauna de invertebrados bentônicos e se desenvolve em todo o litoral do Estado, mas com maior concentração nos ecossistemas recifais. Isto porque, aproximadamente, 90 por cento da fauna dos manguezais dos nossos ambientes costeiros já estão identificados pelos pesquisadores.
“A fauna dos invertebrados existentes nos ecossistemas recifais têm representantes de todos os grupos marinhos porque a vida começou no mar, a diversidade é enorme e fazem parte da base da cadeia alimentar marinha. Por isso e é fundamental haver o equilíbrio natural e a preservação das espécies, mas lamentavelmente há uma degradação nesses ambientes”, destaca Monica.
Como exemplo de degradação ambiental ela cita as piscinas naturais, como os ambientes costeiros da Pajuçara, Maragogi e Praia do Francês, pontos turísticos bastante visitados. “As piscinas naturais sofrem com os lançamentos de âncoras de lanchas particulares e de turismo sem nenhum controle, como também a produção do lixo. Essa situação se configura como crime ambiental, conforme a Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, (conhecida como Lei da Vida) que trata de Crimes Ambientais”, enfatiza a pesquisadora.
Mônica reforça que os crimes ambientais nos ambientes costeiros de Alagoas são também provocados pela pesca predatória, navegação e ancoragem incorreta, turismo inadequado, dejetos da atividade de carcinicultura (cultura de crustáceos), destruição de manguezais e restingas, lançamentos de esgotos e principalmente falta de consciência ambiental.
Bastante atuante e considerada uma das referências local, nacional e internacional em pesquisas da fauna marinha, Mônica Dorigo é a representante titular da Ufal no Conselho Consultivo da maior Área de Proteção Ambiental (APA) costeira marinha do Brasil, a Costa dos Corais. Essa APA vai do Rio Meirim, localizado no Povoado de Pescaria, litoral norte de Alagoas, à Tamandaré, no vizinho Estado de Pernambuco. “A APA abrange nove municípios alagoanos e foi criada para preservação dos ecossistemas recifais e redução dos impactos já existentes, além da promoção de ações voltadas principalmente ao setor público e as pessoas que têm como meio de subsistência a pesca”.
Espaço de aprendizado
O Grupo Comunidades Bentônicas é registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e criado em 1990. Desde então, vem realizando suas atividades no Setor de Comunidades Bentônicas, nos Laboratórios Integrados de Ciências do Mar e Naturais (LABMAR), órgão ligado ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), da Universidade Federal de Alagoas.
Os estudos científicos envolvem alunos do curso de Biologia (bacharelado e licenciatura) e do mestrado em Diversidade Biológica e Ensino em Ciências. As pesquisas realizadas em Alagoas têm alcançado outros centros de referência nessa área, tanto nacional como internacional com a pós-graduação de pesquisadores. Os estudos vêm também proporcionando o intercâmbio entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
As ações do grupo têm resultados em vários trabalhos científicos. Um deles é o livro “Ecossistemas Costeiros de Alagoas”, lançado em 2009 de autoria de Mônica Dorigo e da pesquisadora Hilda Helena Sovierzoski. “O livro fornece uma visão detalhada com inúmeras informações sobre os ecossistemas costeiros existentes ao longo do Estado de Alagoas e proporciona ao leitor uma opção para conhecer como também preservar as maravilhas que a natureza nos reservou”, afirmou a pesquisadora.
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