Campus do Sertão discute Mobilidade e Transformação Social
Alunos de seis cursos iniciaram as atividades acadêmicas em Delmiro Gouveia
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Jhonathan Pino - jornalista
Nesta segunda-feira (21), os feras do Campus do Sertão 2012.2 deram início a sua vida acadêmica. A aula inaugural, ocorrida na sede, em Delmiro Gouveia, contou com a presença de dois palestrantes que sintonizavam bem com o clima dos estudantes que faziam parte da plateia. A santanense Luitgarde de Oliveira e o portocalvense Élcio Verçosa, ao explanarem o “Desenvolvimento do Sertão do Nordeste: Industrialização e Educação”, acabaram também por falar sobre suas trajetórias pessoais, na busca pelo conhecimento.
Ambos professores aposentados, Luitigarde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Élcio Verçosa pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), lembraram o percurso sofrido que levavam até as instituições de ensino mais próximas enquanto estudantes. Luitigarde revelou que do povoado de Capim, em que morava, à capital Alagoana, sua família gastava três dias de viagem para pôr os filhos na escola. “Passávamos o ano inteiro em Maceió e só voltávamos nas férias. Meu pai dizia que para aquele filho em que o lápis era pesado, a enxada tornava-se leve. E aquele que perdesse o ano, tinha que sair da escola e trabalhar na roça”, revela Luitigarde.
Enquanto Luitigarde falou de alagoanos capazes de revolucionar suas áreas de atuação, como Arthur Ramos, que foi um dos pioneiros a pesquisar o preconceito racial para a Unesco; Élcio apontou a peregrinação do desbravador Delmiro Gouveia, com a implantação de um sistema empresarial e pedagógico que mudou os hábitos daquela região sertaneja.
Migração pelo conhecimento
A odisseia pode até não ser tão longa para os estudantes de hoje, mas as histórias ouvidas são análogas as dificuldades de estudantes que saem dos distantes rincões do Nordeste para chegar a Universidade. Casos como o dos irmãos Gustavo Henrique e Karmen Julia, os irmãos Miron Batista, que deixaram Tabira, em Pernambuco, para fazer Engenharia da Produção em Delmiro Gouveia. “São três horas e meia de estrada. A gente chegou ontem e só deu tempo de arrumar as coisas na casa em que alugamos e vir para aula”, relata Gustavo.
A mobilidade já faz parte do histórico de vida de Ulisses Neto. Natural de Minador do Negrão, pelos próximos anos o estudante será temporariamente cidadão de Delmiro, enquanto cursa Engenharia Civil. “Faz oito anos que eu parei de estudar. Tenho orgulho de dizer que já morei em São Paulo e lá trabalhei como ajudante de pedreiro, até chegar ao cargo atual, de encarregado de obras. Mas acredito que não terei muita dificuldade com o curso, porque vou utilizar o conhecimento que obtive nestes anos de trabalho na área”, relata.
Durante esse período, Ulisses terá como companheiros de estudos Ramon Filgueiras, que fez o sentido inverso de grande parte dos estudantes, ao sair de Maceió para aproveitar as oportunidades em Delmiro, além de Sâmia Regina Barbosa, moradora de Água Branca, que percorrerá diariamente 12km para chegar ao Campus do Sertão. “Já tranquei os cursos de Letras e Serviço Social, mas o maior desafio na minha vida será terminar o curso de Engenharia da Produção, já que não tenho afinidade alguma com a Matemática. Tenho a meta de trabalhar com a Engenharia de Segurança, pois sou técnica nessa área e o curso superior pode me ajudar nisso”, relata Sâmia.
Projetos em andamento
O reitor da Universidade, Eurico Lôbo, ressaltou que aquele momento tinha grande importância para a Ufal, que pagava uma dívida social existente com a sociedade alagoana, após décadas centralizada na capital. “A professora Luitigarde é uma santanense e a sua presença aqui é um símbolo do desafio do quanto a educação precisa melhorar em Alagoas”.
Ao lado dos diretores do Campus, Ricardo Silva e Gabriel Soares, além de representantes das pró-reitorias de Extensão, Eduardo Lyra, Gestão Institucional, Valmir Pedrosa, Graduação, com Alexandre Matos, Pesquisa e Pós-graduação, Sílvia Uchôa, e Gestão de Pessoas, Alice Teixeira, o reitor anunciou os projetos de implantação de rede sem fio na sede, construção de restaurante, complexo poliesportivo e finalização da Biblioteca. “A previsão de finalização do campus é na segunda quinzena de março. Muito mais que um prédio, esse espaço significa um marco na formação dos jovens do Sertão”, declarou.
O Campus do Sertão inicia o ano com cerca de 1200 alunos de seis cursos e 89 servidores. Para Luitigarde, além da formação profissional, o papel daqueles que fazem a Universidade é de transformação. “Como gramsciana, eu acredito que a pedagogia é responsável por transformar homens que pensam como a propaganda manda, em homens que pensam de forma ética e humanitária. Aquele que recebe da sociedade a formação educacional tem o dever da transformação social”.