Estiagem na região Nordeste afeta vida de população sertaneja

Professor Cícero Péricles fala das necessidades do semiárido e da dificuldade de acesso à terra e água


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Cícero Péricles fala sobre as dificuldades de acesso à terra e água em entrevista | nothing
Cícero Péricles fala sobre as dificuldades de acesso à terra e água em entrevista

Deriky Pereira – Estudante de Jornalismo com informações do portal DW Brasil

Representando 18% do território nacional, a região Nordeste abriga nove estados e sua região semiárida é caracterizada pelo bioma da caatinga, que constitui o sertão. O clima, por sua vez, é seco e quente e as chuvas costumam cair nas estações de outono e verão. É nesse ponto que encontramos um problema grave: a estiagem. Segundo dados da Articulação pelo Semiárido (ASA), rede atuante no desenvolvimento de políticas de convivência com a região semiárida, essa é a 72ª grande estiagem em 513 anos de Brasil.

É sobre esse e outros problemas sofridos pela população sertaneja que Cícero Péricles, economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), falou em entrevista ao portal alemão Deutsche Welle (DW), ao destacar, dentre outras palavras, que até os anos 80, os programas de combate à seca tinham como estratégia central, a criação de infraestrutura hídrica, industrial, de estradas para o desenvolvimento da região Nordeste e, só então, enfrentar a seca.

Segundo o professor, fazer uma ampla reforma fundiária para possibilitar aos sertanejos uma maior facilidade no acesso à terra, ainda não está nos planos do governo federal. “O acesso à terra continua sendo um grave problema do semiárido nordestino, por ser herdeiro de um passado baseado principalmente na pecuária de grande extensão, que convivia com a chamada agricultura de subsistência e mantém uma forma de organização antiquada dado o tamanho da área ocupada pelo semiárido nordestino”, disse.

Agricultura familiar

O professor destaca ainda a chamada agricultura familiar, baseada na produção de milho, feijão e criação de pequenos animais que envolve 1 milhão e 700 mil famílias no semiárido nordestino, ao relembrar que no período da seca, o impacto para elas é grande, visto que devido a esse problema, não conseguem acumular nenhuma produção. Para tanto, aposta na criação de políticas de transferência de renda e garantias sociais.

“O desenvolvimento desse tipo de política é comum em quase todas as regiões semiáridas. Por exemplo, na Espanha e na Andaluzia, essa política é eficiente e também em regiões secas nos Estados Unidos e na Austrália. Isso não é nenhuma descoberta nacional, nenhuma descoberta brasileira", declarou Péricles, complementando que a renda de programas como Bolsa Família e Bolsa Estiagem é mínima em tempos de estiagem. “E como esse volume de dinheiro é muito pouco, não inibe a produção, mas é complementar.”

Apesar de complementar, de acordo com o professor, isso não resolve o problema. Além da dificuldade de acesso à terra, existe ainda o problema de acesso à água, que continuam sendo uma distorção para a população. “20% da água estocada no Nordeste atenderia plenamente às necessidades para beber e para produzir, pois a região Nordeste possui reservatórios suficientes para abastecimento da região semiárida com tranquilidade”, explicou.

A entrevista no portal alemão foi traduzida para a versão brasileira, DW Brasil, e você pode conferi-la na íntegra clicando no link.