Grupo de estudo avalia o controle da Hanseníase na comunidade
A coordenação das atividades é da Escola de Enfermagem e Farmácia, com parcerias locais e nacionais
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Diana Monteiro – jornalista
Com o objetivo de promover ações, apresentar propostas de intervenção junto à comunidade e ao poder público municipal e estadual para o controle da doença em Maceió, a Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar), da Universidade Federal de Alagoas tem desde 2008 o projeto de “Hanseníase na comunidade”, contemplando os sete Distritos Sanitários de Saúde locais.Sob a coordenação da professora e epidemiologista Clodis Maria Tavares, o projeto conta também com a participação da Faculdade de Medicina e do Núcleo de Saúde Pública, que tem a vice-coordenação da professora Rejane Rocha.
Em 2012 e 2013, projetos elaborados pela Esenfar foram aprovados pelo MEC/SESU ,para extensão e CNPQ para pesquisa de marcadores sorológicos em comunicantes de hanseníase menores de 15 anos.
No Estado de Alagoas os municípios que se destacam com altas taxas de detecção (incidência) da Hanseníase são Rio Largo, Pilar, Teotônio Vilela, Coruripe, Arapiraca, União dos Palmares, Santana do Ipanema, Delmiro Gouveia, Palmeira dos Índios, Penedo, Maragogi e Maceió. Até 2011 a capital apresentava incidência da doença de 16 casos para cada cem mil habitantes.
A importante ação de extensão tem motivado pesquisas e avançados estudos científicos também na área de pós-graduação. Em junho deste ano, o Grupo de Pesquisa sobre Hanseníase da Ufal em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) inicia mais uma ação focada na problemática. Desta vez para avaliar os marcadores sorológicos em contactantes em Hanseníase em menores de 15 anos.
De acordo com Clodis Tavares, os municípios alagoanos selecionados para a pesquisa são Maceió, Rio Largo, Arapiraca e Santana do Ipanema. O estudo vai fazer exames dermatológicos e realizar a coleta de saliva e sangue. “Vamos implantar um laboratório para o Exame PCR (reação de cadeia de polímeros identificando o dna pela saliva)”, que estará sob a responsabilidade do professor do curso de Farmácia Luciano Grillo. A Universidade Federal do Ceará fará o Exame Elisa para detecção de anticorpos para o bacilo causador da doença.
Espaço de aprendizado agrega teoria à prática
Para a ação de extensão centralizado nos sete Distritos Sanitários de Saúde de Maceió, o projeto conta com uma equipe multidisciplinar formada por alunos dos cursos de Enfermagem, Medicina, Odontologia, Farmácia, Fisioterapia, Psicologia, Terapia Ocupacional e, a partir deste ano, agregará também alunos de Serviço Social, História e Sociologia.
“Cerca de 200 alunos integraram o projeto e até janeiro de 2012 quase 300 agentes de saúde da capital foram capacitados por nossa equipe, enfatiza Clodis Tavares, que é coordenadora e supervisora também do Estágio Supervisionado na Atenção Básica da Escola de Enfermagem e Farmácia da Ufal.
Foram contemplados pelo projeto os seguintes Distritos Sanitários de Saúde: 2º Distrito Sanitário (bairros do Vergel do Lago e Trapiche da Barra), em parceria com a Universidade das Ciências e da Saúde de Alagoas (Uncisal); 4º. Distrito Sanitário (bairros de Bebedouro, Fernão Velho e Bom Parto) em parceria com a Faculdade Raimundo Marinho; 5º. Distrito Sanitário (bairros do Jacintinho, Sítio São Jorge e Feitosa) tendo como parceiros a Fits (Faculdades Integradas Tiradentes) e o Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac); e 7º Distrito (bairro do Tabuleiro do Martins).
O Dia Mundial da Hanseníase, comemorado em 27 de janeiro, foi a primeira ação do projeto em 2013. “As ações desse dia contaram com a participação das coordenadorias de saúde de Maceió e do Estado, responsáveis pelo controle da doença em Alagoas, enfatiza Clodis Tavares, que é mestre em Epidemiologia e conclui este ano o dourado na área.
Doença e preconceito
A exemplo de outras doenças de pele, como a psoríase, a Hanseníase é uma doença milenar e cercada de preconceito por ser confundida com a lepra, que também causa lesões na pele. Hanseníase é uma palavra grega (Isarath) traduzida para o hebraico. Pela Teoria Religiosa e nos escritos bíblicos do Velho Testamento a doença lepra era causada pelo pecado divino e assim a palavra foi traduzida para a língua latina significando qualquer doença de pele. Em 1970 o Brasil foi o primeiro e ainda é o único país que mudou o nome da doença para Hanseníase.
“A mudança do nome para os pacientes é muito importante pela discriminação que ainda sofrem. Na década de 80 implantou-se no país o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN), de controle social da doença”, diz a coordenadora Clodis Tavares. O movimento foi criado pelo paciente acreano Antônio Nunes, conhecido como Bacurau, oriundo da época da internação compulsória.
Histórico
A Hanseníase no mundo hoje se concentra principalmente em cinco países: Brasil, Índia, Indonésia, Nepal e no Congo. O Brasil detém no ranking mundial a classificação de segundo lugar em número de casos, perdendo apenas para a Índia que é considerada ainda hoje o berço da doença. Mas em taxa de detecção (incidência), o Brasil destaca-se em primeiro lugar com 17.6 casos para 100 mil habitantes e taxa de prevalência de 1,49 casos para cada 10 mil habitantes.
No país sobressaem-se como as regiões mais endêmicas pelo crescente registro de casos em crianças e adolescentes, o Norte, Centro-Oeste e o Nordeste. Em 2011 foram diagnosticados no país 33.955 casos novos em todas as idades, e deste universo, 7% dos casos em menores de 15 anos.
A meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS) é eliminar até 2015 a Hanseníase como problema de saúde pública e alcançar menos de um caso para cada 10 mil habitantes na prevalência. A doença é considerada de alta incidência a partir de 10 casos para cada 100.000 mil habitantes. Mesmo apresentando declínio na Prevalência de Hanseníase (1,49 para cada cem mil habitantes), o Brasil está entre os 36 países que necessitam atingir os padrões definidos pela OMS e MS.
Sintomas
A Hanseníase é uma doença dermatológica causada pelo bacilo microbacterium leprae (Bacilo de Hansen), que atinge a pele e nervos superficiais causando dormência no local. Tem cura e sua via principal de transmissão é a respiratória. Apresenta como sintomas mais comuns, manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo; área de pele seca e diminuição da sudorese ( falta de suor); e área da pele com queda de pelos ou rarefação de pelos.