Caiite discute patrimonialização do artesanato local
Bordados e rendas são assuntos de mesa redonda
- Atualizado em
Myllena Diniz – estudante de Jornalismo
Eles estão em vestuários, roupas de cama, toalhas de mesa, almofadas, cortinas, luminárias, acessórios e, acima de tudo, na cultura alagoana. Bordados e rendas fazem parte da tradição de Alagoas e ganham o mundo inteiro com técnica, leveza, originalidade e beleza. No 1º Alagoas Caiite, o artesanato e os processos de patrimonialização dessas tramas foram temas de palestra na sala Tavares Bastos, nesta quarta-feira, 24.
Para estimular o debate, pesquisadores engajados na luta pela proteção dos saberes referentes aos bordados e às rendas alagoanas comandaram a discussão. Rachel Rocha, vice-reitora da Ufal; Marta Melo, consultora Sebrae; Vânia Amorim, assessora especial da Fundação Municipal de Ação Cultural; e Bruno César Cavalcante, professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS), foram os nomes envolvidos a atividade.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) classifica os patrimônios em duas esferas: materiais e imateriais. Os últimos são considerados formas de expressão, lugares, edificações, celebrações e ofícios que constituem a cultura de um povo. Exemplos patrimoniais desse tipo são o Guerreiro, a Feira do Caruaru e o Bar do Chopp.
Durante a palestra, os pesquisadores apresentaram dados que justificam o processo de patrimonialização dos bordados e das rendas. Comuns no território alagoano, as tramas fazem parte da história e da tradição local. Bilro, Boa Noite, Labirinto, Singeleza, Filé, Redendê e Ponto Cheio são algumas das técnicas mais utilizadas pelos artesãos da terra dos marechais.
Segundo Rachel Rocha, levantamento de fontes revela que a geografia de Alagoas influenciou na prática desse tipo de artesanato. “Percebemos que, desde o período das sesmarias, a costa litorânea e a do São Francisco são as portas de entrada do Estado. Nessas regiões, nós também encontramos maior incidência de atividades com bordado e renda. Alagoas possui 25 mil artesãos, dos quais 10.755 estão cadastrados no PAB [Programa do Artesanato Brasileiro]”, destacou.
Núcleos de produção
Entre os principais núcleos de produção estão Marechal Deodoro, Maceió, Penedo, Capela, Água Branca, Piranhas e Porto Real do Colégio. De acordo com Marta Melo, consultora Sebrae, pesquisa realizada no ano 2000 já indicava ascensão dos produtos de artesanato local no mercado nacional. “Os dados do BNB [Banco do Nordeste do Brasil] apontavam para forte crescimento dessa atividade. Hoje, saiu da categoria Cama, mesa e banho para o mercado da moda. Vemos isso com os trabalhos das estilistas Marta Medeiros e Petrúcia Lopes”, salientou.
Vânia Amorim, assessora especial da Fundação Municipal de Ação Cultural, destacou a valorização das peças no cenário da moda: “O filé é o mais significativo em nosso Estado, pelo seu alcance comercial. Hoje, 1.599 artesãos estão cadastrados nesse segmento. O artesanato tem sido visto como artigo de luxo, já que é uma peça única”, ressaltou.
“Nós pensamos na melhoria das condições de vida dos artesãos e na proteção dos seus saberes, mas não podemos esquecer que o amplo alcance dos bordados e das rendas em outras regiões é positivo. As técnicas estão saindo das peças utilitárias para as peças do vestuário, da moda. As transformações também são importantes. A singeleza, por exemplo, era utilizada em anáguas, que não existem mais. No entanto, aparecem em outros artigos. É preciso ver outras possibilidades e encontrar outros suportes de uso”, reforçou Rachel Rocha.