Projeto do Campus do Sertão orienta jovens sobre a sexualidade e relações de gênero

Trabalho foi desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Diversidade e Educação do Sertão Alagoano e coordenado pela professora Ana Cristina Santos


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Alunos acompanham um bate-papo sobre a violência contra a mulher | nothing
Alunos acompanham um bate-papo sobre a violência contra a mulher

Deriky Pereira – estudante de Jornalismo

Uma publicação feita no Diário Oficial da União comprova a existência de 65 comunidades quilombolas no Estado de Alagoas. Fontes de histórias e tradições de um período em que a única intenção era viver a liberdade, as comunidades podem ser encontradas em localidades de difícil acesso e também, desconhecer a sua verdadeira origem. Não é a toa que, em 2012, o Governo de Alagoas promoveu ações de cunho social e de reconhecimento, a fim de contribuir com o resgate histórico e social com viés antropológico.

À época, a iniciativa foi considerada bastante positiva. Para a ministra da Promoção da Igualdade Racial, Luíza Helena de Barros, a União mobiliza os governos estaduais para trabalharem como o Ministério em favor das comunidades. “O governo federal montou o plano para Alagoas, onde as responsabilidades terão que ser compartilhadas de maneira que os programas sociais cheguem às comunidades quilombolas”, salientou. Dentre as comunidades existentes, está o povoado de Cruz, que possui 72 famílias, fica localizado na Zona Rural de Delmiro Gouveia e foi alvo de um grupo de estudos do Campus do Sertão da Universidade Federal de Alagoas.

Intitulado “Sexualidade e relações de gênero no alto sertão Alagoano”, o projeto foi desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Diversidade e Educação do Sertão Alagoano (Nudes), contou com a orientação da professora Ana Cristina Santos e foi financiado pelo MEC/Sesu. De acordo com a professora, o projeto surgiu com a intenção de compartilhar mensagens sobre a sexualidade, de forma que pudesse causar, no público-alvo, uma compreensão do assunto.

“Ao desenvolver esse projeto, o nosso objetivo era levar às crianças, adolescentes e jovens da comunidade, uma compreensão sobre o fenômeno da sexualidade a partir das relações de gênero, fazendo a intersecção com a questão racial. Fizemos ações de mapeamento da forma como se estabelecem essas relações na comunidade e percebemos que há uma visão da mulher como ser inferior e subserviente, além dos preconceitos existentes em relação à homossexualidade”, explicou Ana Cristina.

O andamento dos trabalhos

As atividades do projeto foram desenvolvidas entre os meses de janeiro e dezembro de 2012 e, além da professora, contou com o auxílio de outros três bolsistas, de Maria Aparecida Silva, coordenadora do Nudes e de Valdice Pereira dos Santos e Dione Araújo Lima, representantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Antenor Correia Serpa. O projeto utilizou a metodologia da pesquisa-ação que, segundo Ana Cristina, permite maior integração entre os envolvidos nos trabalhos, efetivando uma metodologia participativa que valoriza os conhecimentos e experiências dos mesmos.

Em um ano de atividades, compreender que a sexualidade está presente desde o nascimento e se transforma no decorrer da vida foi um dos objetivos alcançados pelo projeto. “Com o projeto, conseguimos problematizar em torno das relações de gênero e questionar o que foi naturalizado cultural e socialmente em torno da postura e comportamentos masculinos e femininos. Fizemos discussões sobre a pedofilia e a violência contra a mulher, divulgamos a Lei Maria da Penha, além de fazer uma reflexão sobre o porquê dos preconceitos em relação aos homossexuais, mulheres e negros”, salientou Ana Cristina.

A professora nos conta ainda que encontrou algumas dificuldades no andamento dos trabalhos. “Chegamos a ter alguns problemas com acessibilidade, mas um ponto que chamava atenção era a justificativa quanto ao machismo e à homofobia, por parte das crianças e adolescentes envolvidos no projeto, por conta do viés religioso e cultural. Mas, apesar disso, posso dizer que atingimos nosso objetivo”, destacou Ana Cristina.

Contribuição em favor da educação

No ano de 2004, o Governo Federal aprovou o programa Brasil sem Homofobia, com a intenção de combater a violência e discriminação contra o público GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), além de fortalecer e ampliar a formação da cidadania no Brasil. Vale reforçar ainda que, de acordo com Ana Cristina, a realização do projeto atingiu às diretrizes desse programa com referências à educação.

“Esse projeto contemplou algumas diretrizes do Governo Federal que fazem referência para uma educação que trate da diversidade no ambiente escolar e estabelecem parcerias com o Ministério da Educação. O programa Brasil sem Homofobia, por exemplo, visa desenvolver ações em nível educacional, orientando os sistemas de ensino na implementação de ações de respeito ao cidadão e à não-discriminação por orientação sexual”, frisou Ana Cristina.

Diante dos bons resultados alcançados pelo projeto em sua temporada de atividades em 2012, a professora declara a intenção de continuar realizando os trabalhos. “Ao avaliar o projeto com os participantes, ficou evidente a importância do mesmo como forma de contribuir para uma educação humanizadora e uma sociedade menos preconceituosa. Portanto, diante dessa avaliação positiva, a intenção é dar continuidade ao projeto e o mesmo já está sendo submetido a um novo edital”, concluiu Ana Cristina.