Projeto promove aulas de alfabetização e cidadania para reeducandos
Parceria entre Ufal e SGAP auxilia ressocialização de homens em regime semiaberto e aberto
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Myllena Diniz – estudante de Jornalismo
A reinserção social é o objetivo de homens e mulheres que passaram anos confinados no sistema penitenciário. Na tarde da segunda-feira (15), no auditório da Biblioteca Central da Ufal, o projeto Inclusão Social pela Educação de Jovens e Adultos iniciou oficialmente suas atividades e representou um recomeço para diversas famílias alagoanas. O programa promove alfabetização e noções de cidadania para pessoas beneficiadas pelo convênio da universidade com a Superintendência Geral de Administração Penitenciária (SGAP).
A parceria entre as duas instituições permitiu a reeducandos em regime semiaberto e aberto emprego temporário na Ufal, no setor de serviços gerais. Agora, as ações de reintegração ganham impulso e garantem a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Coordenado pelas professoras Elaine Pimentel, Marinaide de Freitas e Ruth Vasconcelos, o projeto de inclusão social por meio da educação aborda temas como documentação, meio ambiente e direitos do consumidor.
As atividades começaram em janeiro deste ano e já mostram resultados. De acordo com Elaine Pimentel, idealizadora do projeto, as ações constituem uma das principais propostas da academia: a difusão do conhecimento. “A ideia é tornar o programa uma política permanente da universidade, já que a reforma realizada pelo convênio entre Ufal e SGAP insere em suas cláusulas nossa obrigação de fornecer educação aos beneficiados pelo convênio”, destacou.
Reflexos do trabalho têm impactos na vida dos reeducandos e dos próprios alunos da universidade envolvidos nas ações de reintegração. “Estudantes de Pedagogia têm a experiência de alfabetizar adultos privados de liberdade; estudantes de Direito, a oportunidade de trocar conhecimento sobre Direito Penal, Civil, do Trabalho, do Eleitoral e muitos outros; já os de Ciências Sociais debatem e trocam experiências com os apenados sobre temas ligados à cidadania e à consciência política”, salientou Elaine Pimentel.
Na aula inaugural, mesa composta pelo tenente-coronel Carlos Luna, da SGAP; pelo pró-reitor de extensão Eduardo Lyra; pelo representante dos reeducandos, Luiz Carlos de Sá; e pelas professoras Lavínia Cavalcanti, Ruth Vasconcelos e Elaine Pimentel reforçou a contribuição social do projeto. Alfabetização, letramento, conhecimentos numéricos, temas transversais, combate à alienação, palestras e exibição de filmes são algumas das ações previstas pelo grupo.
Para o tenente-coronel Carlos Luna, a iniciativa simboliza transformações positivas no processo de ressocialização em Alagoas. “Hoje é uma tarde memorável para nosso sistema prisional. Só com respeito, dignidade e oportunidade vamos construir a sociedade que esperamos. Nós sabemos das dificuldades e do preconceito, não é fácil estar diante da sociedade novamente. Então, é preciso parabenizar as pessoas envolvidas nessa atividade pela coragem e pelo empenho”, enfatizou.
Luiz Carlos de Sá já cumpriu toda sua pena e não deve mais nada à justiça, mas agarrou as oportunidades que apareceram pelo caminho. Hoje, ele é aluno do projeto Inclusão Social pela Educação de Jovens e Adultos e estimula seus companheiros a lutarem por uma reinserção digna na sociedade.
“Eu acho muito proveitoso participar dessa iniciativa e incentivar meus colegas que passaram pelo calabouço, pelo cárcere. Aqui é a base para a ressocialização e todos que entram nesse trabalho são considerados regenerados. Aqui, já encontramos a base para uma ressocialização. Tudo que está acontecendo é um estímulo para buscarmos algo melhor no futuro. A qualidade se encontra aqui e vamos lutar por inclusão”, refletiu Luiz Carlos.
A gestão da universidade revela empenho e confiança no projeto. Segundo o pró-reitor Eduardo Lyra, a educação é o principal agente transformador. “A universidade tem a missão de transformar o Estado de Alagoas, por meio do conhecimento”, ressaltou. Já Ruth Vasconcelos lembrou do avanço na formação dos alunos da graduação. “A Ufal sempre me surpreende. Eu me emociono com o papel da universidade na construção de uma sociedade cada vez melhor. Nós temos que formar jovens que tenham olhar mais cuidadoso para o sistema prisional. Por isso, fico feliz em fazer parte de uma gestão que acolhe esse projeto”, reforçou.
As primeiras turmas são compostas apenas por homens beneficiados pelo convênio da Ufal com a SGAP. As aulas acontecem de segunda à quinta, na Faculdade de Direito de Alagoas (FDA), no Campus A. C. Simões, em Maceió. O projeto começou com duas turmas, com média de 7 alunos cada uma, e fornece almoço para os beneficiados. Os alunos também receberam material didático e de papelaria completo. A coordenação do programa prevê expansão das atividades para mulheres.