Centro de Ciências Agrárias beneficia comunidade com hortas agroecológicas

A iniciativa é do Grupo Agroecológico Craibeiras e contempla a Comunidade Periurbana Paulo Bandeira, em Maceió


- Atualizado em
Ciclo de Palestras no Centro Comunitário
Ciclo de Palestras no Centro Comunitário

Diana Monteiro – jornalista

A implantação de hortas em quintais utilizando técnicas agroecológicas em áreas de influência urbana visando à agricultura familiar é uma das ações do Grupo Agroecológico Craibeiras, do Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Universidade Federal de Alagoas em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Alagoas (Ideral). O projeto beneficia atualmente 40 famílias da Comunidade Paulo Bandeira, localizada no Benedito Bentes, no bairro do Tabuleiro dos Martins, conta com a participação de alunos do curso de Agronomia do Campus A.C. Simões e tem como público alvo comunidades rurais que migram para os centros urbanos.

Denominado de “Agricultura Familiar Periurbana: implantação de hortas de quintais com práticas agroecológicas na Comunidade Paulo Bandeira, Maceió-AL”, o projeto está sob a orientação dos professores Siumar Pedro Tironi e Gaus Silvestre, do Ceca e o resultado das ações promovidas em 2012 foram apresentadas durante o 1º Alagoas Caiite pelos alunos Tássio Duda Costa e Leandro Lima Casado dos Santos. “Atuamos com ações teóricas e práticas, principalmente para a melhoria de qualidade de vida das comunidades periurbanas, que são as oriundas do êxodo rural”, enfatizam.

Tássio e Leandro acrescentam que o êxodo rural é motivado por conta do monopólio e da atividade lantifundiária, e as famílias, afastadas do campo, vêm buscar na cidade uma tentativa, muitas vezes frustrada, de melhoria de vida e renda. Essa é uma situação muito comum e visível Alagoas, e a essas comunidades que se estabelecem na capital, são denominadas de comunidades periurbanas. “Mesmo submetidas às precárias condições de vida elas não perdem a identidade e passam muitas vezes, mesmo com a industrialização, a ocupar e construir os espaços mantendo relações com seus locais de origens, promovem atividades rurais em ambiente urbano, porém de forma precária e com menor agrobiodiversidade”, completam.

Oficinas e geração de renda

No Centro Comunitário e também na residência de oito famílias da Comunidade Paulo Bandeira foram implantadas hortas orgânicas planejadas em fundo de quintal com práticas baseadas nos princípios da Agroecologia e aplicação de técnicas científicas. Fruto do aprendizado acadêmico e prático dos alunos, obtido em sala de aula, vivenciado em laboratórios específicos e na Área Experimental do Centro de Ciências Agrárias. “As técnicas agroecológicas para as hortas planejadas englobam compostagem (adubação orgânica); combate às pragas (defensivos alternativos); e o manejo agroecológico, que ajuda a evitar a ocorrência de pragas utilizando controle natural”, enfatizam os pesquisadores.

Tássio Costa e Leandro Lima disseram que para a etapa da adubação orgânica oficinas para conhecimento das técnicas agroecológicas foram feitas com as famílias integrantes do projeto. Dentre as oficinas aplicadas estão a que trata sobre compostagem e controle alternativo de pragas. “As culturas escolhidas para a produção orgânica foram baseadas na agricultura de subsistência, comum na alimentação diária das pessoas, como alface, coentro, abobrinha, macaxeira, mandioca, dentre  outros produtos. A compostagem (adubação) teve como matéria prima resíduos orgânicos domésticos e esterco de animais sem a utilização de defensivos químicos e pesticidas”, informam.

Segundo os pesquisadores, o projeto possibilitou à comunidade explorar o potencial do que pode resultar a implantação das hortas orgânicas, como complementação da alimentação familiar com produtos de qualidade garantindo maior segurança alimentar, conforme proposta inicial, como também teve positividade na complementação de renda das famílias participantes.

“O sobre-excedente da produção passou a ser vendido na própria comunidade, gerando uma renda extra para os moradores participantes do projeto, beneficiando assim a comunidade de maneira geral, com a oferta de alimentos saudáveis. As hortas ainda possibilitaram aos moradores participarem da Feira Agroecológica de Maceió, realizada em janeiro deste ano”, destacaram Tássio e Leandro, que encerraram participação no projeto, que é contínuo e direcionado aos alunos do curso de Agronomia.

 Conhecimento científico para o cultivo orgânico

A Agroecologia é uma ciência que visa produção na sociedade rural de forma mais justa utilizando o manejo adequado dos recursos ambientais. Os pesquisadores Tássio Duda e Leandro Lima frisam que a compostagem para o cultivo de produtos orgânicos tem como principal fonte mineral carbono e nitrogênio, respectivamente obtidos de resíduos vegetais e de excrementos de animais, como aves, caprinos e ovinos.

Para o combate às pragas, o defensivo alternativo é obtido pelo extrato de Neem, uma árvore exótica originária da Índia, utilizada bastante também em projetos de paisagismo. O extrato é obtido usando o extrator água e álcool para extrair o princípio ativo azadiractina, que tem efeito comprovado cientificamente. Outros defensivos naturais desenvolvidos e utilizados pelo grupo de pesquisadores da Ufal têm como matéria prima a pimenta dedo de moça e a urina de vaca, esta para adubação foliar.

“A importância de um projeto voltado à agricultura familiar utilizando a Agroecologia é pela eficiência comprovada. Tanto para a melhoria de qualidade de vida das populações periubanas em situação de vulnerabilidade, foco das ações, assim como para encontrar alternativas às más condições socioambientais às vezes impostas por um sistema dominante de mercado, a partir de uma nova visão dos processos de produção e consumo construídos coletivamente”, afirmaram Tássio Costa e Leandro Lima.  Informam que  no final deste mês o Centro de Ciências Agrárias sedia o II Seminário de Agroecologia – Semana do Alimento Orgânico, com participação de agricultores de vários assentamentos do Estado de Alagoas.

Além de Tássio e Leandro participam das ações do Grupo Agroecológico os seguintes alunos do curso de Agronomia: Pedro Henrique dos Santos Neto; Nicholas Daniel Ferreira da Costa, Wendylane Neves da Silva e Gabriela Santos Lima.