12º Ato do programa Ufal em Defesa da Vida terá relatos de familiares das vítimas da violência

Com o tema "A dor da impunidade: a dor que os números não revelam" a proposta é dar voz às famílias que ainda lutam por justiça


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Johnny Wilter (à direita da foto), assassinado em 2008 | nothing
Johnny Wilter (à direita da foto), assassinado em 2008

Lenilda Luna - jornalista

Será realizada no dia 11 de julho, a partir das 8h30, no auditório da Reitoria da Ufal, a 12ª edição do Programa Ufal em Defesa da Vida, com o tema “A dor da impunidade: o que os números não revelam”. O objetivo é revelar as histórias dramáticas de pessoas que perderam familiares de forma violenta. São vidas abaladas pela dor, pela luta em busca de justiça, pelo silêncio. Para levantar esses dramas, foi disponibilizado, desde o início de março, um formulário para aqueles que quisessem relatar casos ocorridos.

No  12º ato, os organizadores esperam reunir parentes de vítimas da violência para compartilhar suas histórias. "Para esses familiares, é muito difícil sofrer em silêncio, como se a sociedade não se abalasse com violência que eles sofreram. E a situação fica ainda mais dramática por conta da dificuldade em punir os culpados pelos assassinatos. Por isso o tema fala em dor da impunidade", explicou Ruth Vasconcelos, coordenadora do programa.

Para abrir os debates no ato, foram convidadas duas pessoas que se dispuseram a falar sobre os momentos dolorosos que vivenciaram ao ter entes queridos assassinados. Um deles é Sebastião Pereira dos Santos, pai do pedreiro Carlos Roberto Rocha Santos, que foi sequestrado e morto com 21 tiros em agosto de 2004. O corpo do rapaz chegou a ser levado para o IML, mas sumiu e até hoje não foi localizado.

Sebastião Pereira acusa o cabo Luiz Pedro, político alagoano, de ser o mandante do homicídio. Ele já sofreu ameaças e perseguições, mas nunca desistiu de lutar por justiça. O cabo Luiz Pedro chegou a ser preso, em novembro de 2011, mas em fevereiro de 2012  foi beneficiado com um habeas corpus e responde ao processo em liberdade. Durante o ato Ufal em Defesa da Vida, Sebastião vai contar detalhes sobre esses quase nove anos em busca de solucionar o bárbaro assassinato do filho.

O outro relato será feito pelo funcionário da Ufal, jornalista Jhonathan Pino. O irmão dele, Johnny Wilter da Silva Pino, que era aluno do curso de Geografia da Ufal, foi assassinado em maio de 2008. O acusado do crime é o capitão da Polícia Militar, Eduardo Alex da Silva Lima. Segundo relatos, o estudante estava de carona na garupa de uma moto, quando o amigo que conduzia o veículo passou por uma blitz da polícia e não parou. O capitão teria efetuado o disparo que atingiu Johnny. 

O acusado chegou a ser julgado, depois de vários adiamentos, em julho de 2011, mas foi condenado por homicídio culposo, com pena de dois anos e oito meses de prisão, em regime aberto, que seriam convertidos em serviços comunitários. A família recorreu ao Ministério Público por considerar a pena muito branda. A sentença foi suspensa e um novo julgamento está marcado para 30 de agosto deste ano. "Depois de cinco anos de sofrimento, a nossa expectativa é de alcançar a justiça para esse caso e que o policial seja afastado das funções e preso", declarou Jhonathan.

Também participará da solenidade do 12º Ato, a senhora Maria de Fátima Santos, mãe do jovem Érick Ferraz. Para aqueles que perderam parentes de forma violenta, falar sobre o acontecimento é sempre doloroso. Mas é também uma forma de não deixar o sofrimento da família cair no esquecimento. Em vários casos, a punição dos culpados só foi alcançada depois de muita mobilização da sociedade. São nomes de vítimas que se tornaram emblemáticos, como Paulo Bandeira e Ceci Cunha, cujas famílias esperaram cerca de uma década pela condenação dos réus. "Imagine então o sofrimento de tantas famílias que não tiveram a capacidade de tornar pública a sua dor e não conseguiram provocar a indignação da sociedade. Precisamos dar voz a essas pessoas. Esse é o objetivo deste ato", destacou Ruth Vasconcelos.

Após o relato dos três casos, será franqueada a palavra para que parentes de outras vítimas possam contar suas histórias. Em seguida, a especialista em Direitos Humanos e juíza aposentada, Graça Gurgel, e a cientista social e coordenadora do programa Ufal em Defesa da Vida, Ruth Vasconcelos, vão fazer uma exposição para refletir sobre a questão da impunidade em Alagoas. O ato será concluído com uma caminhada até o Bosque em Defesa da Vida, que fica no campus da Ufal, onde foram plantadas mudas de árvores para homenagear a memória das vítimas.