“A EAD deve fazer parte da vida da universidade”

Luis Paulo Mercado, coordenador-geral da Cied, analisa os avanços e os desafios da Educação a Distância


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Luiz Paulo Mercado, coordenador da Cied

Roberto Amorim - Jornalista

O raio de alcance da modalidade de Educação a Distância (EAD) no Brasil não para de crescer, principalmente no ensino superior. Não faltam números do Ministério da Educação (MEC) que comprovem essa realidade. Em muitos cursos, a quantidade de alunos da chamada educação online é maior que a dos matriculados em aulas presenciais.

Em Alagoas, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) lidera essa importante empreitada. Nos últimos anos, o salto foi impressionante. São ofertados cursos de graduação, pós-graduação, extensão, aperfeiçoamento em polos instalados em Maceió e várias cidades do interior do Estado.

A Coordenadoria Institucional de Educação a Distância (Cied) da Ufal é a responsável pela organização e avanço das ações de ensino, pesquisa e extensão a distância. Na entrevista a seguir, o coordenador-geral da Cied, Luis Paulo Mercado, analisa esse novo cenário educacional e aponta os obstáculos a serem vencidos.

Qual a dimensão e a importância da educação online hoje no Brasil?

A Educação a Distância (EAD) pela internet, chamada educação online, é a modalidade educacional que mais cresce depois da regulamentação da educação a distância no Brasil, em 2005. Cresce tanto na oferta formal do ensino superior, como nos chamados curso livres ou informais, quando não outorgam graus acadêmicos, exemplo das aulas e cursos abertos ofertados por diversas instituições educacionais ou não. O crescimento desta modalidade é exponencial, aumentando a cada ano, provocando situações de hoje termos mais alunos matriculados nos cursos a distância que nos presenciais, a exemplo do curso de Pedagogia. As demandas postas pelo Plano Nacional de Educação para os próximos dez anos colocam grandes desafios para a formação universitária de jovens de 18 a 24 anos e o número de vagas presenciais existentes atualmente não atende a esta grande demanda e, além disso, existem as necessidades de formação continuada de professores, gestores e profissionais da saúde, os maiores contingentes de profissionais contemplados nos programas governamentais que utilizam a modalidade da educação a distância nas ofertas anuais.

O País tem avançado neste campo?

Sem dúvida. Se olharmos o cenário anterior a 2005, veremos que as ações da EAD eram poucas e não exigiam o uso pleno das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Houve muitos avanços na incorporação e uso das TIC no ensino superior e nos cursos a distância. Foram criados novos cursos na modalidade a distância, produzidos materiais didáticos para uso no ambiente virtual de aprendizagem, sendo o Moodle o mais utilizado, além da institucionalização da EAD em 103 instituições de ensino superior públicas brasileiras, através da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Com a EAD, o ensino superior chegou aos mais distantes municípios brasileiros e também foi ampliado o uso das TIC no ensino presencial e muitos autores passaram a defender que a EAD melhora a prática do professor no ensino presencial, hipótese presente em vários estudos que estão sendo realizados atualmente.

Qual o papel das universidades públicas nesta empreitada educacional?

Com o Sistema UAB, as instituições de ensino superior públicas assumiram plenamente a oferta de cursos a distância, almejando qualidade da oferta a todos as regiões do País. É preciso ampliar este universo de oferta, contemplando áreas ainda não presentes na oferta da EAD, como é o caso dos cursos de bacharelados, cursos nas áreas das Engenharias, Direito e Saúde e regulamentar a oferta da EAD nos cursos de pós-graduação strictu sensu (mestrados e doutorados), promessa feita em 2005 e até hoje não cumprida pelo governo.

E a Universidade Federal de Alagoas?

A Ufal tem um papel de destaque neste cenário: foi uma das pioneiras em implantar a EAD em 1998, com o curso de Pedagogia, ofertado aos professores e gestores dos diversos municípios alagoanos, num cenário no qual a EAD era vista com muitas ressalvas e preconceitos. Além disso, a Ufal foi uma das primeiras instituições a aderir à UAB e atualmente oferece dez cursos de graduação, além de cursos de pós-graduação (especialização e mestrados profissionalizantes) e cursos de atualização. A Ufal também participa da oferta de ações formativas para outras instituições e da produção de material didático de qualidade em programas nacionais, como o Mídias na Educação.

Quais os principais obstáculos que devem ser superados?

O primeiro obstáculo é a institucionalização da EAD, ou seja, a modalidade passar a fazer parte da vida da universidade como uma ação permanente, com oferta de cursos regulares. Esta realidade é preocupante, pois o Sistema UAB está sustentado em projetos de durações definidas com possíveis reofertas, mas não constituem em uma política permanente de oferta de cursos. Outro obstáculo está em termos professores com conhecimento do uso das TIC, alfabetizados digitalmente e que conhecem os vários letramentos do mundo digital e consigam incluir estratégias didáticas inovadoras nas práticas pedagógicas a distância e consequentemente nas aulas presenciais. Também precisa ser melhorada a acessibilidade de todos os sujeitos da EAD a rede de alta velocidade, atualizar acervos das bibliotecas dos polos, melhorar os espaços dos laboratórios didáticos e reverter as altas taxas de retenção e evasão dos alunos NBA modalidade a distância.

Quais as habilidades necessárias para o professor que trabalha com a docência online?

A habilidade principal é ser um bom professor na área da formação do curso ao qual está vinculado. Deve dominar o uso das TIC na prática pedagógica e saber usá-las nos conteúdos da disciplina sob sua responsabilidade. Outras habilidades necessárias são: saber professorar em ambientes virtuais de aprendizagem; produzir material didático para EAD (autoria de materiais didáticos); explorar recursos inovadores, como jogos, mundos virtuais, realidade aumentada; explorar a mobilidade permitida pelas TIC.

O que é necessário para a docência online ser aplicada com eficácia e trazer benefícios para todos os envolvidos?

Primeiramente todos os sujeitos da EAD (professores, tutores, gestores e alunos) disporem de recursos tecnológicos e materiais didáticos de qualidade. Professores e tutores devem possuir formação adequada, disponibilidade de tempo e serem abertos às novidades e desafios inovadores, além de serem pesquisadores da própria prática. Não podemos esquecer também que o foco principal do processo é a aprendizagem do aluno e as TIC permitem melhorar este processo.

Os governantes já se deram conta do alcance social da educação a distância?

Em parte. Quando vemos a expansão do ensino superior pela EAD, percebemos o alcance social, os jovens do interior do estado terem acesso a um curso superior sem precisar sair da sua cidade ou região. Mas, quando vemos as dificuldades existentes na institucionalização da EAD nas instituições públicas de ensino superior, percebemos as fragilidades destas propostas. Mas, o Ministro da Educação anunciou que enviará ao Congresso Nacional a proposta de criação da Universidade Pública Virtual para oferta de cursos a distância.
Precisamos sensibilizar os governantes para que os mesmos não vejam a EAD como instrumento de massificação do ensino, de redução de profissionais da educação e acima de tudo, vejam a EAD como instrumento de inclusão com qualidade.

O que mais o senhor gostaria de ressaltar?

Ressaltaria que a EAD vem permitindo a criação de novos cenários formativos no âmbito das instituições de ensino superior. Acredito que temos experiências exitosas de oferta de cursos, adesão de professores que inicialmente não davam muita credibilidade a EAD e hoje a defendem a partir das suas próprias experiências e vivências nas ações de EAD desenvolvidas na Ufal.