Professores de Física apresentam deficiências no preparo dos alunos para o Enem
Falta de orientação das escolas é principal causa de pragmatismo no ensino, aponta pesquisa
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Jhonathan Pino - jornalista
Pesquisa desenvolvida no mestrado em Educação da Universidade Federal de Alagoas coloca em xeque a formação de educadores para o ensino da Física. Orientado pelo professor Elton Fireman, o estudo apontou que os professores de Física estão despreparados para instruir os alunos.
Em reportagem anterior no portal da Ufal também foi revelado que pesquisa constata que os livros didáticos fornecidos pelo Ministério da Educação às escolas públicas não estão adequados às provas de Física do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).
Natalya Bittencourt, responsável pela investigação, relata que as escolas não preparam seu corpo docente e que em sua maior parte os professores não compreendem o documento base do Enem. “Muitos disseram que nunca tinham feito leitura dos documentos oficiais do ensino médio e que as escolas enfatizavam apenas a resolução de questões”, revelou.
Foram investigados oito casos em escolas públicas e privadas, professores de 24 a 47 anos, com análise da prática pedagógica e política do Enem, formação continuada dos docentes de Física e currículo do curso superior de qual fizeram parte. No caso dos oito, todos eles se graduaram no Instituto de Física da Ufal.
“As escolas ainda não proporcionam uma formação continuada para que os professores compreendam o documento básico do Enem e os documentos oficiais do ensino médio, norteadores do exame, no qual os mais lidos são os PCN+ [Parâmetros Curriculares Nacionais]”, salientou a pesquisadora.
Mudança de paradigma no ensino
De acordo com as reformulações do Ministério da Educação, o ensino médio deve ser orientado da seguinte forma: pela construção de competências e habilidades, articuladas nas áreas de representação e comunicação, investigação e compreensão, contextualização sociocultural, tendo como eixos norteadores a interdisciplinaridade e a contextualização, o que revela uma mudança de paradigma na forma de ensino tradicional, gerando novos desafios aos docentes.
“Para muitos professores, esse processo seletivo trará, em parte, a democratização, pois este exame não é baseado no acúmulo de informações que os alunos obtiveram durante o ensino médio, mas na compreensão como ocorre o processo para se chegar àquele determinado conceito, ou fórmula, privilegiando a formação como cidadão, contextualizando seu ambiente social e respeitando a diversidade social dos alunos”, explicou.
Natalya ainda relata que essas modificações estão impondo nos alunos um modo diferente de aprender, trocando a “decoreba” e utilização de fórmulas automatizadas, por leituras aprofundadas, com interpretação e compreensão dos questionamentos, colocando-os como agente ativo na resolução de problemas. Entretanto, segundo a pesquisadora, as escolas, em sua maior parte, não foram envolvidas numa discussão que lhes permitissem uma maior compreensão do significado do exame no panorama da reforma do ensino médio e, por isso, é visível a falta de tato para lidar com as novas exigências do Enem.
“Espera-se que a nova escola de nível médio não seja mais um prédio com professores agentes e alunos pacientes, mas um projeto de realização humana recíproca e dinâmica de alunos e professores numa relação que deve estar mediada, não somente por conteúdos disciplinares isolados, mas articulados com questões econômicas, sociais, políticas e ambientais em seu contexto social”, concluiu Natalya em sua dissertação.