Tratamento nutricional gratuito beneficia crianças acima do peso
Projeto é desenvolvido por residentes de Nutrição em Saúde da Criança do HU
- Atualizado em
Myllena Diniz – estudante de Jornalismo
Falta de exercícios físicos, hábitos alimentares inadequados, ansiedade e propagandas excessivas de alimentos industrializados são situações comuns para a geração fast-food. Dados da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica revelam que a obesidade atinge 16% das crianças de 5 a 9 anos e 20% dos adolescentes brasileiros.
As estatísticas despertaram a atenção das residentes em Nutrição do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Criança do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HU). Sob orientação das professoras Monica Lopes e Juliana de Farias, as nutricionistas Tahiná Pessôa e Ana Heloísa Goes prestam atenção dietética individualizada a crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, com intuito de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
De acordo com as residentes, as atividades englobam caracterização socioeconômica dos pacientes atendidos; determinação de fatores de risco para desenvolvimento de Síndrome Metabólica; e identificação dos fatores associados à adesão dos assistidos ao tratamento nutricional, bem como aos motivos relacionados à falta de adesão.
Na primeira etapa do atendimento, um check list rigoroso auxilia as nutricionistas na coleta de informações sobre o histórico do paciente. Segundo Tahiná Pessôa, os dados obtidos na entrevista são imprescindíveis para que a equipe compreenda os hábitos do paciente e elabore estratégias para sua adesão ao tratamento nutricional.
“É importante entender as características da família, a situação socioeconômica do paciente e suas condições de nascimento. Também coletamos dados da gestação, do aleitamento materno e da alimentação complementar. Além disso, procuramos saber quais são os alimentos que a criança gosta e o estilo de vida dela. Nosso objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes e entender processos que estão interferindo na adesão deles ao tratamento nutricional”, explicou Tahiná.
As pesquisadoras revelam que hábitos alimentares irregulares nos primeiros meses de vida comprometem a saúde das crianças. Além do elevado consumo de alimentos industrializados, questões referentes ao aleitamento materno estão entre as principais causas da obesidade infantil. “Alimentação complementar precoce não é recomendada. O aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses de vida. Após esse período, o cardápio é ampliado gradativamente”, destacou Ana Heloísa Goes.
Dificuldade de adesão à dieta
Para a maioria dos adultos, seguir uma dieta equilibrada parece um grande desafio. Para crianças e adolescentes, resistir às “tentações” dos biscoitos recheados, dos doces e das frituras parece ainda mais difícil. A falta de exercícios físicos também dificulta o tratamento para redução de peso.
“Hoje, as crianças passam muito tempo na frente da TV, do computador e de outros aparelhos eletrônicos. Além disso, praticam pouca atividade física e não são estimuladas a brincadeiras de rua, devido à falta de segurança das cidades. Outro fator a ser considerado é o estilo de vida familiar. Se os pais têm alimentação inadequada, por exemplo, a probabilidade de os filhos seguirem esse padrão é grande”, alertou Tahiná Pessôa.
Sob essa perspectiva, a equipe de Nutrição da residência em Saúde da Criança criou estratégias educativas para que os pacientes tenham boa adesão ao tratamento nutricional. “Como investigamos o histórico alimentar da criança, fazemos um balanceamento e diminuímos, aos poucos, a quantidade de alimentos prejudiciais ao organismo. Não há proibição, mas conscientização. Desse modo, trabalhamos até a questão de custo-benefício e ensinamos receitas acessíveis e saudáveis”, ressaltou Tahiná.
Na próxima etapa da pesquisa, serão realizadas oficinas de culinária para elaboração de pratos saudáveis. A previsão é de que as atividades aconteçam no Laboratório de Técnica Dietética da Faculdade de Nutrição (Fanut), no Campus A. C. Simões, em Maceió.
Relevância do trabalho
Em seis meses de atuação, as residentes já possuem resultados satisfatórios e prestam atendimento a 25 pacientes. Ainda assim, as pesquisadoras destacam que combater uma doença que se manifesta, cada vez mais, em crianças de todo o mundo é um desafio permanente.
“Nós já recebemos paciente de 10 anos com taxa de colesterol de 213 mg/dl. No entanto, o valor considerado desejável é de até 150 mg/dl. A partir de 170 mg/dl já é grave”, esclareceu Ana Heloísa Goes.
A nutricionista também salientou que o diagnóstico de Síndrome Metabólica só é feito para crianças maiores de 6 anos. Segundo Ana Heloísa, algumas características são comuns àqueles que possuem a doença. “Normalmente, a criança tem obesidade; resistência à insulina [devido ao excesso de peso], que pode provocar manchas escuras nas regiões cervical [pescoço] e axilar; e hipercolesterolemia”, exemplificou.
A equipe realiza atendimento gratuito às terças-feiras, das 13h30 às 17h, no Hospital Universitário. Para marcar consulta, basta ligar para (82) 9613-2447/8892-6460/8150-7326, todos os dias, das 8h às 12h. Agendamentos presenciais são feitos às terças-feiras, das 13h30 às 17h, nas salas 3 e 5 do Ambulatório Pré-natal do Hospital Universitário.