Ufal em Defesa da Vida: depoimentos emocionados marcam 12º Ato

Organizadores do evento irão entregar às autoridades uma Carta Aberta em repúdio à impunidade e solicitando ações de combate à violência


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Solneidade de abertura do 12º Ato do Programa Ufal em Defesa da Vida
Solneidade de abertura do 12º Ato do Programa Ufal em Defesa da Vida

Manuella Soares - jornalista

São nove anos de luta, mas eu não vou desistir”. As palavras de otimismo foram acompanhadas por muitas lágrimas de um pai indignado, que ainda não conseguiu enterrar o filho, sequestrado e assassinado em 2004. O aposentado Sebastião Pereira participou do 12º Ato do Programa Ufal em Defesa da Vida, na manhã da quinta-feira (11), no auditório da Reitoria. O evento, organizado com apoio da Pró-reitoria Estudantil (Proest), discutiu “A dor da Impunidade: o que os números não revelam”.

A coordenadora do programa, Ruth Vasconcelos, falou sobre o momento de respeito com as famílias das vítimas da violência em Alagoas. “A Universidade dá a vez às pessoas que estão sofrendo com a impunidade. Nós temos que ter muita sensibilidade para não sermos indiferentes com essas pessoas que além da perda, precisam enfrentar a injustiça”, comentou.

Familiares de pessoas assassinadas foram convidados a compartilhar suas histórias de sofrimento e, entre os depoimentos emocionados, eles dividiram o sentimento de revolta misturado à esperança de conseguir uma resposta da justiça. “Pela fé dos meus pais e pela crença que eu tenho na moral e na justiça, espero que o resultado do julgamento não seja o mesmo que há dois anos, quando o acusado foi condenado a uma pena alternativa pela morte do meu irmão. Teremos um novo julgamento este mês e tenho certeza que será diferente”, disse Jhonathan Pino, na angústia de ter que relembrar tudo outra vez num tribunal.

Meu filho foi morto na frente de muita gente, no meio de uma festa. Essa impunidade não pode continuar. Acredito que todos devem lutar pelos seus direitos. Se todos falarem, forem às ruas reivindicar, as coisas podem mudar”, reforçou a cabeleireira Maria de Fátima Santos, mãe do modelo Erick Ferraz, assassinado no dia 1º de janeiro de 2012.

Também participaram do evento a vice-reitora da Ufal, Rachel Rocha; a representante da Associação dos Docentes da Ufal, Margarida Maria Santos; o Pró-reitor Estudantil, Pedro Nelson; o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Alagoas, deputado Judson Cabral; o superintendente de Direitos Humanos da Secretaria da Mulher, Geraldo Majela; o ex-secretário de Direitos Humanos, Pedro Montenegro; e a juíza criminal aposentada e professora da Ufal, Graça Gurgel, que falou sobre o medo que vitimiza a população. “A cultura do medo que é difundida gera impotência, é anticidadã, só serve para atender aos interesses obscuros”, destacou.

Ações que podem fazer a diferença

Depois de uma visita dos participantes ao Bosque, construído no Campus A.C. Simões para homenagear as vítimas na violência, o programa Ufal em Defesa da Vida encerrou o 12º Ato com a proposta de uma Carta Aberta à população na qual repudia a impunidade e a insegurança no Estado de Alagoas. Veja um trecho do documento apoiado pelos presentes e que será encaminhado às autoridades locais:

O descumprimento das leis pressupõe e/ou resulta na conivência do Estado. Seja por omissão, por incapacidade operacional ou por indisposição política das autoridades que ocupam os lugares da lei, o Estado não tem cumprido sua missão de guardião dos direitos e de protetor da vida e dos bens individuais e coletivos na sociedade alagoana”. (…) A violência institucional produzida, ativa ou passivamente, pelo Estado através da não resolução dos crimes, da desassistência médica, da desestruturação do processo educacional, da precariedade das moradias, da inexistência de equipamentos coletivos que atendam às demandas sociais, enfim, o descaso e o descompromisso com as garantias de direitos à maioria da população alagoana são atitudes que condenamos e repudiamos, de forma veemente, através deste instrumento que tornamos público nesta hora. (…) utilizamos este instrumento para denunciar os efeitos perversos da impunidade no contexto social, compreendendo que este é um fator que obstrui a promoção da justiça social e criminal.