Para além do bisturi: exposição relaciona arte e ciência
Cirurgião-plástico Gustavo Quintella expõe no Memorial do HU
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Lenilda Luna - Jornalista
O cirurgião-plástico Gustavo Quintella tem 30 anos de exercício da Medicina, mas tem uma outra paixão, a pintura. Ele passou muitos anos fazendo ilustração botânica, com a técnica de pintura em aquarela, que é bastante difícil por ser delicada. "Não é um trabalho que eu faço como relaxamento, porque também exige de mim muita precisão. Mas é um ofício prazeroso e eu percebo que quando estou pintando com frequência, a minha destreza com o bisturi melhora bastante durante as cirurgias", relaciona o médico e artista plástico.
Para buscar inspiração, o médico viaja bastante e entra nas reservas de mata atlântica, em busca das espécies que quer retratar. "Algumas vezes eu passo a madrugada na mata, porque preciso observar as flores quando elas estão com as pétalas abertas", relata o professor. Gustavo tem o cuidado de catalogar as plantas, colocando os nomes populares e científicos, e localizando a região onde elas foram encontradas. "Muito antes da fotografia, no século 17, era dessa forma que os botânicos europeus classificavam as espécies nativas da nossa flora", lembrou o artista.
Para o médico, mesmo o advento das modernas tecnologias para fotografar não tiraram o valor do desenho. "Principalmente em ilustração botânica, existem nuances que só a pintura à mão pode destacar. Por isso, essa atividade não perdeu o valor científico. Ainda hoje, em anatomia, os estudantes também analisam desenhos do corpo humano. É uma forma de aproximação entre a arte e a ciência", destaca o médico. Entre os vários quadros, ele indicou a pintura de uma erva de rato, lembrando que essa planta já foi catalogada pelos artistas trazidos por Mauricio de Nassau, numa enciclopédia de 1650. "Isso demonstra também o valor histórico da ilustração botânica", ressaltou Gustavo.
Apesar dos belos quadros e da delicadeza e precisão de cada desenho, essa é a primeira vez que o médico e artista plástico Gustavo Quintella expõe o trabalho dele. Até então, as obras só podiam ser conferidas pelos amigos e familiares, na casa dele, ou pelos pacientes, no consultório. "Aceitei o convite para expor feito pela amiga Leda Almeida. Mas não me considero um artista profissional, sou mais um autodidata", declarou o médico, revelando ainda sua paixão pela flora nativa da Mata Atlântica que, segundo ele, precisa ser conhecida, pesquisada e preservada.
A exposição "Aquarela de Flores da Mata Atlântica de Alagoas" pode ser visitada até o dia 26 de setembro no Memorial do HU, um espaço criado no hospital para ilustrar a história da medicina, e que também recebe atividades com os estudantes e comunidade, além de proporcionar exposições artísticas. "Para essa exposição, buscamos criar um ambiente que remetesse à mata atlântica, com folhas de eucalipto espalhadas pelo chão, exalando um cheiro que proporciona essa sensação olfativa das nossas florestas", explica a curadora da exposição e diretora do memorial, Leda Almeida.