Alagoana tem artigo publicado em anais de simpósio latino-americano

O artigo é da assistente social Cristina Gomes e resultou no Trabalho de Conclusão de Curso da pós-graduação em Direitos Humanos e Diversidade pela Universidade Federal de Alagoas


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Assistente Social, Cristina Gomes, autora do artigo publicado no Simpósio Latino-Americano
Diana Monteiro – jornalista 
 

Por mais avanços e conquistas alcançados pelo universo feminino, em pleno século XXI a mulher continua ainda vítima de preconceito e machismo em suas relações de trabalho e afetivas na sociedade onde a ideia de domínio sobrepõe-se ao reconhecimento de seus direitos. A vivência como assistente social de Cristina Gomes, no Município de Palestina, Alto Sertão do Estado, foi a motivação para refletir sobre essa singularidade da realidade em sua rotineira atividade profissional.

A reflexão de Cristina resultou em um artigo como trabalho de conclusão de curso (TCC), da pós-graduação em Direitos Humanos e Diversidade da Universidade Federal de Alagoas, coordenado pela professora Mara Rejane Ribeiro, com publicação recente nos anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina/2013, realizado na cidade de Londrina, (Paraná).  

“Apesar da Constituição da República de 1988, em seu artigo 5°, inciso I, seguindo a construção Internacional dos Direitos Humanos, estabelecer a igualdade entre homens e mulheres, nos tempos atuais ainda encontram  sensíveis barreiras para ser reconhecidas enquanto seres capazes de mudar ou construir a sua história. Tudo isso é fruto de um processo histórico, que dificulta o reconhecimento da mulher como ser merecedor de um lugar tanto digno quanto aquele dispensado aos homens”, reforça Cristina Gomes.  

Denominado de “Exploração/dominação de gênero e a sua relação com a divisão sexual do trabalho na perspectiva dos direitos humanos”, o trabalho de Cristina teve a orientação da professora Elvira Barreto, docente da Faculdade de Serviço Social e está entre os oitos publicados nos anais do V Simpósio Internacional promovido pelo Grupo de Estudos de Políticas Sociais da América Latina (Gepal).  

O artigo integra o Grupo de Trabalho que enfocou “Feminismos, Sexualidades e Marxismos na América Latina”, composto por pesquisadores de instituições de ensino superior do país, a exemplo da Universidade de Campinas (Unicamp) e do exterior, como a Universidad de Buenos Ayres. “Entre outros aspectos, o trabalho de Cristina Gomes reafirma a importância da questão de gênero no âmbito do Serviço Social; propicia um incentivo a outros profissionais a se dedicarem à pesquisa sobre a temática;  e ratifica a importância dos Núcleos Temáticos - órgão interinstitucional, interdisciplinar na Universidade Federal de Alagoas”, afirma Elvira Barretto, que está na coordenação do Núcleo Temático Mulher e Cidadania da instituição. 

A intimidade de Cristina com a temática vem desde a graduação, também feita na Ufal, e a oportunidade de aprofundar os estudos surgiu a partir da árdua rotina de trabalho no município sertanejo de Palestina em consonância com a pós-graduação lato sensu em Direitos Humanos e Diversidade. Ela cita o local de trabalho como exemplo emblemático de total desrespeito aos direitos da mulher: “No Setor de Proteção Social Especial da Secretaria Municipal de Assistência Social de Palestina convivi diariamente com pessoas de ambos os sexos e faixas etárias diferentes (crianças, jovens e idosos) em situação de risco social, que assim é configurado quando há perda dos vínculos familiares. Verifiquei  que dentre as maiores vítimas de violência que chegavam para atendimento,  era de idosos e mulheres a maior demanda”, destaca Cristina. 

Ideologia da dominação 

Em seu artigo, Cristina Gomes faz uma abordagem da sociedade matriarcal e patriarcal; a implantação do capitalismo; trabalho secular; emergência do feminismo; o trabalho feminino; dupla jornada de trabalho, contextualizando a falta de equidade salarial e a discriminação quanto à ocupação nos postos de trabalho. Ao destacar o capitalismo como regime econômico predominante, Cristina ressalta o patriarcalismo e machismo, do qual se surge a ideia da dominação em que se tem a necessidade de haver um grupo dominante, conforme a ideologia de dominação.  

Segundo ela, ao mesmo tempo em que o sistema fortalece a divisão sexual das tarefas de forma que as relações sociais são baseadas a partir das atribuições definidas por essa divisão, o capitalismo aponta, além disso, mecanismos de ordem natural, como a raça e o sexo, que operam no sentido de atribuir a estrutura de classe a razão de alguns exercerem maiores vantagens em relação aos outros. 

“No caso da mulher negra, além de ser negra, não é permitida a ela realmente a possibilidade de conquistar sua autonomia, uma vez que o fator raça e o seu sexo determinam a sua posição social na sociedade. Portanto, são poucas ainda as mulheres negras reconhecidas pela sua posição social”, enfatiza.  Quanto à publicação de seu artigo em tão importante evento que tem como foco de discussão a mulher, Cristina Gomes diz ser um ponto inicial estimulante para desenvolver ainda mais a reflexão iniciada e pelo impacto social que representa. 

 

 “A pretensão de aprofundar a reflexão será no futuro mestrado a ser implantado pela Coordenadoria de Direitos Humanos, mas em paralelo me integrarei a grupos de pesquisa sobre a mulher desenvolvida pelo Núcleo Temático Mulher e Cidadania, coordenado pela professora Elvira Barreto”, enfatizou.     

Trabalhos publicados  

Os demais trabalhos publicados no Grupo de Estudos de Políticas Sociais da América Latina (Gepal)  são: “Do luto à luta: madres e mães de maio contra a violência de Estado”, de Renata Gonçalves (Unifesp/BS)e Nathalia C. Oliveira (Unicamp); e “As mulheres na Comuna de Paris: de coadjuvantes a protagonistas”, de Jaqueline Andrade (Universidade Estadual de Londrina). 

Estão também publicados no Grupo de Trabalho Feminismos, Sexualidades e Marxismos na América Latina: “Os caminhos da política: o sindicalismo rural e os movimentos de mulheres trabalhadoras rurais em Pernambuco”, de Caroline Araújo Bordalo (UFRRJ); “Identidade coletiva e “política de identidade” no movimento LGBT brasileiro”, de Rafael Dias Toitio (Unicamp); “As transformações do movimento feminista no Brasil e sua relação com a América Latina”, de Carolina Quieroti Timoteo (Universidade Estadual de Maringá); e “Mulheres negras”, de Márcia Figueiredo Tokita (Universidade Estadual de Londrina).