Especialistas debatem a exaustão dos recursos naturais e os mitos do desenvolvimento sustentável

As reflexões fazem parte do ciclo "Ufal debate grandes temas" promovido pela Proex


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Mesa de debates
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Lenilda Luna - jornalista

Promover a reflexão sobre temas relevantes, com a participação de professores e estudantes de vários cursos, possibilitando o confronto de pontos de vista de pesquisadores das várias áreas de conhecimento. Essa é a proposta do ciclo "Ufal debate grandes temas", que aconteceu na manhã desta quinta-feira, 17, no auditório da Reitoria. "É papel da universidade provocar a discussão sobre os temas que angustiam a sociedade", destacou José Roberto Santos, coordenador dos Programas de Extensão, na abertura do evento.

O ciclo vai acontecer pelo menos uma vez por mês, elencando temas que tenham uma abordagem interdisciplinar. "Na Ufal, realizamos várias pesquisas e análises importantes, que muitas vezes ficam restritas à unidade acadêmica. Esse ciclo pretende possibilitar o compartilhamento de produções científicas e a reflexão sobre questões que são importantes para a sociedade", ressaltou Eduardo Lyra, pró-reitor de Extensão.

No primeiro debate do ciclo, o tema proposto foi “Exaustão dos Recursos Naturais: reflexões preservacionistas e desenvolvimentistas”. Os palestrantes convidados foram: a professora Rochana Campos de Andrade Lima Santos, doutora em Geociências, e Gabriel Louis Le Campion, mestre em Oceanografia Biológica.  O debate foi mediado por Ulisses Gomes Cortez Lopes, ecologista e integrante da Proex.  "Queremos avaliar o preço alto que estamos pagando por um progresso que nem mesmo foi capaz de erradicar a pobreza em várias partes do mundo", questionou o mediador.

A professora Rochana Lima apresentou um panorama das atividades econômicas desenvolvidas em Alagoas, relacionando os impactos ambientais provocados por cada ação sobre o meio ambiente. Passando pelo investimento em mineração, em Craíbas, a construção do Canal do Sertão, a pesquisadora ponderou a degradação dos recursos naturais e as possibilidades de compensação dos danos. "Não podemos impedir as atividades produtivas que são necessárias ao desenvolvimento sócio-econômico, mas podemos fazer isso avaliando as formas de minimizar o desgaste destes processos", ponderou a geóloga.

Mesmo fazendo uma reflexão crítica sobre as várias atividades que degradam a natureza, a professora apresentou também alguns avanços, como o exemplo de produção de cerâmica em que a fábrica utiliza gás natural, ao invés de lenha para os fornos, reutiliza a água e promove o reflorestamento. Outro exemplo foi o polêmico debate em torno da instalação do Estaleiro no litoral sul de Alagoas. "Fiz parte da comissão que propôs um local alternativo, preservando os manguezais da primeira área apresentada", relatou Rochana.

O professor Gabriel Campion começou a exposição dele com uma reflexão do biólogo Barry Commoner, considerado um dos fundadores da ecologia moderna, que faleceu ano passado aos 95 anos. "Commoner nos lembra que todos estamos ligados e não existe ação sem impactos. A questão é enxergar a vida com uma visão holística. Inovação e tecnologia são necessárias para tentar alcançar uma economia verde", refletiu Campion.

Numa palestra bem humorada, que arrancou risadas da platéia, Campion instigou todos a refletirem sobre os termos ecológicos "da moda" e a importância de propor novos paradigmas para a ação humana sobre o planeta. "Na verdade, estamos aqui de passagem, e podemos ser extintos como tantas espécies que povoaram o planeta e já não existem mais. Esse planeta é das bactérias. São elas que resistem nesse ecossistema por mais tempo. No entanto, o homem é tão egocêntrico que acredita ser capaz de 'salvar' o planeta". provocou o professor.