Estudo analisa comportamento reprodutivo e conjugal de homens e mulheres de Maceió

A pesquisa também aponta a importância de alertar a sociedade para o uso de métodos contraceptivos


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A pesquisadora Monise Vital fez sua tese de dissertação analisando comportamento reprodutivo e conjugal de homens e mulheres de Maceió | nothing
A pesquisadora Monise Vital fez sua tese de dissertação analisando comportamento reprodutivo e conjugal de homens e mulheres de Maceió

Deriky Pereira – estudante de Jornalismo

Identificar padrões de comportamento reprodutivo e conjugal de homens e mulheres de Maceió. Este foi o objetivo da pesquisa coordenada pela professora Ruth França Cizino Trindade, da Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar) da Universidade Federal de Alagoas e tema da dissertação de Clessiane Monise Vital França, a mesma foi financiada pelo CNPq. Por meio de entrevistas com 800 participantes, sendo 400 homens e 400 mulheres, a pesquisa identificou aspectos como gênero, cor da pele, classe social, número de gravidezes, de filhos tidos, além do planejamento da reprodução e o uso de métodos contraceptivos.

Segundo dados da pesquisa “Gênero e Reprodução: um estudo sobre comportamento reprodutivo e conjugalidade de Homens e Mulheres de uma capital brasileira”, 52,2% dos entrevistados revelaram ter união civil enquanto que 47,8% disseram viver uma união consensual. Quanto ao número de filhos, 89,5% dos entrevistados possuem de um a três filhos. Desse número, a pesquisa aponta que 43,97% não fizeram planejamento da primeira gravidez enquanto que 52,10% planejaram.

Outro destaque é o número de pessoas que não utilizaram nenhum método contraceptivo: 66,43% contra 26,62% dos que utilizaram algum método preventivo no momento em que planejaram engravidar. “As pessoas apontaram diversos motivos para o não uso dos métodos e 69,4% atribuíram à laqueadura. Também citaram desconforto (com 4,9%), que o parceiro ou parceira não gostam (com 4,5%), a vasectomia (3,2%) e a esterilidade do parceiro (0,6%) ou da parceira (1,9%). Os que não usam por não querer somaram 2,4% enquanto que 0,8 disseram confiar em seus respectivos parceiros”, apontou Ruth Trindade.

O estudo apontou também quais os métodos contraceptivos mais utilizados pelos homens e mulheres da capital. O destaque fica com a pílula anticoncepcional com 19%, seguida do preservativo com 9%. “O coito interrompido vem depois com 3,5% e o uso de mais de um método foi mencionado por 3% dos entrevistados. O DIU [Dispositivo Intrauterino] é utilizado por 1,8% das pessoas e 1% disse usar a tabela”, complementou a pesquisadora.

Segundo Ruth, os dados acima revelam a necessidade em alertar a sociedade quanto ao uso de métodos contraceptivos considerados como fundamentais na prevenção do contágio de Doenças Sexualmente Transmissíveis [DSTs]. “Este tipo de estudo é de grande importância e possibilita futuros debates sobre como o perfil sexual e reprodutivo dos casais vem evoluindo no decorrer dos anos, possibilitando assim maiores investimentos em educação em saúde, planejamento familiar e distribuição de métodos contraceptivos”, concluiu.

Iniciar um relacionamento

A pesquisa mostrou também os elementos considerados como relevantes para os maceioenses na hora de iniciar um relacionamento. O sentimento mais citado foi o amor: 60,5% dos homens e 68,8% das mulheres. Além disso, 11% dos homens também atribuíram o momento à paixão e 14% das mulheres citaram à gravidez.

“Ao considerar que o amor e o casamento estão sendo postos em xeque em nossa sociedade, na medida em que surgem novas configurações familiares, ou mesmo outras possibilidades de se vivenciar o sentimento amoroso, é interessante avaliar que em Maceió, os casais estão se unindo principalmente por amar o outro”, disse Monise Vital, autora da dissertação e mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas.

Relações extraconjugais

O estudo revela a média de parceiros de relações extraconjugais por sexo: os homens que traíram tiveram em média cinco parceiras enquanto as mulheres apenas um. Além disso, 28,5% dos homens não fez uso de preservativo no momento da relação extraconjugal, enquanto que o número de mulheres foi maior: 41%. “Isso mostra como é alarmante o número de relações sexuais com outros parceiros de forma desprotegida, haja vista todos os riscos que implicam para sua vida conjugal pela vulnerabilidade dos cônjuges que estão em suas casas e que não praticam relações extraconjugais”, ponderou a pesquisadora.

Gravidezes (in)desejadas

Apesar de a maioria dos entrevistados relatarem o desejo de se ter filhos, a pesquisa revela que, na prática, a maioria das gestações não foram planejadas: 52,1% disseram ter desejado a gravidez, enquanto que 27,9% dos entrevistados desejavam esperar mais. “Percebe-se o alto índice dos que desejavam esperar mais ou que não desejavam ter mais filhos (4,4%). Nesse sentido, pode-se inferir a não programação da gestação associado ao uso incorreto de método contraceptivo, a falta de cumplicidade entre os cônjuges na negociação da escolha do método, dentre outros fatores”, apontou Monise.

Atração sexual no relacionamento

Um último ponto levantado pelo estudo foi a percepção da necessidade de homens e mulheres sobre a manutenção de relações sexuais cotidianas: 19% dos homens percebem suas parceiras com menor apetite sexual, enquanto que 22,1% disseram ter a sensação de que a atração continua a mesma. Em relação às mulheres, a visão delas com relação aos homens foi de: 27,3% como mais atraídos e 16,3% com a mesma atração.

“Vale considerar que o aspecto da atração sexual no relacionamento é um dos itens mais importantes para compor a satisfação conjugal. Sendo assim, a saúde sexual da mulher, no que diz respeito ao prazer, a libido, também deve ser trabalhada pelos profissionais da saúde que, na maioria das vezes, percebem o assunto sexualidade como um tabu e exploram-no de forma muito superficial, deixando de lado a promoção para a saúde sexual da mulher”, concluiu Monise Vital.