Estudo comprova ação anti-inflamatória de um composto isolado a partir das folhas de uma planta da Mata Atlântica

O composto pesquisado é o ácido siaresinólico e o estudo foi desenvolvido pela bióloga Almair Ferreira no Laboratório de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde


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A estudante no Congresso Internacional de Biologia Celular, no Rio de Janeiro, em 2012 | nothing
A estudante no Congresso Internacional de Biologia Celular, no Rio de Janeiro, em 2012

Diana Monteiro – jornalista  

As plantas são uma rica fonte de produtos biologicamente ativos, o que as tornam importantes quando se busca o desenvolvimento de novos fármacos. Mesmo o reino vegetal possuindo uma grande diversidade com a descrição de 250 a 500 mil espécies, o potencial científico da grande maioria das plantas continua ainda desconhecido, com apenas 17%  de estudo sob o aspecto fitoquímico e uma porcentagem ainda menor relacionada às propriedades biológicas. 

Estudo científico desenvolvido pela bióloga e então aluna do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Alagoas, Almair Ferreira de Araújo, constatou ter a planta Sabicea grisea ação anti-inflamatória por meio do ácido siaresinólico, que é um triterpernoide, obtido a partir das folhas da espécie. A planta  é encontrada na Mata Atlântica Brasileira e tem como atividade biológica destacada a capacidade de inibir o crescimento de linhagem de células HL – 60 de leucemia humana. 

O ácido siaresinólico é um triterpenoide encontrado em diversas espécies de plantas, mas há poucos estudos sobre as propriedades farmacológicas dele, em especial atividade anti-inflamatória. “A pesquisa realizada objetivou investigar as possíveis ações anti-inflamatórias do triterpenoide ácido siaresinólico utilizando modelos experimentais in vivo e in vitro”, explica a pesquisadora, que apresentou o resultado do estudo científico no último mês de setembro durante o Congresso Mundial de Inflamação, na cidade de Natal e em julho de 2012 no Congresso Internacional de Biologia Celular. 

Denominado de “Avaliação do Efeito Anti-inflamatório do ácido siaresinólico obtido a partir das folhas de Sabicea grisea”, o estudo foi realizado por Almair Ferreira durante dois anos no Laboratório de Biologia Celular do ICBs/Ufal, sob a orientação do professor Emiliano Barreto. Contou com a co-orientação da professora Lucia Maria Conserva do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Ufal e com a parceria do Herbário do Instituto de Meio Ambiente de Alagoas, para a aquisição da planta Sabicea grisea; e do Biotério Central da Ufal, que destinou camundongos para os testes científicos. 

Estudo 

Segundo a pesquisadora, foi induzido um processo inflamatório não alérgico no animal e o pré-tratamento foi feito com o ácido siaresinólico. Realizou-se  a avaliação dos parâmetros celulares e vasculares para mensurar o perfil da inflamação e foi observado o efeito anti-inflamatório do citado composto químico, obtido a partir das folhas da espécie Sabicea grisea. “Para estudar inflamação, diversos são os modelos consolidados na literatura. Dentre eles, a indução de inflamação em uma cavidade estéril do animal, no caso a cavidade torácica, cuja membrana envolve o pulmão”, explica Almair Ferreira. 

Falando sobre a importância da pesquisa, Almair  diz que as plantas possuem diversos compostos químicos, dentre eles os triterpernoides bastante estudados por apresentarem diversas atividades biológicas, tais como: atividade hepaprotetora, analgésica, antimicrobiana, imunomoduladora e anti-inflamatória. Ela destaca que compostos provenientes de produtos naturais são uma alternativa terapêutica promissora. 

“Primeiro, pelos inúmeros exemplos de medicamentos que temos no mercado, como a morfina, aspirina, medicamentos anti-cancerígeno, como paclitaxivel. Segundo, por serem alternativas visando minimizar os efeitos colaterais observado na maioria dos anti-inflamatórios convencionalmente utilizados. A pesquisa básica realizada comprovou ação anti-inflamatória da planta Sabicea grisea por meio do ácido siaresinólico, mas para ser absorvido pela indústria farmacêutica outros estudos são necessários”, frisa Almair Ferreira. 

Mestrado 

Oriunda do município alagoano de Mar Vermelho, a carreira de pesquisadora de Almair Ferreira se destacou durante a graduação em Biologia, como aluna do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), ao estímulo para cursar mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro recebido do professor Bruno Lourenço Diaz, chefe  do Laboratório de  Inflamação no Instituto Carlos Chagas Filho. 

“O professor  Bruno Diaz, atual orientador  do meu projeto de mestrado, conheceu a minha pesquisa com o ácido siaresinólico quando esteve no Laboratório de Biologia Celular/Ufal durante a VII Reunião Regional da Federação de Biologia Experimental 2012 (FeSBE) e me convidou para fazer alguns experimentos em seu laboratório na UFRJ. A partir daí,  houve o convite para fazer o mestrado na UFRJ”, frisou Almair. Ela fez a seleção de mestrado para Biofísica e Fisiologia, e obteve aprovação nos dois, mas escolheu o de Fisiologia.   A pós-graduação tem conceito 7 na Capes (o mais alto conceito concedido) e  Almair inicia as aulas em outubro. 

Na  UFRJ  a pesquisadora alagoana desenvolverá o estudo inédito denominado de “O papel da hiperglicemia na malignidade tumoral”. Segundo Almair, estudos epidemiológicos do Ministério da Saúde apontam o diabetes  como fator de risco para os diversos tipos de câncer, entre eles câncer de cólon, fígado, pâncreas e mama. O estudo  transcorrerá durante dois anos e contará com a colaboração do laboratório de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), da Universidade Federal de Alagoas.