Instituto de Geografia e Meio Ambiente promove projeto para melhorar a qualidade do ensino nas escolas públicas

O projeto piloto está sendo implantado em escolas de Maceió e Arapiraca


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Apresentação de vários tipos de rochas para os alunos
Apresentação de vários tipos de rochas para os alunos

Lenilda Luna - jornalista 

Entre os 73 projetos aprovados no edital do Programa de Ações Interdisciplinares (Painter), no início de 2013, existe um voltado para a melhoria do ensino de Geografia nas escolas públicas, intitulado "Incentivo ao ensino de Geociências no Estado de Alagoas.  Projeto piloto: centros de ensino fundamental de Maceió e Arapiraca". 

O projeto é desenvolvido, desde abril deste ano, por estudantes de licenciatura em Geografia e é coordenado pela professora Regla Toujaguez la Rosa Massahud, cubana que está há vários anos morando no Brasil, com doutorado e pós-doutorado em Ciência do Solo pela Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, e que foi aprovada em concurso público como professora da Ufal em 2012. 

O grupo pretende trabalhar com sete escolas públicas de Alagoas, sendo quatro em Arapiraca e três em Maceió. As atividades foram iniciadas em duas escolas de Arapiraca e duas de Maceió. A proposta é incentivar o interesse dos alunos e professores para os aspectos geocientíficos do Estado. "Alagoas tem uma grande riqueza geológica que nem sempre é apresentada aos estudantes. Conhecê-la pode estimular o interesse pela geologia", ressalta Regla. 

A estudante de Geografia Josilnaine Santina está desenvolvendo o projeto na escola estadual Onélia Campelo, no conjunto Santos Dumont, próximo ao campus. Para ela, tem sido uma experiência estimulante colaborar com o projeto pedagógico da escola no ensino de Geografia. "Nas escolas, o interesse pelo estudo da terra, com manipulação dos minerais, praticamente não acontece. O ensino de Geologia entra como eixo transversal e nem sempre recebe a atenção necessária. Queremos mostrar como as crianças e adolescentes ficam interessados quando a proposta de ensino é mais participativa", relata a universitária. 

Dependendo dos recursos disponíveis na escola, como data show e outros equipamentos, os estudantes levam vídeos que mostram vários aspectos do solo, além de levar amostras de rochas que podem ser manipuladas pelos alunos. Para Camila Maria da Silva, essa é a primeira experiência em sala de aula, bem antes do estágio exigido pelo curso de licenciatura em Geografia. "Lidar com alunos de 7º e 8º anos do ensino fundamental está sendo importante para mim. É um desafio atrair a atenção dessas crianças para nossos experimentos", relata Camila. 

A colaboração dos professores das escolas é fundamental para o desenvolvimento das atividades. "Não podemos realizar o projeto sem adesão dos regentes de sala. Felizmente, nas reuniões que realizamos com os professores de Geografia para apresentar a proposta, fomos recebidos com muito entusiasmo. Além de colaborar com as aulas, todo o material pedagógico que desenvolvemos fica na escola", explica a professora Regla. 

Nas escolas municipais de Arapiraca, por exemplo, foi preciso confeccionar maquetes, já que as unidades Hugo Lima, no Centro, e José Lourenço de Almeida, na zona rural, não dispõem de muitos recursos audiovisuais. "Elaboramos uma maquete do sistema solar e das camadas da terra que chamaram a atenção dos alunos do 7ª ao 9ª anos. As crianças acompanharam as explicações sem tirar os olhos do material ilustrativo", contou Taís dos Santos Silva, aluna de Geografia e bolsista do projeto. 

Os estudantes da Ufal que estão atuando em Arapiraca já estão planejando como utilizar um recurso muito importante que existe na cidade. "As crianças ainda não foram ao planetário. Estamos querendo agendar uma visita e conseguir transporte, porque seria uma experiência inesquecível para elas. Os estudantes gostam quando as aulas vão além de copiar os assuntos do quadro", propõe Wevillyn Silva Soares, também bolsista do projeto. 

Segundo Regla Toujaguez, o projeto quer fomentar a carreira de professor em Alagoas. "Temos o compromisso, na universidade, de buscar melhorar o índice de desenvolvimento humano (IDH) no Estado, que é muito baixo. Grande parte dessa melhoria passa pela qualidade da educação, e isso só acontece com professores entusiasmados e dispostos a enfrentar os desafios que se impõem nessa profissão", pondera a coordenadora. 

Se os desafios são grandes para o ensino em geral, são maiores ainda quando se busca a inclusão social de alunos com algum tipo de deficiência. É o que está enfrentando o bolsista Carlos de Oliveira Bispo que, ao lado da aluna Camila, atua na escola estadual Tavares Bastos, na Praça Centenário, no bairro do Farol, em Maceió. "A escola tem muitos alunos surdos e nós estamos buscando os recursos para que eles interajam cada vez mais durante as aulas. O problema é que o número de interpretes de Libras é insuficiente. Já tivemos que suspender aulas por dificuldades na comunicação", lamenta o aluno. 

A partir de questões como essa, os alunos estabelecem novas metas. Alguns já estão interessados em aprender a Linguagem Brasileira de Sinais, para atuar no magistério em condições de proporcionar a inclusão dos surdos. Na escola, novas atividades vão surgindo. A partir do estudo do solo, os alunos chegaram a proposta de cultivar uma horta e para isso já está em discussão uma parceria com o Centro de Ciências Agrárias. "Projetos com esse tem abertura para proporcionar muitas atividades diferenciadas nas escolas", conclui Regla. 

O resultado parcial do projeto  foi apresentado pela professora Regla Toujaguez durante a IX Convenção Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Havana, Cuba, de 8 a 12 de julho de 2013.