Nutricionista realiza estudos sobre óleo alternativo para substituir a gordura trans
A preocupação de Adriana Fialho foi propor um óleo cujo cultivo não promova o desmatamento
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Lenilda Luna - jornalista
Desde 2010, protestos se espalharam pela Europa por conta das florestas destruídas para o plantio de palmáceas. O óleo de palma da Indonésia é utilizado para produzir chocolates sem gordura trans. Para os nutricionistas, a substituição da gordura trans é fundamental, porque ela é extremamente prejudicial à saúde. A gordura hidrogenada, como também é conhecida, pode aumentar os níveis de colesterol ruim, o LDL, elevando o risco de arteriosclerose, infarto e acidente vascular cerebral.
Mas, se de um lado existe a preocupação nutricional, de outro está o equilíbrio ecológico. Ativistas do Greenpeace são contrários à alternativa encontrada por uma grande empresa internacional de alimentos, que está estimulando cada vez mais a substituição de florestas naturais pela de cultivo da palma. Na Indonésia, o desmatamento para produzir palmas e extrair óleo já está comprometendo a fauna local.
A nutricionista Adriana Fialho, formada pela Universidade Federal de Alagoas e pós-graduada em Obesidade e Emagrecimento pela UVA, elaborou um estudo para uma empresa de alimentos brasileira, com o objetivo de substituir a gordura trans por um óleo de uma planta nativa da África e muito encontrada no Brasil. Adriana, que atualmente é consultora em Boas Práticas e Rotulagem Nutricional para Indústrias de Alimentos, pesquisou o óleo de dendê.
Segundo o estudo, a palmeira de dendê, dendezeiro ou simplesmente dendê, chegou ao Brasil pelas mãos dos portugueses. "O dendê veio junto com os primeiros escravos e encontrou condições propícias a sua aclimatação, desenvolvendo-se, principalmente, no litoral baiano, entre Ilhéus e Salvador. Hoje, são encontradas áreas produtoras no Amazonas, Amapá, Bahia e Pará, este o maior produtor de óleo de palma do País, concentrando mais de 80% da área plantada", informa o artigo.
O óleo de dendê não pode faltar na cozinha baiana. "Empregado com sabedoria ancestral, de origem sagrada, o dendê entra no preparo de pratos baianos como acarajé, vatapá, bobó de camarão, moquecas e caruru, entre outros", relata a nutricionista, que destaca também outros usos. "É o óleo mais apropriado para fabricação de margarina, pela sua consistência e por não rancificar, excelente como óleo de cozinha e frituras, sendo também utilizado na produção de manteiga vegetal, apropriada para fabricação de produtos de panificação e confeitaria, substituindo assim o uso da gordura trans, a forma mais prejudicial à saúde coronariana", destaca Adriana.
As propriedades nutricionais
No artigo, Adriana Fialho destaca as propriedades nutricionais do óleo de dendê. "Uma colher de sopa rasa (13 gramas) fornece 116 kcal, 13 gramas de gorduras totais e 2 gramas de gordura saturada. Cada grama de óleo concentrado tem uma densidade de energia equivalente a nove calorias e é fonte alimentícia útil que satisfaz nossas exigências de energias diárias.
Como outros óleos e gorduras comestíveis, o óleo de palma e seus derivados, por exemplo, a oleína de palma e a estearina, são facilmente absorvidos e utilizados normalmente em nosso metabolismo", informa a pesquisadora.
Ainda segundo o estudo, o óleo de dendê é uma excelente fonte de vitaminas. "O óleo de palma não processado, usado em muitos países para o cozimento, é uma rica fonte de Beta-Caroteno, 14 vezes mais que a cenoura, o qual é o precursor mais comum de vitamina A, que tem como funções a promoção da visão noturna, a saúde da membrana da mucosa e da pele, o crescimento dos ossos e a reprodução. Também é uma excelente fonte de Vitamina E, através de suas formas ativas, que tem como principal função da no corpo apresenta-se como um antioxidante", ressaltou a pesquisa.
Nas dietas, esse óleo de dendê tem sua importância. "Alguns estudos sobre alimentação humana mostraram que algumas dietas enriquecidas com óleo de palma aumentaram o bom colesterol do sangue (HDL) e permitiram a diminuição dos níveis de colesterol ruim no plasma (LDL). (...) Em outros estudos, uma dieta de óleo de palma, comparada com as dietas contendo alguns outros óleos, têm um efeito protetor no desenvolvimento e incidência do câncer de mama experimentalmente induzido", relata a nutricionista.
A importância da substituição de gordura trans
Encontrar substitutos da gordura trans na indústria alimentícia, sem provocar ainda mais desmatamento, é o desafio dos pesquisadores. Em alguns países, a gordura trans já é proibida. A substância nociva à saúde se propagou pela facilidade de uso na fabricação de produtos. "Este procedimento é atraente para a indústria em face da prolongação da vida de prateleira dos produtos; da melhor estabilidade da gordura durante a fritura e do aumento da solidez e maleabilidade, características importantes no caso de produtos de confeitaria", explica a nutricionista no artigo.
Mas a boa aparência dos alimentos, produzidos com a gordura trans, esconde muitos perigos para a saúde. "O consumo de gordura trans aumenta o risco da cardiopatia coronária, havendo indicações de que aumente também o risco de morte cardíaca súbita e diabetes. Tais evidências vêm causando preocupação em todo o mundo, devido ao impacto que a carga de enfermidade e incapacidade imposta pelas doenças cardiovasculares pode causar nos sistemas de saúde", relata a pesquisadora.
Com o desenvolvimento de mais e mais pesquisas revelando os custos para a saúde da população com o uso de ácidos graxos trans industrialmente produzidos (TFA), ou gordura trans, a Organização Mundial de Saúde propôs estratégias para os governos de todo o mundo controlarem o uso da substância pela indústria alimentícia. "Em 2003, o Governo Brasileiro criou normas técnicas sobre a rotulagem nutricional obrigatória para a inclusão da informação da TFA para produtos industriais. Em consequência, as algumas indústrias optaram pela substituição da TFA pelo óleo de palma, visando não só a economia, mas também a saúde do consumidor", informa Adriana.
Plantio sustentável
Segundo Adriana Fialho, a grande vantagem do óleo de dendê, além das propriedades nutricionais, é que o plantio da palma atende também às expectativas dos ecologistas. "Ao contrário do que ocorre na Malásia e na Indonésia, que vem sofrendo com o desmatamento visando o plantio indiscriminado da palma, o Governo Federal do Brasil criou, em 2010, o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma no Brasil, baseado nas diretrizes de preservação de vegetação nativa, produção integrada à agricultura familiar e com ênfase em áreas degradadas da Amazônia Legal e na reconversão de áreas utilizadas para cana-de- açúcar", explica ela no artigo.
O artigo relata as medidas governamentais para manter a produção do óleo sem provocar a degradação ambiental. "O Zoneamento Agroecológico da Palma delimitou apenas áreas aptas em regiões que sofreram ação humana. Com a proibição do desmatamento de área de vegetação nativa para plantio em todo território nacional, o total de áreas aptas caiu de 232,8 milhões para 31, 8 milhões de hectares – em 96,3% do território nacional não é permitido plantar palma", destaca a pesquisadora.
Mas, como sempre quando se trata de atividades econômicas que visam lucro, é preciso estar atento para garantir o cumprimento da legislação ambiental. "Hoje, são encontradas áreas produtoras no Amazonas, Amapá, Bahia e Pará, este o maior produtor de óleo de palma do País, concentrando mais de 80% da área plantada. Mesmo com o programa, de acordo com o Greenpeace, o plantio sustentável de palma pode gerar desmatamento indireto, isso porque o gradativo aumento da produção pode empurrar setores como gado e alimentos para cima de áreas cobertas com floresta", concluiu a pesquisa.
Veja aqui a campanha do Greenpeace contra o desmatamento para produção do chocolate.