“Pessoa pública não é banco de praça”, diz Leda Nagle, em entrevista

Em entrevista à Assessoria de Comunicação da Ufal, a jornalista falou sobre seu trabalho e sua presença no maior evento cultural alagoano


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Leda Nagle conversou com o público

Rose Ferreira e Myllena Diniz – jornalista e estudante de Jornalismo 

A 6ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas contou com a participação da jornalista Leda Nagle. Natural de Minas Gerais, Leda Nagle ganhou destaque ao comandar entrevistas no Jornal Hoje, da Rede Globo, de 1977 a 1989. Considerada um ícone do Jornalismo brasileiro, ela apresenta o programa Sem Censura, da TV Brasil, desde 1996. Em entrevista à Assessoria de Comunicação da Ufal, a jornalista falou sobre seu trabalho e sua presença no maior evento cultural alagoano. 

ASCOM – É a primeira vez que você vem a Maceió, Leda? 

LEDA – É a segunda vez, mas existe um intervalo de vinte anos, entre uma e outra. Na última vez eu vim de férias, curti o mar de Maceió... As praias daqui são muito bonitas! Agora, eu vim a trabalho e estou encantada com o fato de uma universidade federal promover a Bienal em Alagoas, eu acho que o caminho é esse. Eu tenho o maior carinho pelas iniciativas da academia. 

ASCOM – Você saiu do interior de Minas Gerais, foi para o Rio de Janeiro e conquistou o Brasil. Como foi essa trajetória? 

LEDA – Eu quis ser jornalista desde sempre. Então, procurei seguir esse caminho. Primeiro, ganhei um concurso de estagiários do JB[Jornal do Brasil]. Foi bem legal, porque participavam estagiários do Brasil inteiro e quem ganhava ficava bem metido (risos). O prêmio não era dinheiro, mas um estágio. Essa oportunidade mostrou que eu realmente queria o Jornalismo, que eu tinha achado a minha profissão. Quando o Jornal fechou, eu fui para O Globo. Depois, recebi uma proposta da Editora Abril, fui pra São Paulo, mas só fiquei quarenta dias, porque não me adaptei à cidade. Na volta, sem querer, eu fui fazer televisão e me apaixonei. O “entrar” na TV foi sem querer, o “ficar” foi absolutamente consciente. 

ASCOM – Além de jornalista e apresentadora, você também tem experiência como atriz. Como é esse seu outro lado? 

LEDA – Eu fiz umas duas peças, mas não me considero atriz. Essa experiência eu tive quando participei de um grupo de teatro da universidade, que ainda existe. Era um grupo feito por alunos da universidade, basicamente os de Comunicação Social. Foi uma experiência muito boa, mas foi uma atividade esporádica. 

ASCOM – Nos seus livros, você fala sobre suas melhores entrevistas. Qual é o segredo para uma boa entrevista? 

LEDA – Escutar o entrevistado! Estudar sobre ele, claro, e escutar o que ele fala. Se ligar na conversa, na história... É a conversa que vai te mostrar coisas novas. A pessoa vai falando, você vai absorvendo e vai rolando... 

ASCOM – Como é comandar o programa Sem Censura, desde 1996, com audiência fiel e elevado padrão de qualidade? 

LEDA – É ficar quase louca todos os dias (risos). Acredito que o importante é achar uma pessoa que fale bem sobre determinado assunto. Você tem que ficar atento, conversar e costurar bem o diálogo. É como o trabalho de um chef de cozinha, que precisa administrar tudo e alcançar uma sintonia, uma harmonia. 

ASCOM – Agora, nós queremos saber sua opinião sobre a polêmica das biografias não autorizadas. Você considera que a iniciativa é um atentado à liberdade de expressão, como defende a Associação Nacional de Editoras de Livros? 

LEDA – Eu gosto de biografias, mas acredito que a pessoa pública não é banco de praça. A vida de uma pessoa só pertence a ela, o que é público é o que ela faz em torno do seu trabalho. Tem que haver uma separação. Tudo será eternamente público? Não sei se é assim. Eu não considero a iniciativa uma censura, porque não compromete a liberdade de expressão. O que compromete a liberdade de expressão é você fechar jornal, dizer que um político não roubou, não denunciar desvio de verba pública... Isso compromete a liberdade de expressão. Agora, falar da vida pessoal de uma pessoa não compromete a vida de outra.