Estudo de Enfermagem analisa as ocorrências de homicídios por armas de fogo em Maceió

A pesquisa procurou traçar um perfil das vítimas para saber qual é o público mais vulnerável à violência


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Ruth Trindade Cizino está concluindo o projeto de pós-doutorado na USP | nothing
Ruth Trindade Cizino está concluindo o projeto de pós-doutorado na USP

Lenilda Luna - jornalista 

A escalada da violência em Maceió, muitas vezes associada ao tráfico de drogas, preocupa toda a sociedade e exige um entendimento maior do que está acontecendo e de como enfrentar a situação. A capital alagoana é projeto piloto do Plano Brasil Mais Seguro, do Governo Federal, justamente por ter revelado índices assustadores com relação a taxa de homicídios, ocupando o topo do ranking de cidades mais violentas do mundo. Para os profissionais da área de saúde, esse é um problema que atingiu graves proporções levando-se em conta os limites de atendimento às vítimas. 

Para descrever o perfil das vítimas de armas de fogo, que morreram em função dos ferimentos, a pesquisadora Ruth Trindade Cizino fez um estudo que é base para sua tese de pós-doutorado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, unidade da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa conta com a parceria da professora Claudia Benedita dos Santos, da USP. Os dados coletados são de 2012, em Maceió. "As variáveis estudadas em relação ao óbito foram taxa de mortalidade, local e circunstância em relação às vítimas, sexo, idade e estado civil e em relação à agressão, local, dia, hora e mês", relacionaram as pesquisadoras. 

Segundo Ruth Cizino, o maior número de mortes por causas violentas na capital alagoana ainda é causado por acidentes, mas os homicídios por arma de fogo tem provocado muitos óbitos. "Mais de 90% dos casos de agressão em Maceió tem como instrumento uma arma de fogo. A letalidade desse tipo de arma é muito alta. Qualquer conflito, com um arma de fogo na mão, pode acabar em homicídio. Em 70% dos casos, a vítima morre no local, não há tempo para levá-la para uma unidade de urgência e emergência", ressalta Ruth Trindade. 

Pelos dados levantados na pesquisa, a taxa de mortalidade por homicídios em Maceió foi de 65,2 por 100 mil habitantes. A maior parte das vítimas fatais são homens, representando 93,6% dos casos. Os mais jovens são mais atingidos. Os homicídios acontecem principalmente em via pública, nos finais de semana. Um dado que preocupa é que  24 bairros de Maceió apresentaram taxa de mortalidade por homicídio superior a 50 óbitos para cada 100 mil habitantes. "O mapa da violência apresentado mostra regiões heterogêneas para a ocorrência de homicídios no município, caracterizando a desigualdade urbana existente na distribuição da violência", alerta o estudo. 

As conclusões do estudo estão sendo apresentadas em artigos para revistas científicas na área de saúde. A tese de pós-doutorado da professora Ruth Trindade deve ser concluída no próximo ano e então será disponibilizada para consulta. "É a nossa contribuição para refletir sobre essa grave situação de atentado à saúde pública. A Ufal como um todo está procurando contribuir com ações que visem a diminuição da violência. A alta taxa de homicídios indica uma banalização do homicídio, que é utilizado para resolver conflitos. Precisamos fortalecer valores de civilidade e respeito à vida", alerta a pesquisadora.