Agrônomo testa mistura feita com plantas para o controle de pulgões

A praga de pulgões é uma das mais nocivas para a produção de hortaliças mas precisa ser combatida sem uso de agrotóxicos


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O Pulgão Verde é um dos insetos mais resistentes aos inseticidas
O Pulgão Verde é um dos insetos mais resistentes aos inseticidas

Lenilda Luna - jornalista

Adriano Jorge Nunes dos Santos é agrônomo formado pela Universidade Federal de Alagoas em 2006. Durante a pesquisa para a dissertação do Mestrado em Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Ufal, ele se debruçou sobre uma questão que tem sido motivo de preocupação e debate no mundo inteiro: como garantir uma produção agrícola capaz de alimentar uma população crescente, mas sem causar impactos ambientais negativos e sem utilizar defensivos agrícolas que causam prejuízo à saúde do consumidor?

Quando se trata da produção de verduras e hortaliças, que são consumidas cruas, a preocupação aumenta. Pesquisas científicas comprovaram que muito do que vai para a mesa das famílias, ao invés de alimentá-las, estava provocando doenças graves por conta dos resíduos de agrotóxicos utilizados em larga escala. Na dissertação de mestrado, Adriano cita vários cientistas que falam desse drama. "Manter a produtividade agrícola e ao mesmo tempo melhorar a qualidade biológica e a sanidade dos alimentos é o grande desafio da agricultura", ressalta o pesquisador citando Aguiar Menezes.

A partir da década de 1990, principalmente durante a preparação para a ECO 92, o debate sobre uma produção agrícola sustentável saiu dois círculos científicos para mobilizar associações de pequenos produtores, movimentos sociais e sindicais. Também cresce a consciência dos consumidores em, além de buscar preço justo, exigir uma produção agrícola ecologicamente correta. Por toda parte, surgiram grupos de agricultura alternativa buscando descobrir formas de cultivar e proteger a plantação de pragas sem utilizar substâncias perigosas à saúde da população.

Em sua pesquisa, realizada em 2010, sob a orientação da professora  Sônia Maria Forti Broglio, Adriano Jorge acompanhou a produção de hortaliças no agreste alagoano. "Observando-se  o  cenário  de  mudanças  na  agricultura  e  na  demanda  de  mercado  por produtos  livres  de  agrotóxicos, um  grupo  de  produtores  de  hortaliças  do  município  de Arapiraca,  Alagoas,  a  partir  do  incentivo  do  Sebrae  e  apoio  da  organização  não governamental Movimento Minha Terra e Prefeitura Municipal de Arapiraca, iniciou em 2003 um processo de organização social e produtiva, visando ofertar para o mercado local, produtos olerícolas  produzidos  conforme  os  princípios  da  agricultura  orgânica  e  agroecológica,  com selo de certificação", informa o pesquisador na dissertação.

De acordo com dados apresentados na pesquisa, fornecidos pelo Arranjo Produtivo Local Horticultura no Agreste,  em 2008, aproximadamente  800  produtores  de  hortaliças  folhosas abraçaram a proposta de cultivar sem utilizar agrotóxicos, produzindo principalmente alface,  coentro  e  cebolinha. Destaca-se a Cooperativa Terragreste, que conquistou o selo de produto orgânico emitido pela Ecocert  Brasil. Adriano Jorge ressaltou a importância dessa mudança de postura dos agricultores, principalmente numa região que produz principalmente folhas de fumo, onde a aplicação de agrotóxicos é acentuada.

Mas, abandonar os defensivos químicos não é tão simples. Problemas  relacionados  ao  ataque  de  pragas  nos cultivos  de hortaliças são frequentes todos os anos em diversas culturas, e para o enfrentamento destes, os produtores adotam além dos procedimentos e técnicas adquiridos, receitas elaboradas a partir de relatos populares, muitas delas sem validação científica", ressalta o pesquisador.

Por isso, o trabalho realizado por ele teve como objetivo avaliar os efeitos de um extrato de plantas no controle dos pulgões, uma praga muito frequente em lavouras de hortaliças e muito prejudicial. "Um único indivíduo na  cultura,  é  motivo  de controle  imediato,  devido  aos  prejuízos  diretos  causados  pela  sucção  da  seiva  das  plantas, causando murchamento e redução da taxa de crescimento e causar prejuízos indiretos devido à transmissão  de  doenças,  pois  atua  como  vetor  de  mais  de  120  enfermidades  nas  plantas", informa a pesquisa, e destaca ainda que este inseto apresenta resistência a pelo menos três tipos de inseticidas químicos.

A mistura proposta pelo pesquisador para o combate dos pulgões inclui:  folhas e óleo de  nim, folhas e rama de melão-de-são-caetano, frutos  de  pimenta-malagueta, sementes  de  pimenta-do-reino e água. Na dissertação, estão relatados os nomes científicos das plantas, a quantidade de cada elemento no composto e o método utilizado na aplicação em plantações de brócolis. O  trabalho  foi  desenvolvido  em  duas  etapas,  considerando-se  o desenvolvimento vegetativo  da  planta:  a  primeira  no  estágio de formação  das  primeiras  folhas  e a segunda na fase de floração.

O resultado do experimento comprovou que a eficiência dos extratos naturais ainda é baixa, mas é promissora. A aplicação precisa ser feita preventivamente ou nos estágios iniciais de infestação. Diante da necessidade de descobrir compostos orgânicos capazes de eliminar as pragas sem usar substâncias que deixar resíduos tóxicos, o pesquisador ressalta a necessidade de continuar o trabalho. "São necessários estudos em laboratório e campo testando a frequência de aplicação,  diferentes  métodos  de  extração  dos  compostos  ativos,  e  até  mesmo  uma  maior concentração,  para  tentar  potencializar  seus  efeitos,  e,  assim,  recomendar  sua  possível utilização em pequenas áreas", concluiu o pesquisador.

A dissertação de Mestrado de Adriano Jorge Nunes dos Santos foi defendida em fevereiro de 2011, no Ceca. Atualmente, Adriano está fazendo doutorado em Agronomia, na Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, com o título "Manejo de plantas espontâneas e sua influência na diversidade de inimigos naturais e população de insetos-praga em cultivo orgânico de hortaliças", sob a orientação do professor Luís Cláudio Paterno Silveira.