Caramujo africano pode ser consumido e usado para produção de medicamentos

Pesquisador Maurício Aquino garante que o molusco é rico em proteínas; além de fonte de alimentação, também tem algumas propriedades farmacológicas


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"Comer caramujo africano é a única forma de controlar sua proliferação", afirmou Maurício Aquino
"Comer caramujo africano é a única forma de controlar sua proliferação", afirmou Maurício Aquino

Lenilda Luna - jornalista

No início deste ano, a população de Rio Largo-AL ficou alarmada com a invasão de caramujos africanos na cidade, que faz parte da grande Maceió. O medo foi gerado por conta de informações de que esse tipo de molusco, originário da África, pode transmitir doenças graves, como a Meningite. No entanto, o veterinário Maurício Carneiro de Aquino, mestrando em Ciência da Saúde pela Universidade Federal de Alagoas, contesta essa teoria e defende o caramujo, tanto para alimentação como para produção e medicamentos.

De acordo com Maurício Aquino, qualquer carne crua de animal pode transmitir doenças, por isso, é recomendação geral cozinhar bem o alimento antes de consumi-lo. “A carne de porco, por exemplo, transmite uma doença chamada cisticercose, que mata aproximadamente cem pessoas por ano no país. O caracol africano, desde que chegou aqui há 24 anos, não foi responsável pela transmissão de doença e não foi registrado nenhum óbito relacionado ao consumo do achatina fulica", afirmou o veterinário.

Segundo Aquino, a doença mais comumente associada ao caramujo africano é a Meningite Eosinofílica. "Na verdade, no Brasil foram registrados apenas seis casos dessa doença e nenhum deles foi transmitido pelo caramujo. O que existe é uma tendência alarmista dos pesquisadores que acabou levando à proibição de criar o molusco, em 2003. Por conta disso, alguns criadores se revoltaram e soltaram os animais no meio ambiente, onde eles se proliferaram", destacou o pesquisador.

Estudos sobre o caramujo africano

A dissertação de mestrado de Maurício Aquino é justamente sobre a utilização do caramujo africano para a produção de medicamentos. Ele defende que, além de fonte de alimentação, o molusco também tem algumas propriedades farmacológicas. São essas possibilidades de uso que ele analisa, sob orientação da professora Marília Goulart, doutora em Química, com pós-doutorado na Alemanha e na Inglaterra.

De acordo com o pesquisador, o muco produzido pelo caramujo pode ter propriedades medicinais importantes. "Já tem estudos no Brasil revelando que a secreção produzida pelo caramujo para se proteger e manter a pele úmida, também tem potencial cicatrizante. Essa é a linha de pesquisa que estou desenvolvendo na Ufal, testando a possibilidade de uso do muco para estimular a regeneração de vários tipos de tecidos", explicou Aquino.

Para saber mais sobre as pesquisas desenvolvidas pelo veterinário e mestrando em Ciências da Saúde, consulte clique aqui.

Consumir é a solução

O caramujo africano foi introduzido no Brasil para ser uma alternativa mais barata ao escargot francês. No início, a criação foi incentivada, com o surgimento de associações de Helicicultores em todo o país. Aquino, inclusive, presidiu a primeira delas, no Rio de Janeiro. Para ele, agora que o molusco se espalhou, só há uma forma eficiente de acabar com a superpopulação de caramujos que incomodam moradores de várias cidades brasileiras: consumi-lo.

O veterinário garante que a carne do caramujo é tão rica em proteínas quanto qualquer outra consumida pelas famílias brasileiras, com a vantagem de ser muito mais barata. Ele afirma também que para evitar a contaminação por doenças, basta cozinhar bem.

A resistência ao consumo de molusco, de acordo com o veterinário, é apenas uma questão cultural. "Não sei a quem interessa diretamente o combate do caramujo, mas só imagino a quantidade de recursos distribuída de norte ao sul do Brasil para esta tentativa frustrada de erradicá-lo. Só o que podemos fazer é controlar a quantidade de animais. O único país que vem conseguindo isso é a China, através da coleta para o consumo humano. Tudo é questão de costume. Eu tenho preparado esses invasores para consumo próprio sempre que os encontro e aprecio muito", ressaltou o pesquisador.